A empresa portuguesa AeroNeo vai investir oito milhões de euros numa unidade industrial de manutenção e desmantelamento de aviões e valorização de ativos aeronáuticos, no aeroporto de Beja, que criará 80 postos de trabalho.

A licença de ocupação para a construção e a exploração da unidade foi hoje assinada, no aeroporto de Beja, entre a empresa ANA – Aeroportos de Portugal, que gere a infraestrutura aeronáutica alentejana, e a AeroNeo, que tem sede em Portugal e é participada pela suíça GreenParts Holding.

A partir da próxima semana, a AeroNeo vai começar a preparar a empreitada de construção da unidade, que deverá começar a funcionar “daqui a um ano e meio”, disse aos jornalistas o sócio-gerente da empresa, Dominique Verhaegen.

A unidade, que vai “nascer” numa área de 7.500 metros quadrados, irá começar por criar 30 postos de trabalho, número de poderá chegar aos 80 postos de trabalho efetivos “a partir do terceiro ou do quarto ano” de funcionamento, estimou.

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Segundo um documento distribuído aos jornalistas na cerimónia de assinatura da licença, a AeroNeo quer operar em Beja através de um processo “amigo do ambiente” e baseado no conceito “GreenParts95”, que visa a valorização de ativos aeronáuticos por via da gestão integral de aviões em fim de vida.

Trata-se da última fase de manutenção e desmantelamento de um avião, de valorização, recertificação e reintrodução no mercado de peças, de reciclagem de outros componentes, como metais preciosos, e de formação especializada em aeromecânica.

A AeroNeo prevê “um ritmo de crescimento sustentado” para a unidade, que deverá desmantelar cinco aviões no primeiro ano e atingir os 18 no quarto ano, altura em que poderá aproximar-se de uma faturação anual superior a 32 milhões de euros, refere o documento.

Segundo o comunicado, a unidade, que deverá “entrar em funcionamento pleno dentro de três anos, irá responder à procura de soluções num mercado em crescimento”, prevendo a AeroNeo que serão gradualmente retirados de operação cerca de 12.500 aviões nos próximos 15 anos, sendo que os modelos usualmente desmantelados são os AirBus 319 e 320 e o Boeing 737.

O objetivo da unidade “é a revalorização de componentes aeronáuticos extraídos em aviões em fim de vida”, através de um processo que “parece muito mais uma clínica do que uma indústria de sucata”, explicou Dominique Verhaegen.

Num primeiro momento, a AeroNeo prevê transferir as operações pesadas para Sines, “onde já há um embrião de indústria de reciclagem”, disse, referindo, a título de exemplo, que as 16 toneladas de alumínio que serão extraídas de um Airbus 319 irão ser tratadas em Sines.

Trata-se de um projeto “transgeracional”, porque a duração do licenciamento concedido à unidade “permitirá uma transferência sólida e durável e uma assimilação progressiva” da experiência da AeroNeo “pelos quadros e pelas equipas de trabalho locais”, disse, referindo que a empresa procura “um enraizamento irreversível”.

“A AeroNeo, promovendo o seu conceito de valorização de ativos aeronáuticos e juntando numa única plataforma de excelência as atividades de manutenção, desmantelamento, gestão de peças e formação aeromecânica, ambiciona ser um ator principal na consolidação do ´cluster` aeronáutico” em formação no Alentejo” e “no fecho do triângulo industrial aeronáutico Beja-Évora-Sevilha”, disse.

“Será motivo de orgulho para Portugal, para o Alentejo e para Beja deter esta ferramenta única para poder atender à situação inevitável de acumulação de aviões em fim de vida”, sublinhou.

Dominique Verhaegen contou que, em meados de 2011, a AeroNeo estava a finalizar acordos com o governo tunisino para instalar a unidade na base de Touser, no sul da Tunísia, mas a Primavera Arábe “alterou drasticamente” a estratégia da empresa e fê-la procurar uma alternativa, tendo escolhido o aeroporto de Beja, que acabou por ser o “melhor destino”.