Uma da manhã. Num bar do Cais do Sodré, Bica ou Santos, em Lisboa, um cliente pede uma imperial e decide vir para a rua bebê-la. E vem. Mas a câmara não tinha proibido a venda de álcool para a rua a partir da 1h? Sim, tinha, mas isso não se aplica se o bar tiver esplanada.
O esclarecimento é dado pelo vereador responsável pelas novas regras ao Observador – na sequência de dúvidas levantadas por empresários da noite – e promete ter impacto, sobretudo na Rua Nova do Carvalho, a rua cor-de-rosa, onde há diversos espaços noturnos com esplanada, além de uma dezena de bares aos quais as novas restrições de horário não se aplicam. Ou seja, pouco ou nada vai mudar na mais movimentada, e famosa, rua do Cais.
Na passada sexta-feira entrou em vigor um despacho da Câmara Municipal de Lisboa que proíbe a venda de álcool para a rua a partir da 1h. Em protesto, um conjunto de espaços noturnos associados ao movimento Lisboa Com Vida teve, nessa noite, modelos a assinalar “fora de jogo” sempre que um cliente tentava sair com bebidas. Mas a dúvida permanecia: onde era o “fora de jogo”?
Esclarecida essa questão, os donos dos pequenos bares do Cais do Sodré e da Bica dizem estar ainda confusos com as novas regras, sobretudo no que diz respeito a como tratar os clientes e como impedi-los de consumirem álcool na rua depois da 1h. O vereador da Higiene Urbana, Duarte Cordeiro, desdramatiza e fala num processo de adaptação progressiva, que, previsivelmente, se arrastará pelas próximas semanas.
“Como é que devemos proceder se tivermos clientes do bar a consumir quando chegam as 3h?”, pergunta Miguel Gonçalves, dono da Mercearia Tosca, na Rua Nova do Carvalho, e um dos porta-vozes do movimento Lisboa Com Vida. Os clientes têm de ser “convidados a sair com um copo de plástico?” Se assim fizerem, os empresários podem incorrer em penalizações. De acordo com as novas regras, é aos bares que compete impedir os clientes de beber na rua, alertando-os para a existência da proibição. Só que os comerciantes estão contra isso e Miguel Gonçalves considera mesmo que tal é “uma aberração”.
Além da proibição relativa ao álcool, aquele estabelecimento, bem como os 12 que o Lisboa Com Vida representa, passaram a ter de fechar às 3h aos fins de semana e às 2h durante a semana, uma medida que afeta especialmente os espaços mais pequenos – sem espaço de dança – e que deixa os empresários preocupados em relação ao futuro. “Não é viável, é impensável”, afirma o empresário, para quem estas regras “não beneficiam ninguém”: nem comerciantes, nem fornecedores, nem moradores.
Passado o primeiro fim de semana de restrições, comerciantes e autarquia preferem remeter para mais tarde um balanço do real impacto das medidas. Segundo Miguel Gonçalves, entre o Cais do Sodré, Bica e Santos, quase uma centena de bares poderá vir a fechar nos próximos meses. Por seu turno, Duarte Cordeiro salienta a importância de uma “fiscalização inteligente”, isto é, levar a Polícia Municipal e os proprietários a colaborarem no sentido de as medidas serem eficazes na diminuição do ruído e do lixo acumulado nas ruas.