Transformou a forma como o mundo consome café, mas hoje, confessa, “sente-se mal” com as consequências que a inovação pode estar a ter no ambiente. John Sylvan é o homem que criou as cápsulas K-Cup, semelhantes àquelas que George Clooney utiliza ao verbalizar o mítico slogan “Nespresso. What else?”, mas, em casa, nem sequer as utiliza.
Certo é que a invenção de Sylvan fez com que a Keurig Greeb Mountain – a empresa que lançou juntamente com Peter Dragone – se tornasse num gigante mundial, com receitas na ordem dos 4,7 mil milhões de dólares (4,2 mil milhões de euros), em 2014, conta o The Independent.
A polémica em torno das K-Cup está, na verdade, acesa, depois de ter sido lançada a campanha “Kill the K-Cup”, que acusa a Keurig Greeb Mountain de ter produzido cápsulas suficientes em 2014 para dar a volta à Terra 10,5 vezes anualmente. O vídeo que ilustra a campanha mostra o planeta a ser invadido por um monstro de cápsulas e termina com o aviso “Matem o K-Cup, antes que ele mate o nosso planeta”.
Em 1995, John Sylvan teve de ser hospitalizado com palpitações no coração. A culpa foi dos 40 cafés que testava por dia para conseguir encontrar a “cápsula perfeita”. Dois anos depois, vendeu a parte que detinha na empresa e hoje partilha das mesmas preocupações ambientais que os promotores da campanha. À CBC disse que não entendia a popularidade das cápsulas, nem porque é que as pessoas têm máquinas destas em casa.
“Acho que são demasiado caras”, diz.
Em casa, conta, todas as noites faz o café tradicional, com filtro, e coloca-o numa garrafa térmica. Quando acorda, já está feito. À The Atlantic, o empreendedor avançou que “às vezes, se sente mal” por ter inventado as cápsulas.
A Keurig Green Mountain diz que variantes das cápsulas produzidas a partir de 2006 são totalmente recicláveis e que os objetivos passam por, em 2020, 100% da produção ser amiga do ambiente. Contudo, os ativistas avançam que as cápsulas mais recentes só podem ser recicladas se os consumidores separarem cada uma das partes.
Sobre o assunto, a Nespresso disse que as suas cápsulas eram feitas de alumínio e que eram, por isso, “infinitamente recicláveis”.
Em Portugal, já houve algumas iniciativas do género, que envolveram o Banco Alimentar e a Nespresso. A “Reciclar é Alimentar” recolhe cápsulas usadas da marca para reciclagem e aproveita as borras para integrá-las num composto agrícola, que fertiliza terrenos de arroz no Alentejo.
Em abril de 2014, a Deco Proteste também se debruçou sobre o assunto e fez as contas: se cada pessoa beber dois cafés por dia, em 350 dias, consome cerca de 700 cápsulas, o que pode chegar a 700 g de alumínio, 5,7 kg de plástico ou 4,2 kg de papel.
“Os resíduos de materiais gerados podem e devem ser transformados em novos produtos. As borras de café também têm solução: a extração e re-encaminhamento para valorização orgânica permitem obter um composto que pode ser usado como fertilizante agrícola”, lê-se.
Contudo, a associação explica que as cápsulas de café não são consideradas resíduos de embalagem por lei, mas que a quantidade de materiais pode ser aproveitada. Colocá-las no lixo está fora de questão e caso a marca (ou as lojas) das cápsulas não tenham locais específicos para depósito, a melhor solução é utilizar o ecoponto amarelo.