Reggie e Ronnie Kray foram criminosos famosos na década de 60. Agora, a sua história é recontada no filme ‘Legend’, protagonizado por Tom Hardy (que faz o papel dos dois gémeos).

Gangsters notáveis do East End, em Inglaterra, os gémeos Kray acabaram por ser presos em 1968. Tinham 35 anos e muitos pensaram que era o fim da história de Reggie e Ronnie. Mas eles tinham a segunda metade da vida para viver atrás das grades. Dada a sua reputação, a estadia na prisão foi única. Com vida dupla:

O luxo

Modelo de tablóide e atriz, Maureen Flanagan, que conhecia bem os gémeos Kray, atuava como o seu contacto no exterior. Explica que como apenas os familiares podiam visitar os Kray, a mãe deles, Violet, voltava da visita com uma longa lista de pedidos, que depois Maureen procurava satisfazer. “Eram bastante gananciosos, considerando que estavam na prisão”, replica Maureen, em declarações ao Telegraph.

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Ronnie acabou por ser separado do irmão, por lhe ter sido diagnosticado esquizofrenia paranóica. Foi transferido para uma unidade psiquiátrica de alta segurança, o Broadmoor Hospital. Ronnie Kray começou, assim, a acomodar-se. Na prisão tinha sido incompreendido e maltratado por agentes da prisão e levado a lutar contra outros presos. Flanagan recorda que, depois de se mudar, Ronnie estava “muito mais feliz”.

Maureen Flanagan lembra, ainda, que Ronnie tinha uma personalidade complicada: era capaz de cometer certos “atos de violência” mas, por exemplo, “nunca queria sequer conduzir um carro com medo de que isso lhe sujasse as mãos”. Da mesma forma, na cadeia “fumava cerca 80 cigarros por dia, mas nunca dava mais de duas ou três baforadas em cada um. Não queria manchas de tabaco nas mãos”.

Já a vida de Reggie na prisão foi relativamente mais complicada. Foi transferido entre seis prisões geograficamente distintas em rápida sucessão. Reggie sentia também falta do irmão, o que o levou a ficar perigosamente deprimido, e ter visões e a ouvir vozes. Chegou mesmo a partir o vidro do relógio de pulso e a cortar os pulsos com os cacos.

Se Flanagan recorda que, depois disto, Reggie começou a adaptar-se à vida de preso, também diz que Ronnie estava a viver uma vida facilitada na instituição psiquiátrica. Maureen por vezes tinha que procurar discos de ópera, ou lençóis de linho para a cama. Como não era obrigado a usar um uniforme, um alfaite ia a Broadmoor duas vezes por ano. Não usava óculos do Serviço Nacional de Saúde inglês. Queria armação de tartaruga.

A caridade

Apesar dos atos violentos que os colocaram na cadeia, lá dentro os gémeos Kray mostravam mais compaixão. Ronnie Kray chegou a pedir a Maureen que comprasse uma guitarra para oferecer a um colega como presente de Natal.

David Fraser chegou a cumprir pena com Reggie Kray. Lembra-se de que Kray costumava passar muito tempo ao telefone mas, no dia em que precisou de fazer uma chamada urgente dado a mãe estar doente, pediu a Reggie e ele deixou o telefone imediatamente.

Estes e outros atos de benevolência foram vistos como arrependimento por todos aqueles que conheciam Reggie e Ronnie Kray. Equanto Ronnie gostava de oferecer presentes extravagantes para mostrar o seu afeto, Reggie só pedia papel, selos e envelopes. Maureen Flanagan conta que todos aqueles que escreviam a Reggie recebiam resposta. Quando lhe pediam ajuda para resolver os seus problemas, Reggie mandava Maureen correr Londres para criar eventos de fundrasing e leilões de caridade em pubs.

Diz-se que os Kray mantiveram as aparências enquanto estavam na cadeia, sempre planeando o dia em que sairiam em liberdade. Mas David Fraser é de opinião diferente. Pensa que “no fundo, eles sabiam que nunca iam sair dali”.

Ronnie morreu com 61 anos e Reggie com 66, e ainda estavam a cumprir pena.

David Fraser acredita que estarem na prisão levou ao arrependimento. Conta que, um dia Reggie lhe disse: “Foi tudo tão tolo. Mas, no fim, é sempre tolo, não é?”