A Livraria Lello, no Porto, considerada uma das mais bonitas do mundo pela imprensa internacional, vai passar a cobrar entradas aos visitantes a partir de quinta-feira, sendo o valor dedutível na compra de livros. Com esta decisão, a Lello pretende voltar a ser reconhecida como livraria e não apenas como um espaço turístico, que diariamente recebe até cinco mil turistas, adiantou à Lusa fonte da livraria.
A partir de quinta-feira a Lello vai disponibilizar um voucher de entrada com um custo de três euros para visitantes ocasionais e de dez euros para clientes regulares, valores que são dedutíveis na compra de qualquer livro. O voucher para clientes regulares — o cartão de cliente “Amigo da Lello” — é válido por um ano e extensível a quatro membros de uma família.
“E há livros que custam três euros”, garantiu a fonte, adiantando que grupos de visitantes ocasionais poderão “juntar os seus vouchers para adquirir uma das muitas edições que a Lello oferece”. Quem decidir entrar apenas para ver e conhecer o espaço, terá que “encarar o custo de três euros como um contributo à livraria”, disse.
Os vouchers poderão ser comprados mesmo em frente à livraria, na rua dos Carmelitas, na “Shelter”, a escultura vermelha habitável da criadora Gabriela Gomes que foi inaugurada no âmbito da Guimarães 2012 — Capital Europeia da Cultura. Com este novo modelo, e a seis meses de comemorar um século de existência, a Lello pretende entrar numa nova fase da sua vida, acreditando que vai voltar “a ter espaço e tempo para [que os clientes possam] entrar, ver, sentir e estar na livraria”.
As filas diárias à porta da Lello registam-se a toda a hora e são fruto da visibilidade mundial que a livraria ganhou ao longo dos últimos anos. Turistas das mais diversas nacionalidades concentram-se diariamente à porta da Lello de máquinas fotográficas em punho, esperando pela hora de entrar naquele espaço, cuja escadaria vermelha serviu de inspiração a J.K. Rowling ao cenário da saga Harry Potter e onde as selfies se transformam num bestseller.
Em 2008, o jornal inglês The Guardian considerou a Lello a terceira livraria mais bela do mundo e três anos depois, no seu guia Lonely Planet’s Best in Travel 2011, a editora de viagens considerou-a também a terceira melhor livraria do mundo, descrevendo-a como “uma pérola de arte nova”.
O espaço foi também destacado pela revista Travel+Leisure, que a colocou no topo da lista das 15 livrarias mundiais mais cool, bem como pela revista Time e pelo canal de televisão norte-americano CNN, que classificou-a mesmo como a livraria mais bonita do mundo. Por cá, em setembro de 2013 o Governo classificou como monumento de interesse público este espaço, “considerado ex-líbris do Porto e um autêntico santuário das artes editoriais e livreiras”.
Na portaria publicada em Diário da República, na qual se estabelece também uma zona especial de proteção ao monumento, o espaço é apresentado como “um dos mais importantes edifícios da arquitetura eclética portuguesa, integrando marcenarias e vitrais sem paralelo no país”.
Destaca também os “arcos em ogiva” que existem no seu interior e que se apoiam “em pilares esculpidos com bustos de escritores como Antero de Quental, Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, Teófilo Braga, Tomás Ribeiro e Guerra Junqueiro, sob baldaquinos rendilhados”.
“Ao seu valor arquitetónico e artístico acresce a importância cultural que tem assumido de forma contínua ao longo do tempo, bem como o seu excelente estado de conservação, a autenticidade e exemplaridade da estrutura e da decoração, e a merecida fama internacional de que desfruta”, lê-se ainda na portaria, assinada pelo secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier.