Ricardo Salgado terá passado quase todos os seus bens para a mulher e os seus três filhos, cinco meses antes do colapso do BES. O banqueiro, em prisão domiciliária desde 24 de julho, terá agora apenas quatro imóveis em seu nome. Apesar disso, a Justiça conseguiu arrestar centenas de imóveis, garantindo possíveis indemnizações de 1,8 mil milhões de euros. A notícia é avançada esta sexta-feira pelo semanário Sol.

O ex-presidente do BES surge apenas identificado como titular em quatro registos prediais, não sendo sequer o proprietário único dos quatro imóveis que continuam em seu nome.

O semanário Sol acedeu a documentos que indicam que, em março de 2014, 273 prédios e 346 frações de apartamentos passaram para o nome da sua esposa, Maria João Bastos Salgado – com quem casou por separação de bens –, e para os três filhos de ambos: Catarina, Ricardo e José. A transação foi feita através da Sociedade de Administração de Bens Pedra da Nau, criada em 2000 com o objetivo de gerir o património do casal e dos filhos. Esta sociedade, presidida por Salgado (e tendo como vogais a sua esposa e o filho Ricardo), permitia-lhe “adquirir, alienar ou arrendar quaisquer prédios rústicos ou urbanos”, refere o Sol. Tudo isto foi feito no momento em que o Banco de Portugal apertava a vigilância ao BES – pressionando Salgado a deixar a liderança do BES. O semanário terá questionado a assessoria de Salgado, mas sem obter resposta.

Foi também em março de 2014 que o contabilista da Espírito Santo International (ESI), Machado da Cruz, assumiu que a dívida da ESI teria sido ocultada com o conhecimento de Ricardo Salgado e outros membros da família, pelo menos desde 2008.

Poucos meses depois, a 2 de junho, a Sociedade de Administração de Bens Pedra da Nau reuniu-se em assembleia geral (juntando os acionistas, ou seja, o casal e os filhos), oficializando a renuncia de Salgado à liderança da empresa que detinha as propriedades de Salgado. Maria João Salgado foi eleita presidente do conselho de administração e o número de administradores reduzido para dois: Maria João e Ricardo, o filho do meio do casal.

Contudo, de acordo com juristas consultados pelo Sol, em casos onde se suspeite que os bens possam pertencer a terceiros e não aos acionistas, é possível efetuar um arresto sobre esses bens. Assim, o Ministério Público procedeu em maio deste ano ao arresto preventivo de bens da sociedade, sob suspeita de pertencerem a Salgado. Os imóveis e outros valores foram avaliados em 1,8 mil milhões de euros. O objetivo desta ação foi a de “impedir uma eventual dissipação de bens que ponha em causa, em caso de condenação, o pagamento de quaisquer quantias associadas à prática de crime, nomeadamente a indemnização de lesados ou a perda a favor do Estado das vantagens obtidas a com atividade criminosa”.

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