Todas as semanas, em média, 16 idosos são vítimas de violência em Portugal, um crime cada vez menos tolerado, mas que precisa de ser mais denunciado porque os números ainda “não espelham a realidade”, defendeu hoje a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV).

“É um crime com que, cada vez mais, as pessoas não estão a compactuar, nem a ficarem caladas”, mas ainda há muito mais a fazer em relação aos idosos”, disse Maria de Oliveira, técnica da APAV, que falava à Lusa a propósito do Dia Internacional de Sensibilização sobre a Prevenção da Violência Contra as Pessoas Idosas, que se assinala esta segunda-feira, 15 de junho.

Os casos de violência contra idosos que chegam à associação cresceram de 774 em 2013 para 852 no ano passado, mas a APAV tem a noção que estes “dados podem não espelhar a realidade”, adiantou.

Para apurar esta realidade, a APAV colaborou num estudo realizado entre 2011 e 2014 que “demonstra que há uma prevalência de pessoas idosas vítimas de crime muito elevada [em Portugal] em comparação aos outros países europeus”, adiantou a técnica.

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Segundo o estudo, em cada mil portugueses com 60 ou mais anos, 123 podem ser alvo de algum tipo de violência por parte de familiares, amigo, vizinho ou profissional remunerado, quando a média nos outros países da União Europeia é de 21 a 22 em cada mil pessoas.

Maria de Oliveira destacou a importância de datas como a que se assinala hoje para “alertar para estas situações que ainda acontecem e que ainda são pouco denunciadas pela sociedade”, apesar de já existir uma “certa intolerância a este fenómeno”.

Os idosos são “vítimas de vários tipos de crime, desde burlas até às situações de violência doméstica, e tudo isto acarreta a necessidade de sensibilizar os jovens para esta temática, cada vez mais cedo”, mas também alertar os idosos para os vários tipos de crime que podem estar a ser alvo e os profissionais que cuidam destas pessoas.

Para sensibilizar os jovens e crianças para esta temática a APAV tem realizado várias ações de sensibilização em estabelecimentos de ensino: “Achamos que é fundamental”, porque muitas vezes “não têm noção do que é que envolve o envelhecer”.

Além disso, “estas crianças e jovens serão os cuidadores de amanhã e convém sensibilizá-los” para estas questões e explicar-lhe que há várias formas de violência (psicológica, sexual, financeira, física e negligência).

Já os idosos vivem muitas vezes este crime em silêncio porque “têm medo de denunciar”, “têm medo de represálias”, que “ninguém vá acreditar neles”, das consequências legais de estar a denunciar este tipo de situações e de pensarem que são “um estorvo”.

Há ainda situações em que os idosos têm possibilidades financeiras, uma boa residência, mas “dependem emocionalmente” do prestador de cuidados que muitas vezes é um familiar.

Para estes idosos, a APAV disponibiliza apoio social, jurídico e psicológico porque sabe que, “com esta população-alvo, o apoio tem de ser muito mais contínuo do que, por exemplo, com uma mulher vítima de violência doméstica”, disse Maria Oliveira.