A presidente do IGCP, Cristina Casalinho, considera que a emissão de 5.500 milhões de euros em dívida de longo prazo foi “muito positiva”, destacando que há “uma melhoria progressiva da qualidade dos investidores” com interesse na dívida pública portuguesa.
Na terça-feira, Portugal colocou no mercado 3.500 milhões em dívida a 10 anos e dois milhões em títulos a 30 anos, tendo sido colocados no mercado 5.500 milhões de euros ao todo através de uma operação sindicada. As taxas de cupão foram de 2,875% para os títulos a 10 anos e de 4,1% no caso das obrigações a 30 anos.
Em entrevista à Lusa, a presidente da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP), Cristina Casalinho, afirmou que foi uma operação “muito positiva”, com “um montante muito significativo” e com uma “grande variedade de investidores quer em termos de tipo quer em termos de geografia”, destacando os investidores da Alemanha e as seguradoras.
“Nota-se que há uma progressão. [Olhando para] todas as emissões que têm vindo a ser realizadas desde janeiro de 2013, há uma melhoria progressiva da qualidade dos investidores e uma tendência para a normalização. Progressivamente, voltamos a atrair um tipo de investidores que era a base fundamental de investidores no passado. Não estou a dizer que já lá estejamos, mas há uma tendência regular e consistente nesse sentido”, disse a economista.
Cristina Casalinho destacou que o facto de terem sido registadas “cerca de 300 contas em cada uma das emissões” significa que Portugal “não está dependente de um número pequeno [de investidores] e [que] consegue atrair uma variedade muito significativa [de interessados]”, considerando que esta é uma das lições que se pode tirar desta crise.
“Uma coisa que se aprendeu na crise é que não se pode depender de um tipo de produto ou de uma linha especificamente nem de um tipo muito particular de investidores”, afirmou a presidente do Tesouro português, recordando as palavras da sua homóloga belga, segundo a qual é importante “ter uma gaveta muito grande de produtos e de investidores para utilizar de acordo com as necessidades”.
Questionada sobre se pretende realizar mais emissões sindicadas de longo prazo, Cristina Casalinho referiu-se ao programa de financiamento de 2015 para explicar que o IGCP “vai privilegiar sempre uma combinação de sindicatos e de leilões, conjugando previsibilidade com flexibilidade”, acrescentando, no entanto, que o foco será a emissão através de leilões de Obrigações do Tesouro (OT).
“Portugal é um emitente pequeno na dimensão europeia. Há uma curva das OT, que é aquela que privilegiamos e é aquela a que pretendemos dar liquidez e em que queremos ser mais regulares”, afirmou, acrescentando que “a forma mais tradicional de conseguir liquidez é através de leilões”.
Reconhecendo que o recurso aos sindicatos bancários para realizar emissões de dívida é “uma forma que os investidores gostam muito porque têm mais controlo sobre o resultado final”, Cristina Casalinho afirmou que ir ao mercado através de sindicatos “é um processo mais pesado e mais caro”.
“Leilões vamos de certeza fazer, sindicato depende”, argumentou a presidente do IGCP, acrescentando que “ainda é cedo” para dizer quando é que Portugal deverá regressar ao mercado.
No programa de financiamento para 2015, o IGCP assume que a estratégia vai centrar-se na “emissão de títulos de dívida pública nos mercados financeiros em euros com realização regular de leilões de OT” e explicita que “um montante entre os 12 a 14 mil milhões de euros será obtido via emissão bruta de OT, combinando sindicatos e leilões”.