A série “House of Cards” está de regresso e com ela um dos anti-heróis mais aclamados pela crítica nos últimos anos: o imprevisível, calculista e manipulador Frank Underwood, representado pelo não menos aclamado Kevin Spacey. Para marcar o regresso do fenómeno que colou o próprio Presidente Barack Obama ao pequeno ecrã, o ator de “Beleza Americana” deu uma entrevista ao El Mundo onde fala da trama, mas também de política real, mais precisamente da relação tensa entre Estados Unidos e Rússia, que na terceira temporada de “House of Cards” vai ser um dos desafios que Underwood terá de enfrentar.

Se a primeira temporada de House of Cards gira em torno do início da vendetta de Frank Underwood contra o Presidente Garrett Walker, que não cumpriu a promessa de o eleger secretário de Estado norte-americano, a segunda temporada foca-se na cruzada de Frank Underwood contra os lobbies instalados, que lhe tentam frustrar planos para se sentar na cadeira mais poderosa do mundo. Em ambas, vemos a personagem interpretada por Kevin Spacey a manipular tudo e todos na sombra. Menos uma pessoa: o telespetador, a quem o “animal político” vai explicando os movimentos das peças no complexo tabuleiro político norte-americano.

De vitória em vitória, embora muitas vezes surpreendido com acontecimentos inesperados, Frank Underwood alcança o tão ambicionado troféu: tornar-se Presidente dos Estados Unidos da América. E será em torno de Underwood já com a veste de líder do “mundo livre” que se vai desenrolar a terceira temporada de “House of Cards”.

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Kevin Spacey, em entrevista ao jornal espanhol, apesar de se escusar a revelar detalhes importantes sobre “House of Cards”, levantou ligeiramente o véu. “Acredito que vai ser muito interessante para os telespetadores, como foi, desde logo para mim (…) Frank já não vai estar nas sombras, tem de operar debaixo dos focos. Dizem que ele é uma personagem muito inteligente e que tem sido extremamente fácil chegar onde ele chegou, mas não vejo isso dessa forma; não foram temporadas fáceis para Frank”, sublinhou, como que dizendo que a terceira temporada não vai ser um mar de rosas para o agora Presidente dos Estados Unidos (na ficção, claro).

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Desde logo, pela relação que se avizinha tensa com o Presidente russo Victor Petrov (Lars Mikkelsen), cujas iniciais, curiosamente ou não, são as mesmas de Vladimir Putin. E as semelhanças não se esgotam apenas no nome: além das parecenças físicas óbvias, também Vitctor Petrov é um ex-agente do KGB com pouca paciência para quem ousa opor-se-lhe. Num dos momentos mais dramáticos da próxima temporada, duas ativistas das Pussy Riots serão presas por protestaram contra Petrov.

O Presidente norte-americano, admirador confesso da série, já pediu para não lhe contarem nada

Da pequena tela para a realidade, o que pensa Kevin Spacey sobre a difícil relação entre o Kremlin e a oposição? “Temos visto que as pessoas de diferentes países participam para fazerem ouvir as suas vozes e muitas vezes as suas vozes são caladas… todos os cidadãos em todos os lugares do mundo deveriam ter o direito a manifestarem-se”, defendeu Spacey.

Voltando a Frank Underwood, o ator garante que “não recebeu conselhos de nenhum político” para construir a personagem, um homem que busca o poder sem olhar a meios e deixando atrás de si um rasto de sangue e inimigos vários. Um homem cujo lema se tornou a bandeira da série: “Para aqueles como nós que estão a escalar até ao topo da cadeia alimentar, não pode haver misericórdia. Há apenas uma regra: Caça ou és caçado”.

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“Caça ou és caçado”, Frank Underwood

Talvez por isso, Kevin Spacey considere a personagem de Frank Underwood como uma “das mais complexas” que já interpretou. Uma personagem que o continua a surpreender todos os dias: “Não sei nada sobre ele [Frank]; cada dia que vou trabalhar descubro algo de novo”.

Quem segue “House of Cards” vê em Frank Underwood uma personagem, no mínimo, controversa. Mas, para Kevin Spacey, é aí que reside o especial fascínio da personagem a que dá vida – a enorme área cinzenta entre o bem e o mal onde Frank joga o jogo do poder.

Kevin Spacey, que conta já no currículo com várias personagens perversas, garante que não aprendeu nada com o “lado obscuro” do ser humano, mas sim sobre o “comportamento humano” na sua enorme complexidade. “Há pessoas que fazem coisas incrivelmente generosas, outras que fazem coisas egoístas, terríveis. “Eu não julgo as personagens; apenas as interpreto“.