Dizia Woody Allen: “O sexo sem amor é uma experiência sem sentido, mas enquanto experiência sem sentido é das melhores”. Considerando a estreia próxima (na quinta-feira) de “As Cinquenta Sombras de Grey”, seleccionámos, de entre centenas e centenas, doze destacadas sequências de sexo da história do cinema – porque seria preciso abrir uma secção especial no para lá pormos todas aquelas dignas de registo.
Inevitavelmente, esta escolha anda entre o consensual (a cena entre Marlon Brando e Maria Schneider em O Último Tango em Paris, de Bernardo Bertolucci, por exemplo, constaria em qualquer lista sobre este tema) e o muito subjectivo. Mas com ou sem amor, com ou sem sentido, todas estas cenas de sexo cinematográfico são memoráveis. (E para um público adulto.)
1. “Os Amantes”, de Louis Malle (1958)
François Truffaut disse que a elegantemente elíptica cena de sexo entre a adúltera Jeanne Moreau e o seu amante Jean-Marc Bory foi “a primeira noite de amor do cinema”. Em França, vários organismos católicos tentaram que este filme de Louis Malle não pudesse concorrer ao Festival de Veneza (onde ganhou o Prémio Especial do Júri). Nos EUA, a fita, acusada de ser pornográfica, deu origem a um julgamento que acabaria por pôr em questão a definição jurídica de obscenidade naquele país. Hoje, é perfeitamente inocente.
2. “O Último Tango em Paris”, de Bernardo Bertolucci (1972)
Bernardo Bertolucci nunca escondeu que baseou este filme nas suas fantasias sexuais de encontrar mulheres desconhecidas nas ruas e ter relações carnais com elas sem sequer lhes perguntar o nome. A fita deu muito escândalo, nomeadamente pela crueza da sequência de sodomia com recurso a manteiga e pela grande diferença de idades entre Marlon Brando e Maria Schneider. Esta, muito mais tarde, afirmaria que “O Último Tango em Paris” lhe tinha “arruinado a vida” e que tinha sido “usada” pelo realizador.
3. “Aquele Inverno em Veneza”, de Nicolas Roeg (1973)
Quem diria que um filme de terror poderia apresentar uma das mais explícitas cenas de sexo do cinema “mainstream”, entre o casal interpretado por Julie Christie e Donald Sutherland? Estreada em Portugal após o 25 de Abril, a fita de Nicolas Roeg foi publicitada como tendo “a mais longa cena de sexo da história do cinema”. Sem referir o seu carácter dramático, porque as personagens tentam fugir à dor e à angústia acumuladas pela morte da filha, nem a montagem paralela do casal a vestir-se após ter feito amor.
4. “Emmanuelle”, de Just Jaeckin (1974)
Promovido entre nós, à altura da estreia, como “A mais longa carícia do cinema francês”, este filme de Just Jaeckin contém várias cenas que entraram para a história do erotismo no cinema, sendo a mais emblemática aquela em que, à noite, num voo de longo curso, Sylvia Kristel começa a masturbar-se enquanto todos os passageiros dormem, e depois faz amor com um deles. Alegadamente, nos meses após a estreia do filme, a Air France terá registado várias situações semelhantes em vários dos seus voos intercontinentais.
5. “O Império dos Sentidos”, de Nagisa Oshima (1976)
Baseado num facto real ocorrido no Japão nos anos 30, este filme de Nagisa Oshima é um dos mais banidos e censurados em todo o mundo, por ter várias cenas de sexo não-simulado e planos de órgãos sexuais, bem como uma impressionante cena de castração final. Oshima defendeu-se da barragem de acusações que lhe foram feitas afirmando que quis explorar o lado mórbido e obcecado com a morte da tradição erótica no Japão. Um caso raro de um filme fundamental como um todo na representação do sexo no cinema.
6. “Vícios Privados, Públicas Virtudes”, de Miklós Jancsó (1976)
Famoso pelos seus filmes onde a celebração do socialismo de massas anda de mãos dadas com a nudez integral em grupo e o sexo, o jugoslavo Miklós Jancsó esmerou-se aqui nas orgias onde frisa a “decadência” da nobreza, mas também numa elaborada cena íntima entre o aristocrata dissoluto e a amante. O filme é uma interpretação muito livre do chamado “Incidente de Mayerling”, que em Janeiro de 1899 provocou a morte do arquiduque Rodolfo da Áustria e da sua amante, a baronesa Maria Vetsera.
7. “O Último Fôlego”, de Jim McBride (1983)
A francesa Valérie Kaprisky foi um dos grandes símbolos sexuais da década de 80, e este foi um dos vários filmes que a impôs como tal, um “remake” informal, “cool” e californiano de “O Acossado”, de Jean-Luc Godard, e no qual contracena com um Richard Gere que estava em ascensão fulgurante. O casal tem várias cenas que rebentam com o mercúrio do termómetro que mede a sensualidade na tela, uma delas numa piscina e outra, a mais memorável, que começa na cama e acaba no chuveiro.
8. “A Mulher Pública”, de Andrzej Zulawski (1984)
E cá temos Valérie Kaprisky mais uma vez, agora no papel de uma actriz inexperiente que é manipulada por um realizador inescrupuloso. O enredo do filme pouco mais é do que um cabide para Zulawski exibir a nudez de Kapriski e envolvê-la em várias sequências de sexo filmadas na fronteira com o explícito, o que transformou “A Mulher Pública” num dos grandes filmes eróticos “de autor” dos anos 80 e chegou a valer uma nomeação ao César de Melhor Actriz para Kaprisky.
9. “Betty Blue, 37 Graus, Duas da Manhã”, de Jean-Jacques Beineix (1986)
Esta terceira longa-metragem de Jean-Jacques Beineix lançou Béatrice Dalle e conta a história da apaixonada mas também agitada relação entre a personagem desta, Betty, e do seu amante Zorg (Jean-Hughes Anglade). Apesar da intensidade com que pinta a história de amor do casal, o realizador filma a mais longa cena de sexo do filme num plácido plano contínuo, sem recorrer a malabarismos de montagem, efeitos de fotografia nem lançar mão de qualquer tipo de música.
10. “Ligações Selvagens”, de John McNaughton (1998)
Este “thriller” com Matt Dillon, Kevin Bacon e Bill Murray inclui uma celebrada cena lésbica numa piscina entre Denise Richards e Neve Campbell, à altura a vedeta de uma série de televisão muito popular nos EUA, “Party of Five”, apontada às famílias da classe média. Richards interpreta uma menina rica e privilegiada e Campbell uma proletária que vive numa caravana, e além do seu impacto erótico, a cena tem ainda uma carga voyeuristica, pois está a ser filmada pela personagem de Bacon, posto na posição do espectador.
11. “Mulholland Drive”, de David Lynch (2001)
Quando “Mulholand Drive” passou em competição no Festival de Cannes, não foi só o seu enredo enigmático, obscuro, densamente onírico e aberto às mais variadas interpretações que deu pano para mangas de conversa até ao final do certame. Foi também a inesperada e suavíssima cena lésbica entre Naomi Watts e Laura Harring. Além de um interlúdio numa narrativa crescentemente laboriosa e intrigante, Lynch usa também a cena para, por uma vez, concretizar a atmosfera erótica que paira sobre todo o filme.
12. “Team America: Polícia Mundial”, de Trey Parker (2004)
Esta cena não será consensual, mas é sem dúvida uma das mais originais, transgressoras e hilariantes do género, uma paródia com marionetas animadas imagem a imagem às cenas semelhantes com actores de carne e osso que encontramos nos “blockbusters” de acção, de que “Team America: Polícia Mundial” é também uma devastadora paródia. Trey Parker e Matt Stone (criadores do iconoclasta “South Park”) tiveram que lhe dar uns cortes para que o filme não fosse classificado “Para Adultos”, mas está na íntegra no YouTube.