Economistas, gestores e um advogado. Diferentes visões do presente, passado e futuro, diferentes opiniões sobre os problemas e as soluções de um país à beira de eleições legislativas. Juntos à mesma mesa discutiram e disseram aquilo que acham que é o Portugal de hoje e o que será ou não o Portugal de amanhã.

Mário Centeno, economista do Banco de Portugal e coordenador do grupo de trabalho que traçou o cenário macroeconómico de António Costa, fala da sua área de estudo: o mercado de trabalho. A esse propósito desmonta aqueles que considera serem “mitos”, nomeadamente os que dizem que não existe rotação no mercado de trabalho em Portugal. “O que temos em Portugal são duas dimensões”, começa por exemplificar. Por um lado, “existe uma grande rotação nos contratos a prazo” e, por outro, “uma baixa rotação nos contratos sem termo”.

Por isso, acredita ser possível resolver o problema da dualidade de contratos através da simplificação contratual, ou seja, a ideia é ter como “regra a contratação sem termo”, por oposição à contratação a prazo. De mito em mito chega ao subsídio de desemprego: “O sistema de proteção social é extraordinariamente elitista em Portugal. Nos inquéritos ao emprego vemos que apenas 28% dos desempregados recebe subsídio.”

Neste debate sobre o Portugal que somos, promovido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, em colaboração com o Fórum para a Competitividade, Pedro Oliveira, da Católica Lisbon School of Business & Economics fala da área em que tem trabalhado: o empreendedorismo. Destaca algumas “coisas fantásticas” que aconteceram nos últimos 25 anos, como por exemplo a revolução na educação e na ciência, mas diz que ainda está por aproveitar “todo o conhecimento que foi até agora acumulado”.

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Pedro Oliveira sublinha ser necessário “renovar o tecido empresarial” e lembra a economia de partilha como uma das áreas em que Portugal se destacou, mas que não conseguiu ficar na liderança, como é o caso do crowdfunding. +u8jlFora da economia e da gestão está António Lobo Xavier. Prefere participar no debate falando de política e de políticos. Pega no exemplo do tão propalado relatório do Fundo Monetário Internacional para demonstrar, na sua ótica, como funcionam as elites políticas em Portugal. “O Governo não gostou porque não é suficientemente elogioso. A oposição também não gosta porque o FMI adverte para o período eleitoral e alerta para a questão do consumo e da despesa pública como motor da economia. Ninguém gosta dele”, argumenta. Recorda ainda que “vamos ter eleições” e teme que as elites políticas se esqueçam das “crises dos últimos 40 anos”.

Já Luciano Amaral, da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, considera que “não temos ideia do estado em que estamos”. Embora em “termos absolutos estejamos melhor”, em “termos comparativos, temos um Produto Interno Bruto ao nível de 1974”. No que à competitividade concerne, “em termos comparados, não houve grandes alterações”. Por isso, defende que a questão da “produtividade tem de ser resolvida. É agora a hora de resolver esse problema. Não há maneira de viver acima das possibilidades outra vez.”

Tal como Lobo Xavier, também Paulo Trigo Pereira, do Instituto Superior de Economia e Gestão, recorda o relatório do FMI para dizer que “houve coisas que melhoraram”, como por exemplo a poupança líquida das famílias e empresas. Outro aspeto positivo, mas conjuntural, foi o “equilíbrio das contas externas”, diz Trigo Pereira. No entanto, o economista destaca que o relatório apresenta previsões para o futuro como uma dívida de 130% do PIB, ou um crescimento “muito pequeno” de 1,6%, sendo que, para 2060, o crescimento previsto seja na ordem dos 0,8%”. Por isso, sublinha que no futuro é preciso reformas estruturais, nomeadamente no “sistema político”.

Olhando para estes dados do crescimento previsto para as próximas quatro décadas, Nuno Garoupa, presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos, diz que “estamos com uma economia estagnada”. “Temos que perceber as razões que nos trouxeram até aqui”. Daí a importância dos debates que a FFMS promove. “É preciso partir de um diagnóstico sério e honesto”, diz Nuno Garoupa.