Passos ou Costa, quem tem mais história? Se nesta corrida a São Bento as sondagens mostram a coligação de Passos Coelho e Paulo Portas e o PS de António Costa muito próximos, há outras corridas em que existe um claro vencedor.
Na história portuguesa, ‘os Costas’ ganham ‘aos Passos’. É fácil encontrar ‘Costas’ nas páginas dos livros de história, mas a tarefa inversa é mais complicada. E atenção: o jogo estava bastante desequilibrado pelo que um dos ‘Passos’ nem sequer vivia em Portugal e era lusodescendente. Mas quem são estes nomes conhecidos da política portuguesa? Será que os conhece todos, e aquilo que fizeram?Comecemos com o apelido que lidera a corrida.
Falemos, primeiro, em António Bernardo da Costa Cabral, que se distinguiu pela sua política que ficou para a História como Cabralismo. Foi nomeado para ministro do Reino em 1842, depois de incitar um golpe de Estado para restaurar a Carta Constitucional porque a Constituição de 1838 era incapaz de recolocar o país em ordem. Para ist,o foi contra o governo de que fazia parte e contra a Constituição de 38, que tinha jurado defender. O cargo à frente da pasta do Reino terminou em 1846, quando o movimento Maria da Fonte o obrigou a exilar-se. Depois do regresso, Costa Cabral encontrou mais oposição do que alguma vez tinha encontrado e foi afastado pela revolta do Marechal Saldanha. A sua carreira política, exercida durante a Monarquia Constitucional, ficou marcada pelo radicalismo revolucionário. Costa Cabral foi nomeado Marquês de Tomar, apesar de ter origens modestas.
Deixamos a Monarquia Constitucional e passamos aos inícios da República. Afonso Costa foi uma figura influente do Partido Republicano e fez parte do Governo Provisório de Teófilo Braga aquando da instauração da República, em 1910. Enquanto ministro da Justiça, preparou e publicou as leis sobre a separação entre o Estado e a Igreja, o divórcio e família. Foi várias vezes chefe de Governo entre 1913 e 1917. Afonso Costa arrastou Portugal para a Primeira Guerra Mundial, pois achava que só dessa forma o país se podia livrar da tutela de Inglaterra e defender, de forma eficaz, os interesses ultramarinos. Esteve preso depois do golpe de Sidónio Pais, em 1917, e depois de liberto exilou-se em França.
Mas a Primeira República não foi duradoura e surge um Costa que lhe ajudou a pôr fim. Gomes da Costa foi Oficial do Exército e grande parte da sua carreira militar decorreu nas colónias portuguesas. Depois do início da Primeira Guerra Mundial, em que Portugal se envolveu, voltou à metrópole e voluntariou-se para incorporar o Corpo Expedicionário Português. Depois da Grande Guerra envolveu-se em conspirações políticas contra a República, o que lhe valeu a prisão várias vezes e um exílio disfarçado, quando foi enviado para inspecionar as tropas no Oriente. Depois de voltar, Gomes da Costa manteve-se ligado aos planos conspiratórios e envolveu-se na preparação do Golpe de Estado de 28 de maio de 1926 que instaurou a Ditadura Militar. Depois do sucesso do golpe, os vencedores entraram em disputas internas e Gomes da Costa derrubou Mendes Cabeçadas. Acabou por ser rapidamente deposto devido a um golpe do general Sinel de Cordes.
Durante o regime salazarista surgiu também um ministro de nome Costa. Fernando dos Santos Costa foi convidado, em 1936, para subsecretário de Estado da Guerra do Governo de Salazar, tendo trabalhado com Oliveira Salazar, o então Ministro da Guerra, em diplomas referentes a Reformas Militares. Mais tarde foi-lhe confiado o cargo de ministro da Guerra, entre 1944 e 1950, e, logo de seguida, foi-lhe entregue a pasta da Defesa até 1958. Depois de sair do Governo, Santos Costa frequentou o curso de Altos Comando e foi promovido a Oficial General.
Chegamos, por fim, ao pós 25 de Abril. Francisco da Costa Gomes fez parte da Junta de Salvação Nacional, constituída depois da Revolução dos Cravos. Antes disso, tinha sido secretário de Estado de um governo de Salazar, tendo sido destituído devido à participação num golpe de Estado falhado. A sua carreira militar esteve grandemente centrada na participação de Portugal na Guerra Colonial, em Moçambique e Angola, em funções de comando. Acabou por assumir, em 1973, a posição de chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. A 30 de setembro de 1974 assumiu o cargo de Presidente da República, até julho de 1976.
Ainda no pós-revolução destaca-se outra personalidade de apelido Costa: Alfredo Nobre da Costa. Engenheiro mecânico de formação, foi secretário de Estado da Indústria Pesada durante a o II Governo Provisório. Mais tarde, no I Governo Constitucional, foi-lhe entregue a pasta da Indústria e Tecnologia. Foi Nobre da Costa quem formou, após a demissão de Mário Soares, o III Governo Constitucional, que esteve em funções entre 29 de agosto e 22 de novembro de 78. Caiu devido a uma moção de rejeição do seu programa de Governo, votado por toda a oposição.
Então e os Passos, que estão em clara em minoria? Encontrámos apenas dois, e um deles já foge à política. Mas vejamos, primeiro, quem foi Passos Manuel. Com o nome real de Manuel da Silva Passos, ficou mais conhecido como Passos Manuel e destacou-se no cenário do Liberalismo oitocentista, enquanto líder da esquerda liberal. Passos Manuel esteve contra a regência D. Pedro IV. Fez parte da revolução setembrista de 1836 e encarregou-se da convocação de uma assembleia constituinte. A seu cargo esteve, também, a pasta do Reino. Passos Manuel dedicou-se às leis e as legislações aprovadas focavam-se na renovação do ensino público e no estabelecimento de um código administrativo.
O irmão de Passos Manuel também ficou conhecido na História de Portugal. José da Silva Passos, também conhecido por Passos José, era o mais velho dos dois e foi o primeiro presidente da Câmara Municipal do Porto eleito. Foi um civil que liderou a revolta contra a rainha D. Maria II e contra Costa Cabral, durante a guerra civil da Patuleia. Esta guerra civil opôs os cartistas (apoiados pela rainha) à aliança de setembristas (que defendiam a Constituição de 1922) e miguelistas (que apoiavam D.Miguel, ou seja, o absolutismo).
Destacou-se também Abílio Passos e Sousa. Foi militar de infantaria do Exército Português, chegando ao posto de coronel. Passos e Sousa ocupou o cargo de chefe do Estado-Maior das forças revoltosas contra a primeira República e que fizeram o golpe de Estado de 28 de maio de 1926, sendo o homem-forte da Ditadura Militar. Era um militar de ideologia liberal conservadora, que pensava a Ditadura Militar como um estágio transitório para um regime parlamentar e pluralista. O coronel Passos e Sousa ocupou, ainda, a pasta da Guerra, entre 29 de Novembro de 1926 a 18 de Abril de 1928, depois da passagem relativamente breve pelo Ministério do Comércio e das Comunicações (11 de Junho a 29 de Novembro de 1926).
Passamos, então, para o quarto, e último, Passos. John dos Passos era filho de um advogado de descendência portuguesa e licenciou-se na Universidade de Harvard. Foi um escritor americano e um grande novelista do pós-Primeira Guerra Mundial, mas nota-se uma mudança na temática e na filosofia das suas obras: passa de um carácter social, com esperança, para um ceticismo político e, por fim, um conservadorismo ultradireitista. John dos Passos foi, também, correspondente da Segunda Guerra Mundial.
A História dá a vitória aos ‘Costas’, com alguma margem de desafogo, em relação aos ‘Passos’. Falta saber se o passado vai, ou não, intervir nas eleições legislativas de dia 4 de outubro.