Ainda não tem data para nascer, mas tem dois rostos para lhe conferir credibilidade: a Apple conta com Drake e Pharrell Williams para apadrinhar o serviço de streaming que vai relançar o iTunes – e fala-se também de David Guetta. Espera-se que a notícia seja oficializada na próxima semana, quando os cérebros da Apple se reunirem numa conferência anual. Este negócio surge depois da multinacional americana ter adquirido a Beats – uma companhia de auscultadores de gama alta – por 3 mil milhões de euros.

De acordo com o The Wall Street Journal, o serviço vai custar dez euros por mês. É o preço por uma plataforma livre de publicidade áudio, concorrente do modelo premium do Spotify. Ao contrário da marca da bolinha verde, a Apple não vai disponibilizar todas as músicas a preço zero, na tentativa de se impor de novo na indústria musical, que dominou durante anos graças ao iTunes e aos iPods.

O mundo streaming: como ouvir música sem fazer download

Na indústria musical, é o Spotify que está na vanguarda do ramo desde 2006, mas o serviço só chegou a Portugal  há dois anos. De acordo com a marca, a plataforma de streaming permite aos 60 milhões de utilizadores (cerca de 20% dos quais acede através da inscrição paga) mais de 30 milhões de canções gratuitamente.

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No ano passado nasceu a Tidal para fazer frente à marca da bolinha verde. E trazia uma novidade: apesar de ter apenas 25 milhões de músicas, oferecia milhares de vídeos graças a contratos com agências musicais multinacionais e independentes. A Tidal mostrava o rosto de Jay Z, Madonna, Kanye West, Beyoncé e Arcade Fire como forma de credibilizar o serviço streaming, o que lhes valeu 580 mil utilizadores em 31 países – tendo chegado a Portugal em fevereiro.

Mas os lançamentos exclusivos que a Tidal apresentou não foram suficientes para ultrapassar o Spotify no lugar de maior plataforma de música online. Agora, é a Apple que está prestes a agitar o negócio sueco do Spotify, anuncia o El País. E, ao mesmo tempo, o Spotify lança-se no streaming de video para diversificar o negócio e aumentar a audiência potencial.

E a concorrência acaba aqui? Não, de acordo com a Inc.com. Há um jovem empreendedor de 23 anos que teve uma ideia inspirada no Instagram. Anthony Cimiglia estava naquela rede social quando se deu conta que muita gente fazia capturas de ecrã ao telemóvel para mostrar que músicas estava a ouvir. Foi então que decidiu criar a Zyer. Esta aplicação para telemóvel promete interações entre pessoas através das suas preferências musicais. Funciona com streaming, à semelhança dos demais, mas é baseado numa lógica mais social. E descarta por completo a presença dos intermediários: no Zyer estão os consumidores de música, que descobrem novas tendências, e os criadores de música, que dão a conhecer os novos lançamentos de modo direto.

“No próximo ano quero ver a Zyer como o caminho para uma rede social para partilha e descoberta de música”, explica o fundador do Zyer. Que acha que daqui a cinco anos a plataforma “vai ser o Facebook da música, onde qualquer coisa que esteja relacionado com ela será encontrado e realizado” na aplicação.

Como é viver de música hoje?

Vivem-se novos tempos nos negócios da música e até os protagonistas mudaram. Embora a moda dos discos de vinil tenham voltado, ela não passa de uma inspiração vintage numa era digital que pede por mais: já ninguém se lembra o que são cassetes e mesmo os CD’s já raramente saem das prateleiras. Ninguém precisa de formatos físicos: está tudo na Internet. E o futuro parece estar no streaming, o sistema de distribuição de dados multimédia em plataformas online que permite ouvir música, ver vídeos ou jogar – sem sobrecarregar os dispositivos e aumentando a escolha de conteúdos disponíveis.

O negócio de produção musical mudou graças a dois fenómenos: a valorização dos espetáculos ao vivo que são já uma fonte de rendimentos superior aos da edição para muitos artistas; e a pirataria, que mudou a face da distribuição. Ambas deram mais poder aos artistas ao mesmo tempo que o retiraram às editoras. E hoje as editoras podem perder ainda mais poder, face ao crescendo das plataformas que estão a redefinir os mecanismos de produção criativa. O Spotify, por exemplo, paga ao autor da música ao fim de 30 segundos. Virtualmente, não é necessário que um artista faça mais que meio minuto de música para ganhar dinheiro.

Mas esse modelo desagrada profundamente a alguns artistas – como Taylor Swift – que se recusam a participar em plataformas que acabam por reduzir o retorno dos artistas. Ao facilitar a escolha individual de músicas, os utilizadores deixam de valorizar os álbuns e ouvem menos músicas, reduzindo o valor que cada artista ganha. A Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI) diz que a receita das editora diminui ano após ano, na mesma proporção que aumentam os subscritores dos serviços streaming. De acordo com o The Record – um site dedicado à indústria musical coordenado pela rádio pública americana (NPR) – um estudo da Nielsen SoundScan (uma base de dados que analisa a compra e venda de músicas) indica que os downloads pagos de canções diminuiu em cerca de 12%. É como se o download de músicas fossem os novos walkman da Sony, na altura da febre do MP3.

Benéfico de um certo ponto de vista, injusto se olharmos por outra perspetiva. Uma coisa parece certa: é a forma mais eficaz que os internautas descobriram para aceder à cultura musical de forma legal, com maior qualidade e por um preço mais reduzido – ou nulo.