Desta vez a ideia não é ir dos oito aos 80 mas sim dos seis. Seis momentos em que se desdobra o ciclo “Quando Foram os Anos 80?”, uma iniciativa do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa que se espalha por vários pontos da cidade entre 10 e 21 de abril. MUDE, Galeria ZDBAtelier RE.AL;​ ​Museu do FadoCinemateca Portuguesa são as naves do tempo que viajam até aos anos em que Portugal entrou na então CEE, Comunidade Económica Europeia.

A iniciativa é de académicos mas vai muito para além do discurso universitário, com sessões de música comentada, um passeio e até uma maratona de televisão a juntarem-se aos colóquios e mesas-redondas.

“Percebemos que há várias pessoas dos estudos culturais a fazerem investigação sobre vários fenómenos dos anos 80, da moda ao rock português, e portanto pensámos que talvez tivesse chegado o momento de estudar historicamente um período que para nós ainda é recente”, diz o historiador Luís Trindade, que faz parte da organização. “Como não queríamos circunscrever isto ao mundo universitário e as pessoas que estão a organizar o ciclo vêm todas de áreas diferentes, acabamos por ter vários momentos na programação.”

Siga-os em seis passos, com a agenda ao lado:

1. 10 de abril, das 18h00 às 20h30

Se houvesse uma senha para entrar no debate que a ZDB recebe no dia 10 de abril, poderia ser “Zuvi Zeva Novi”. A música dos Mler if Dada tornou-se uma espécie de hino dos anos 80 em Portugal e, nem de propósito, Anabela Duarte, vocalista da banda, é uma das convidadas da conversa que decorre em torno da música produzida nos anos 80. Os outros intervenientes são Tó Trips, dos Dead Combo, Rui Miguel Abreu, jornalista e crítico de música, e Ana Ferrão, radialista. Cada um irá “trazer os seus próprios anos 80, onde a música desempenha um papel fundamental, e não só em Portugal”, diz Luís Trindade. “Nos anos 80 o impacto da música começa a ser muito maior com o videoclip, e nesta sessão vamos ter oportunidade de ouvir canções, que é algo que raramente se faz, e depois discuti-las.”

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2. 11 de abril, das 18h00 às 23h30, e 12 de abril, das 11h00 às 20h00

Não estranhe se houver uma parte da emissão interrompida com o ecrã preenchido por um arco-íris ou chuva cinzenta. Ver televisão nos anos 80 era assim, e a maratona que acontece no Atelier RE.AL pretende recriar uma sessão televisiva de há 30 anos. No primeiro dia, sábado, a maratona tem menos quilómetros e acontece das 18h00 às 23h30 porque pretende retratar o início da década, “quando a RTP tinha menos horário de programação”, diz Luís Trindade. No domingo já há mais conteúdo, das 11 da manhã às oito da noite, ou não fosse o dia relativo ao final da década. “Em certo sentido vai ser uma sessão de resistência, para reproduzir o que seria um dia de televisão nos anos 80.”

3. 16 e 17 de abril, das 9h00 às 17h30

O coração de todo o ciclo tem lugar no MUDE — Museu do Design e da Moda, na Rua Augusta, ao longo de dois dias. No colóquio “Quando Foram os Anos 80?” vai ser possível ouvir três especialistas contextualizarem a década em termos políticos e económicos, da resistência cultural que os ingleses tiveram perante o Thatcherismo, ao cavaquismo e à emergência do neoliberalismo em Portugal. “Este contexto era muito importante para perceber tudo o resto”, diz Luís Trindade. E tudo o resto são painéis dedicados à música pop, à televisão e ao cinema, passando pela arquitetura, a moda, a literatura, o consumo e o design.

4. 18 de abril, das 12h00 às 18h00

Mais um debate, mais uma pergunta: Anos 80 Porquê? é a mesa-redonda que toma conta do Museu do Fado, no momento mais internacional do ciclo. Isto porque a organização é da rede de Museus L’Internationale, responsável pelo projeto The Uses of Art — The Legacy of 1848 and 1989. “É um momento de diálogo com realidades de outros países”, resume Luís Trindade, em que “teremos vários convidados estrangeiros que estão a questionar os anos 80 na área das artes plásticas e da museologia”.

5. 19 de abril, às 16h00

Para falar de arquitetura, nada como ouvir um especialista enquanto se olham para os edifícios. O passeio que parte do Largo Trindade Coelho faz isso mesmo, mostrando o pós-modernismo dos anos 80 pelo olhar do arquiteto Manuel Graça Dias. A uns passos do ponto de partida, grande parte da visita concentra-se no Bairro Alto, centro da movida noturna da década com os obrigatórios Casa Nostra, Pap’Açorda, Os Três Pastorinhos ou Frágil. Apesar de não haver porteira para convencer, e a entrada ser livre, o passeio já não está disponível pois tem as suas 30 vagas preenchidas por pré-marcação. “Já está esgotado mas pode vir a repetir-se”, avança Luís Trindade.

6. 20 e 21 de abril, às 19h30

A Cinemateca Portuguesa — Museu do Cinema ficou com a chave de ouro, “dois filmes simbólicos que ilustram o que é que o cinema português quis ser ao longo dos anos 80“. Crónica dos Bons Malandros, de Fernando Lopes (20 de abril), e O Lugar do Morto, de António-Pedro Vasconcelos (21 de abril) vão anteceder dois debates com todos os responsáveis pelo ciclo, atores e participantes nas películas e, no segundo caso, com o próprio realizador. Ao contrário de todas as outras atividades, que são de entrada livre, cada sessão tem um custo de 3,20 euros.