Armando Vara vai ficar em prisão domiciliária, sujeito a vigilância eletrónica. Foi esta a medida de coação aplicada pelo juiz Carlos Alexandre, esta sexta-feira. O ex-ministro socialista fica também proibido de contactar todos os outros arguidos do processo. A defesa já anunciou que vai recorrer da decisão.
O ex-ministro Armando Vara foi ouvido, esta sexta-feira, no Tribunal Central de Instrução Criminal, em Lisboa, pelo juiz Carlos Alexandre e o interrogatório terminou por volta das 17h30, tendo sido retomado pelas 18h30 para o Ministério Público ditar as medidas de coação mais adequadas. Pouco depois das 21h00 foi conhecida a medida de coação decidida pelo juiz. Armando Vara acabou por só abandonar o Tribunal Central de Instrução Criminal por volta das 23h15.
À saída do tribunal, o advogado de Armando Vara, Tiago Rodrigues Bastos, revelou-se consternado. “É uma medida que não se justifica. É uma medida brutal, limitativa da liberdade e profundamente penalizadora e que, na minha perspetiva, não tem justificação jurídica e por isso iremos atacá-la”, começou por dizer o advogado de defesa, reiterando, mais à frente, que irá recorrer da medida de coação.
“A PGR fez um despacho em que diz quais os crimes em causa. Naturalmente consta essa imputação [do crime de corrupção] e foi isso que procurámos deixar hoje aqui completamente afastado. Aparentemente ainda não conseguimos que essa ideia fosse abandonada, mas não nos parece que tenha qualquer viabilidade”, acrescentou o advogado.
Tiago Rodrigues Bastos reservou ainda algumas palavras para se pronunciar sobre os acontecimentos dos últimos meses. “Não gosto de teorias da cabala, mas as coisas estão mal sustentadas. Estamos num momento que, por muito que queiramos aligeirar, é perigoso, complicado, estranho, em que tanta coisa acontece e com alguma ligeireza se vão determinando limitações de liberdade. Mas não quero estar a fazer especulações”, rematou à saída do tribunal.
Determinada a medida de coação de vigilância eletrónica, as autoridades têm agora entre 24 a 48 horas para inspecionar o local e instalar o sistema, pelo que Armando Vara ainda passará, pelo menos, esta noite no estabelecimento prisional anexo à PJ.
O ex-governante socialista foi detido, na quinta-feira, por suspeitas de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais, no âmbito da Operação Marquês, informou a Procuradoria-Geral da República.
Depois de buscas em todo o país, que incluíram a casa de Armando Vara e a sede da Caixa Geral de Depósitos, o ex-ministro socialista ficou detido no Comando Metropolitano da PSP de Lisboa. Em causa estão suspeitas em relação ao envolvimento da Caixa Geral de Depósitos (CGD) no processo do resort de Vale de Lobo, na altura em que Vara era administrador do banco público.
Sobre este assunto, o advogado de defesa de Armando Vara apenas referiu que “o arguido não tem de explicar os negócios que a CGD faz no âmbito das suas atribuições. É uma operação legítima, feita completamente às claras e tem tudo menos de segredo. Teve o aval dos órgãos da CGD que tinha de ter”.
A Operação Marquês já conta com nove arguidos, sendo que o ex-primeiro ministro José Sócrates é o único que se encontra preso preventivamente.
[Artigo atualizado, pela última vez, às 23h30 com declarações do advogado de defesa de Armando Vara]