Chama-se Zero Freitas, tem 60 anos, é um brasileiro residente nos subúrbios de São Paulo e tem mais de 6 milhões de discos. Em entrevista ao Guardian, Freitas explica como é que a sua paixão vai resultar num museu. Tudo começou em janeiro de 1965, com apenas 10 anos, quando usou a sua primeira mesada para comprar o “Canta Para a Juventude” de Roberto Carlos. O hábito de consumir música tornou-se viciante e pouco tempo bastou para começar a gastar o que tinha em Beatles, Rolling Stones, Ray Charles, Frank Sinatra, Tony Bennett, Doris Day e inúmeros artistas do movimento tropicalista brasileiro, tais como os icónicos Mutantes ou o aclamado Caetano Veloso. Sem dar por isso, Freitas chegou ao final do liceu com 3 mil discos. Uma década depois, tinha dez vezes mais.
“Devo este hábito à minha mãe. Não o de colecionar, mas sim o de apreciar música, que é o mais importante. Ela colecionava música e costumávamos ouvir os discos. Ela tinha cerca de 400 ou 500 discos.”, relembrou Freitas.
Apesar do melómano brasileiro ter tido a sorte de conseguir dinheiro suficiente para comprar discos (através de negócios na área do imobiliário), Freitas sabe que na sua paixão está uma enorme fortuna: quase 7 milhões de euros em discos. Agora, Freitas não pretende apenas aumentar a sua coleção. O colecionador vai partilha-la, criando um armazém com todos os seus discos e uma exibição grátis e com direito a “vinilteca”.
“Toda a minha vida, as pessoas vêm ter comigo por causa dos discos. É esta a minha faceta que quero expandir.”, justificou Freitas ao jornal The Guardian. “Vou construir um espaço que, dentro de seis meses, estará pronto para ter pelo menos 4 milhões de discos”, acrescentou. Freitas tem recebido doações, monetárias e musicais, para a sua causa. Terence McEwen, produtor na Opera de São Francisco, deu-lhe 6.500 discos de música clássica.
A colossal coleção possui várias raridades, inclusive vinis com autógrafos dos artistas. Mas ele guarda religiosamente uma coleção de 100.000 discos em casa. Freitas mostrou ao Guardian alguns dos seus discos: Dylan Thomas a narrar o Under Milk Wood, Laurence Olivier a tocar Shakespeare, comentários da final da Taça dos Campeões Europeus de 68, entre o Benfica e o Manchester United, Wee Tam, The Big Huge da The Incredible String Band ou até mesmo a compilação Instant Record Collection dos Monty Python, de 1977.
Texto editado por Pedro Esteves e João Cândido da Silva