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Câmara de Olivença acusada de descaracterizar igreja construída por portugueses

Este artigo tem mais de 5 anos

A construção da rampa para acesso de cadeiras de rodas já provocou danos "irreversíveis" na única igreja manuelina construída pelos portugueses, em Espanha, no século XVI.

4 fotos

A construção de uma rampa na Igreja de Santa Maria Madalena, em Olivença, está a provocar uma grande polémica entre habitantes e defensores do património. A igreja, construída por portugueses, é a única de estilo manuelino em Espanha e os críticos da obra dizem que a rampa, que permite o acesso de pessoas em cadeira de rodas ao templo, desfigurou a fachada.

A construção da rampa obrigou à transformação de uma janela em porta e à retirada de uma grade artística em ferro que protegia essa janela. O novo acesso situa-se do lado direito da fachada, o que, para muitos oliventinos, é considerado um atentado àquele património. O projeto “não é aceitável pelo impacto visual que tem na igreja”, diz ao Observador José González Carrillo, nascido em Olivença e autor de numerosos livros sobre aquela vila raiana. A rampa, diz, é “muito grande” e “desfeia a igreja”.

Para Carrillo não está em causa a criação de uma rampa, só a forma como esta está a ser feita. “Provavelmente existem outras formas de fazer o acesso”, afirma, lembrando que a grade agora retirada, apesar de não ser original, “está lá há pelo menos cem anos”.

Considerado um dos expoentes máximos do manuelino português, a Igreja de Santa Maria Madalena foi erguida no século XVI como o local de culto oficial dos bispos de Ceuta, que residiam em Olivença. O primeiro deles, Frei Henrique de Coimbra, foi confessor de D. Manuel I e o primeiro a celebrar uma missa no Brasil, estando ali sepultado. O espaço, ricamente decorado com talhas douradas, gárgulas, motivos naturalistas e marinhos, tem um pórtico tipicamente manuelino atribuído a Nicolau de Chanterenne – que também teve intervenções no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa. Em 2012, aquela igreja foi considerada, através de uma votação online, como o “melhor recanto de Espanha”.

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Impacto já é “irreversível”

O Observador contactou insistentemente a Câmara Municipal de Olivença, mas até ao momento não obteve respostas. Ninguém da paróquia oliventina quis falar em nome oficial da instituição, mas um funcionário garantiu ao Observador que “as pessoas estão muito contentes” com a obra. Num post de Facebook no fim de maio, a paróquia dizia-se satisfeita com a solução encontrada, mas muitos comentadores demonstraram ali o seu descontentamento.

En medio del revuelo que ha levantado la tan deseada rampa de accesibilidad de la Magdalena, y aunque no suelo tener la...

Posted by Parroquia de Olivenza on Sexta-feira, 29 de Maio de 2015

Nesse mesmo dia, dezenas de pessoas participaram numa manifestação em frente à igreja pedindo a paralisação dos trabalhos, considerados uma “barbaridade” por uma petição entretanto colocada online e que reuniu 505 assinaturas até este momento. A ideia de se pararem as obras colhe apoio do novo presidente da câmara, eleito pelo Partido Socialista (PSOE) a 24 de maio, e entronizado no cargo este sábado.

Num documento enviado à câmara e às autoridades da Extremadura, região em que Olivença se encontra, o PSOE afirma que as obras “mudam significativamente” a “proporção e leitura arquitetónica” do templo, além de referir “irregularidades” no processo que conduziu a estes trabalhos. Entre outras coisas, os socialistas lembram que vários documentos necessários à intervenção não foram feitos.

Por seu turno, o governo da região, em resposta à Associação de Cronistas Oficiais da Extremadura, escreve que as obras obtiveram pareceres positivos de todas as entidades consultadas e refere que a janela em causa “não apresenta qualquer sinal de arte manuelina”.

Segundo José González Carrillo, “a obra já está avançada” e “há coisas já irreversíveis”. O Observador tentou contactar Manuel José González Andrade, o novo presidente da autarquia, para perceber se os trabalhos serão suspensos, mas tal também não foi possível até agora.

Desde el PSOE hemos presentado esta semana distintos escritos en el Ayuntamiento, en la Consejería de Cultura y en...

Posted by Manuel José González Andrade on Sexta-feira, 29 de Maio de 2015

Uma laranjada amarga

A criação de uma rampa de acesso à igreja era uma ambição antiga da paróquia de Olivença, localidade que está há três séculos no centro de uma polémica mais ou menos silenciosa. Desde sempre disputada por portugueses e espanhóis, a vila fronteiriça pertenceu ao reino de Portugal desde 1297 até 1801, altura em que o exército castelhano, sob ordens de Napoleão, reconquistou Olivença na chamada Guerra das Laranjas.

Apesar de só ter durado 18 dias, esse conflito ainda hoje deixa marcas. Anexada por Espanha em 1801, Olivença seria devolvida a Portugal no Congresso de Viena, em 1815. No papel, pelo menos, porque no terreno a transição nunca se deu. Há vários grupos que continuam a reivindicar a integração daquela vila em território português. Recentemente, cerca de 170 habitantes de Olivença pediram a nacionalidade portuguesa.

Pode ver imagens do interior da igreja no vídeo abaixo:

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