O Viagra foi posto à venda em 1998 e concretizou a promessa de resolver (ou ajudar a resolver) os problemas de disfunção erétil nos homens de meia-idade. Em simultâneo, cientistas e empresas farmacêuticas têm procurado uma fórmula para o correspondente feminino — a diminuição do desejo sexual particularmente associada à fase pré-menopausa.

A Sprout Pharmaceuticals anunciou uma nova submissão à FDA (Food and Drug Administration, a entidade governamental norte-americana que regula os medicamentos, cosméticos e alimentos) de uma droga chamada flibanserina, um medicamento não hormonal para toma diária destinado a contrariar a falta de desejo sexual feminino. Não é a primeira vez que a Sprout Pharmaceuticals propõe a flibanserina à FDA, mas tem sido recusado devido à falta de prova de eficácia e efeitos secundários, nomeadamente sonolência, fadiga, tonturas e náuseas.

Importa esclarecer que a expressão “Viagra para mulheres” refere-se ao efeito (estimulação sexual) e não ao princípio ativo do medicamento. Enquanto a sildenafila (princípio ativo do Viagra) tem um efeito vasodilatador, “a falta de desejo sexual nas mulheres no período que antecede a menopausa é explicado por alterações nos neurotransmissores”, de acordo com Stephen Stahl, professor adjunto de psiquiatria da Universidade da Califórnia. A flibanserina permite a regulação desses processos.

O Viagra teve uma consequência social importante, ao transformar a forma como os homens (e os casais) encararam a sexualidade, adiando prazos fisiológicos por um lado, resolvendo problemas de saúde, por outro. A indústria farmacêutica está a manipular os efeitos dos ciclos naturais (andropausa e a menopausa) mas o desequilíbrio entre a resposta a homens e mulheres é grande. O movimento Even The Score sublinha a desigualdade e exige mais investimento no desenvolvimento de terapias para mulheres.

Este grupo já reuniu mais de duas dezenas de milhares de assinaturas numa petição online que pressiona a FDA a libertar este (e outros) medicamento para o mercado. No manifesto pode ler-se que “há 26 tratamentos [para a disfunção sexual] disponíveis para homens e nenhum para mulheres”. E sublinha: “Quando nos concentramos na mulher, toda a família beneficia”.

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