A pergunta apareceu nas redes sociais: afinal, o vestido é azul e preto ou branco e dourado? Ao contrário do que seria previsível, a simples cor de um vestido dividia a opinião de um grupo de amigas, que decidiram pediam ajuda à comunidade online. Rapidamente a dúvida espalhou-se entre os utilizadores das redes sociais, chegando aos sites de informação mais prestigiados do mundo, mas os especialistas não parecem ter muitas dúvidas quanto ao assunto. E a marca que o vende também não.

A mulher que lançou a dúvida na internet, justificava o fenómeno ‘cientificamente’: a maneira como vemos as cores é influenciada pela nossa disposição. Se estamos mais pessimistas ou preocupados, é mais provável que vejamos o vestido a azul e preto. Se estamos bem-dispostos, então surgem logo as cores branco e dourado. De acordo com uma sondagem feita pelo Buzzfeed, 74% das pessoas vê as cores branco e dourado.

Mas os oftalmologistas têm outra opinião. Andy Redford, um oftalmologista que entrou na discussão, explicou na conta do Twitter que há uma relação entre a retina e a visualização da cor, que faz com que pessoas diferentes possam ter perceções diferentes de uma cor de um dado objeto. O Observador também pediu a António Travassos, oftalmologista no Centro Cirúrgico de Coimbra para explicar a situação. “A visão cromática [a cores] é da responsabilidade dos cones”, disse, células capazes de detetar as cores azul, verde e vermelho. “Estes recetores [cones] são impressionados [estimulados] por diferentes comprimentos de onda.” Quando vemos cores diferentes de azul, verde ou vermelho, resulta de uma combinação de dois ou três grupos de cones.

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https://twitter.com/andyrexford/status/571118728164872192

Se duas pessoas estão no mesmo momento a olhar para o mesmo objeto e não o vêm da mesma cor podemos estar na presença de uma patologia, explica António Travassos. “Se a densidade e a qualidade das células [cones] estiver comprometida a perceção da cor pode ficar deturpada.” Da mesma forma, um problema no nervo ótico pode levar a uma perceção de uma des-saturação do vermelho e as patologias cerebrais também podem condicionar a perceção da cor.

O site meucerebro.com acrescenta na explicação: quem vê o vestido azul e preto tem cones que funcionam melhor com pouca luz do que quem vê branco e dourado. “Se vê o vestido ora branco e dourado, ora azul e preto, ou uma combinação dos dois, os seus olhos são de ‘nível médio’ e podem mudar devido à luminosidade do ambiente em que se encontram ou em virtude da maneira como está inclinada a tela do seu computador, telefone ou tablet.”

Para cada fotografia o tipo de luz, a intensidade e o ângulo de incidência vão condicionar a imagem e as cores, porque a máquina fotográfica não se adapta à quantidade de luz como o nosso olho. Qualquer fotografia é manipulável de tal modo que uma investigação na Universidade de Harvard mostrou que a mesma fotografia de um rosto tanto poderia parecer um homem como uma mulher, consoante o contraste que lhe era aplicado, contou ao Observador António Travassos.

E tal como noutras ilusões de ótica o referencial pode mudar a nossa perceção. Neste caso o referencial pode ser o fundo da imagem.

Se quer ver o mesmo vestido azul e preto ou branco e dourado é fácil. Experimente colocar a fotografia num programa de edição de imagem e brinque com saturação e contraste, além de azul ou branco, também vai poder vê-lo verde ou roxo. Mas se mesmo assim ainda está na dúvida se é branco, branco azulado, branco acinzentado ou azul claro, nada melhor do que usar um pantone.

Com ou sem explicação científica o tema está a dominar as redes sociais e ninguém quer ficar de fora.