Exorbitantemente cara, luxuosa e exclusiva. Apresentar a Birkin como uma simples carteira é como dizer que a paisagem das Maldivas é agradável. Como mostra uma famosa cena da série Sexo e a Cidade, a joia da Hermès não é só uma mala. É uma Birkin, um símbolo do status.
O nome de um dos ícones da moda, no entanto, pode ter os dias contados. Jane Birkin, a cantora e modelo de origem britânica em honra de quem a carteira foi criada, em 1984, pediu à Hermès que retirasse o seu nome do acessório depois de ler um relatório da PETA (People for the Ethical Treatment of Animals) onde se denuncia a forma bárbara como os crocodilos são tratados e mortos em quintas que vão do Texas ao Zimbabué. Em causa está a versão da Birkin neste tipo de pele e o facto de serem precisos dois ou três crocodilos para fazer uma só mala.
“Tendo sido alertada para as práticas cruéis sofridas pelos crocodilos durante a sua matança para a produção das carteiras da Hermès que têm o meu nome, pedi ao grupo Hermès para rebatizar a Birkin até que sejam implementadas práticas melhores e que respondam às normas internacionais”, lê-se no comunicado da cantora divulgado pela AFP na terça-feira.
“Houve uma altura em que as Birkin identificavam pessoas como celebridades ou pelo menos como muito ricas, mas em breve ninguém vai querer ser apanhado com uma, e os defensores dos animais vão finalmente poder respirar de alívio”, declarou a fundadora da PETA, Ingrid Newkirk, num comentário às declarações da ex-modelo.
Com preços que podem chegar aos 135 mil euros, a Birkin é o símbolo máximo do luxo e exclusividade da Hermès. E se é preciso deixar o nome — e o valor de uma casa — numa lista de espera que pode demorar seis anos, desta vez a marca francesa foi mais rápida a responder ao pedido da cantora que durante muito tempo foi o par de Serge Gainsbourg num comunicado que acaba de divulgar e onde também se diz chocada com a investigação divulgada, afirmando que a quinta no Texas da qual foi mostrado um vídeo não pertence ao grupo e não fornece pele de crocodilo para as Birkin.
“A Hermès impõe aos seus parceiros os mais elevados standards no tratamento ético de crocodilos. Há mais de 10 anos que organizamos visitas mensais aos nossos fornecedores. Controlamos as suas práticas e a sua conformidade com as normas de matança estabelecidas pelos veterinários e a Fish and Wildlife (uma organização federal americana para a proteção da natureza) e com as regras estabelecidas pela ONU e pela Convenção de Washington de 1973 que define a proteção de espécies ameaçadas.”
Como recorda o The Telegraph, a carteira agora envolta em polémica foi criada depois de o diretor executivo da Hermès, Jean-Louis Dumas, ter ficado ao lado de Jane Birkin num voo de Paris para Londres, em 1981. Depois de deixar cair o que levava dentro de uma cesta de verga ao arrumá-la na cabine, a cantora comentou que não tinha conseguido encontrar uma carteira de pele para o fim de semana. Dumas levou a queixa a sério e três anos depois criou a Birkin.
Três décadas mais tarde, pode ser o nome a cair para o chão, ou a voar para outro lado.