Uma equipa de super-heróis inspirados na Marvel, mas cujos poderes especiais refletem as 99 qualidades de Alá nomeadas no Corão. Em vez da velocidade, a generosidade. Em vez da capacidade de voar, a sabedoria. São estas características que ajudam as personagens de “The 99”, a banda desenhada criada por Naif Al-Mutawa, a lutarem contra Rughal, um vilão inspirado em Osama bin Laden, mas que poderia também ser o rosto visível do Estado Islâmico, como escreve o Independent.

Apesar de nada disto parecer nocivo (o próprio presidente dos EUA, Barack Obama, elogiou a “tolerância” de “The 99”), a banda desenhada de Al-Mutawa tem muitos opositores, mesmo no Ocidente. Os conservadores norte-americanos chamam-lhe terrorista e conseguiram mesmo impedir que uma adaptação cinematográfica da banda desenhada, feita pela mesma equipa responsável pelos filmes X-Man e Homem Aranha não fosse divulgada nos EUA.

Os islamitas árabes consideram Naif Al-Mutawa um herege, um “peão do Ocidente”. No Kuwait, o seu país natal, Al-Mutawa foi processado por heresia e aguarda julgamento. Se perder, será condenado a uma pena de prisão. No verão passado, surgiu uma hashtag no twitter contra o autor: whowillkillDrNaif. Ou, em português: quem vai matar o Dr. Naif?

 Naif Al-Mutawa, o criador da banda desenhada "The 99"

Naif Al-Mutawa, o criador da banda desenhada “The 99”

Naif Al-Mutawa cresceu afastado do Islão, por não gostar da visão a “preto e branco” que lhe chegava. Um encontro com um imã permitiu-lhe ver as sombras de cinzento e perceber que os princípios do Corão eram humanos e universais. E depois aconteceu o 11 de setembro, que pôs todo o mundo a questionar o Islão.

Depois da controvérsia dos cartoons dinamarqueses em 2005, Al-Mutawa decidiu que estava na altura de agir. “Comecei isto para satisfazer o meu lado criativo, mas também o meu lado muçulmano. As pessoas continuavam a dizer mal do Islão para criarem guerras. Quis usar os valores centrais da minha religião que, acredito, são valores humanos, e usá-los de forma criativa. Quis dizer ao mundo: ‘Isto é o Islão e não é muito diferente dos valores que vocês defendem'”, disse ao Independent.

Criar personagens para crianças foi uma parte determinante do seu projeto. Al-Mutawa queria impedir que os rapazes e as raparigas se radicalizassem no futuro e, por isso, “The 99” é uma “luta pelos corações e os espíritos daqueles que foram ensinados a odiar”, disse, numa conferência TED.

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