Já era conhecido que os dias de inverno com menos luz deixavam as pessoas mais tristes e com maior propensão para sofrerem depressões. Agora, uma equipa de investigadores verificou que a saúde física também varia com a estação porque os genes se comportam de maneira diferente no verão e no inverno.

Há doenças e processos psicológicos que se manifestam mais numa estação do que noutra, mas não se sabia porquê. O que a equipa coordenada por Chris Wallace e John Todd, investigadores do Instituto de Investigação Médica na Universidade de Cambridge, descobriu é que o segredo pode estar na própria função do sistema imunitário, refere o comunicado de imprensa da instituição.

Cerca de um quarto dos genes humanos – 5.136 genes dos 22.822 analisados – variam a atividade consoante a estação do ano, uns estão mais ativos no inverno, enquanto outros estão mais ativos no verão. Para reforçar a importância das estações, os investigadores mostraram que o padrão de distribuição das doenças na Europa é simétrico ao da Oceânia – visto que quando é inverno no hemisfério norte é verão no hemisférico sul.

Os investigadores analizaram amostras de sangue e de tecido adiposo em mais de 16 mil pessoas a viver tanto no hemisfério norte como no hemisfério sul – Reino Unido, Estados Unidos, Islândia, Austrália e Gâmbia. Etnias diferentes e populações que vivem em regiões geográficas distintas tendem a apresentar algumas diferenças sazonais na expressão dos genes dos glóbulos brancos, mas as distinção era mais nítida entre os dois hemisférios, na mesma altura do ano, porque apresentam padrões opostos.

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Dos países estudados, o único que não encaixou tão perfeitamente no padrão foi a Islândia. Ter quase 24 horas de luz no verão e quase 24 horas de escuridão no inverno também pode contribuir para as alterações na expressão dos genes. “Os ritmos circadianos requerem uma maior exploração enquanto contribuintes dos vários aspetos da psciologia e doenças humanas”, concluem os investigadores no artigo publicado esta terça-feira na Nature Communications.

Considerando que a temperatura ambiente e as horas de dia podem influenciar a resposta imunitária, os investigadores especularam que os ritmos de trabalho que não encaixem no ritmo circadiano, ou seja, que não acompanham o relógio biológico, podem afetar a saúde do indivíduo.

Os investigadores verificaram também que durante o inverno os genes relacionados com a reação às vacinas estavam mais ativos, sugerindo que esta é a melhor altura do ano para a vacinação. Já no verão, o gene ARNTL estava mais ativo. Sabe-se que este gene suprime a inflamação nos ratos de laboratório, ou seja, a resposta à infeção, e pode ter um efeito equivalente em humanos.

Se no inverno, quando surgem grande parte das doenças infecciosas, este gene estiver ativo a resposta à infeção é mais rápida. Mas um estado inflamatório quase permanente pode potenciar as doenças inflamatórias, como as doenças cardiovasculares, diabetes ou esclerose múltipla.

Na Gâmbia, por outro lado, a resposta inflamatória é maior durante a época das chuvas. É nesta altura que aparecem os mosquitos responsáveis por transmitir grande parte das doenças infecciosas, logo é nesta fase que o sistema imunitário tem de ser mais eficaz a combater a doença. Por estas razões, os investigadores especulam que a atividade dos genes pode resultar de uma adaptação à região onde vive o indivíduo.

“Este é um excelente estudo que fornece evidência real para apoiar a crença popular de que tendemos a ser mais saudáveis no verão. A variação sazonal é, nesta medida, uma fascinante descoberta – a actividade de muitos dos nossos genes, bem como a composição do nosso sangue e tecido gorduroso, varia de acordo com as estações do ano. Ainda que não estejamos certos sobre o mecanismo que regula esta variação, um resultado possível é que o tratamento de certas doenças poderia ser mais eficaz se adaptado às estações do ano”, comentou em comunicado de imprensa Mike Turner, chefe do departamento de Infecção e Imunologia do Wellcome Trust (Londres), que não participou no estudo.