O deputado democrata-cristão Ribeiro e Castro vai abandonar o seu grupo parlamentar nesta legislatura sem se recandidatar, ficando “livre como um passarinho” de um sistema partidário que considera estar “profundamente doente”.
“Vou, naturalmente, interromper a minha atividade política e continuarei a ação cívica, a minha atividade profissional. Também se cumpre esta semana aquela que era a minha última obrigação moral nesta legislatura – com o encerramento dos trabalhos da comissão de inquérito sobre a tragédia de Camarate -, uma missão para com o partido e a memória de Amaro da Costa. Concluído isto, sinto-me livre como um passarinho para procurar outros caminhos na minha vida”, disse à agência Lusa, no parlamento.
O deputado em São Bento nas I, II, VIII, XI e, agora, XII legislaturas, também secretário de Estado e adjunto de ministros dos governos da Aliança Democrática e de Cavaco Silva, sublinhou as divergências para com a liderança dos centristas.
“Creio que o sistema partidário está profundamente doente. Acho que o CDS devia ser um sinal de diferença para melhor. Infelizmente, é para pior. Tem um fraquíssimo funcionamento interno, não há participação, vivemos em plena ‘consumadócracia’. Quem andou em campanhas, ouviu várias vezes ‘vai trabalhar, palhaço!’. Eu ouvi. Não é coisa que me incomode. Mas já me incomoda sentir que sou um palhaço, isso já me incomoda”, afirmou, lamentando não conseguir representar o seu eleitorado conforme acha melhor.
O antigo eurodeputado avançou mesmo o título de um seu futuro artigo – “o dia em que o CDS morreu” -, referindo-se à forma como foi anunciada a comissão política nacional da coligação “Portugal à Frente” (PSD/CDS-PP), da qual “ninguém sabe como foram nomeados ou eleitos os seus membros”. Para Ribeiro e Castro, “a democracia é cada vez mais de teatrinho e despida de substância”.
“Estou desapontado com o meu próprio campo político, que devia ter produzido respostas há mais tempo, quer em termos da coligação, mas também nas presidenciais. Os suspeitos do costume, que há muitos anos diziam estar a preparar-se, nenhum se apresentou. Há uma série de bailes, arremedos táticos, esperas, calculismos. É um sinal de esgotamento do sistema”, criticou.
Esclarecendo que a corrida ao Palácio de Belém está fora do seu horizonte porque não é “um suspeito do costume”, o parlamentar centrista observou que foi a falência do sistema institucional que “levou a que aparecessem candidatos de fora da caixa”, citando os casos de Henrique Neto ou Sampaio da Nóvoa.
“Apareceu como de fora da caixa e agora a caixa quer apanhá-lo ou ele próprio quer entrar”, ironizou ainda sobre o ex-reitor da Universidade de Lisboa.