A coligação entre o Partido Trabalhista Português (PTP) e o recém-criado Agir, anunciada no último domingo, está a ser recebida com desconfiança e algumas críticas, sobretudo no centro-esquerda do espetro político português. Primeiro, foi Porfírio Silva, dirigente socialista, que publicou no Facebook a notícia da coligação com a seguinte legenda: “Leiam esta notícia e digam-me: isto é começar bem?”. Esta segunda-feira, Augusto Santos Silva, no entanto, elevou o tom das críticas: “Joana Amaral Dias será cabeça de lista de um partido que, para se poupar à maçada de recolher novas assinaturas, vampirizará o corpo legal de outro, já defunto”, escreveu, também no Facebook. Contactada pelo Observador, a ex-bloquista pediu “respeito”.
“Augusto Santos Silva, como agente político que é, deveria ter mais respeito para com um partido como o PTP, que, mesmo não tendo assento parlamentar, desenvolve um trabalho importante na comunidade”, defendeu Joana Amaral Dias.
Depois da cisão atribulada do Juntos Podemos, movimento que a psicóloga ajudou a fundar mas que depois abandonou em rota de colisão com o Movimento Alternativa Socialista (MAS) e Gil Garcia, – que acusou de ter tentado “apropriar-se” do Juntos Podemos -, Joana Amaral Dias é agora acusada de estar a servir-se do PTP como barriga de aluguer para ir a eleições. Ou de o estar a “vampirizar”, como escreveu o ex-ministro dos Assuntos Parlamentares e da Defesa de José Sócrates, Augusto Santos Silva. Críticas que a ex-bloquista diz serem “completamente ofensivas”.
“As palavras de Augusto Santos Silva são completamente ofensivas, sobretudo para com um partido como PTP, com um histórico de trabalho no terreno, nomeadamente junto dos sindicatos”, afirmou, preferindo não se alongar mais em comentários.
O casamento entre PTP e Agir, do qual nasceu a coligação PTP/Ag!r, foi anunciado no último domingo, na conferência internacional que juntou vários simpatizantes e militantes do partido, assim como representantes do Podemos espanhol e do Syriza grego. Na altura, Amândio Madaleno, dirigente do PTP, disse aos jornalistas que o convite para a coligação partiu de Joana Amaral Dias e que se estendeu também a outros partidos, porém essas alianças não chegaram a concretizar-se.
“Tivemos reuniões com o PAN, MPT, com o PND, com o PPM e o PPV. Todas as reuniões correram bem, era para se fazer uma coligação em conjunto, mas chega a hora da verdade e as pessoas estão mais preocupadas com os lugares e consideram que ainda é cedo”, esclareceu.
Joana Amaral Dias, por sua vez, afirmou que o processo negocial ainda não estava fechado porque “existem outros partidos políticos e outros movimentos sociais que estão em diálogo” com a coligação. Esta segunda-feira, questionada pelo Observador sobre novos desenvolvimentos em termos de eventuais coligações, a bloquista voltou a dizer que o processo ainda não estava fechado, até porque o objetivo é “criar uma plataforma de entendimento muito alargada”, mas que, neste momento, não havia novos movimentos e/ou partidos a integrarem a coligação.
Na noite de domingo, o DN noticiou que o acordo prevê que o PTP mude de nome para incluir o Ag!r, que assim se abstém de se constituir como partido, o que obriga à recolha de assinaturas e a ser validado pelo Tribunal Constitucional.
Joana Amaral Dias já foi deputada do BE e mandatária para a juventude da candidatura presidencial de Mário Soares em 2006.