Não faltam elogios a Portugal no relatório extenso que o Morgan Stanley preparou em antecipação às eleições legislativas do próximo domingo. Mas, também, não faltam alertas e críticas tanto à coligação PSD/CDS como ao Partido Socialista. “Os partidos parecem mais interessados em garantir menos austeridade do que em concentrar-se nas reformas estruturais“, lamenta o Morgan Stanley, temendo um “risco de recaída, como se viu no passado“.

O Observador teve acesso ao relatório que o influente banco norte-americano enviou esta segunda-feira aos clientes e que foi elaborado por uma equipa interdisciplinar de nove analistas. Em “Portugal Election: Structural Revival or Re-Relapse“, o banco de investimento assinala que “não existem partidos de protesto significativos nas eleições portuguesas”, o que limita “o risco de que algo corra mal como na Grécia”. Além disso, “as perspetivas cíclicas [para a economia] parecem ser boas, mas os riscos de um parlamento dividido, e de um menor enfoque nas mudanças estruturais, criam dúvidas de que o crescimento potencial possa, verdadeiramente, crescer“.

No retrato que o Morgan Stanley faz de Portugal, para benefício dos seus clientes, o banco de investimento assinala que a economia está a crescer a um ritmo superior ao da zona euro e que o trabalho feito até aqui permitiu “passar de um défice gémeo nas contas públicas e no comércio externo para um superávit gémeo [saldo orçamental primário e balança comercial]”. “E várias medidas-chave deram início a um processo de mudança estrutural, mas se as eleições não produzirem um mandato decisivo para continuar no caminho das reformas, então o tecido económico poderá não se curar totalmente“.

Mais do que nunca, a economia é o fator determinante nestas eleições, diz o Morgan Stanley. “Não apenas porque, dependendo de quem ganhe, haverá diferentes políticas económicas ao nível dos impostos e das tentativas de impulsionar o crescimento cíclico”, mas porque, “o que importa para os investidores é se haverá vontade e capacidade para resolver problemas estruturais enraizados“.

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Se assim for, “então o crescimento potencial de Portugal poderá, muito bem, melhorar ao longo do tempo”. Caso contrário, “olhando além da recuperação cíclica da economia portuguesa, se as reformas estruturais não ganharem ímpeto, então é provável que haja uma recaída a dado momento“. As cautelas do banco de investimento devem-se ao facto de “isto ter acontecido várias vezes no passado, isto é, tentativas de reforma não conseguiram atingir a massa crítica“.

Onde estão as reformas, pergunta o Morgan Stanley ao PSD/CDS e ao PS

Após uma análise dos programas eleitorais, o banco de investimento critica tanto a coligação PSD/CDS como o PS. “O Partido Socialista está mais concentrado no rendimento disponível do consumidor português, ao passo que a coligação de centro-direita quer, também, reduzir os impostos às empresas”, considera o Morgan Stanley. O problema, para o banco de investimento, é que “ainda que ambos os programas se concentrem em formas de assegurar algum desaperto do cinto, não se encontra, nem um nem noutro, um plano de reformas estruturais“.

O que preocupa, também, o Morgan Stanley é a probabilidade de nenhum dos dois conseguir maioria no parlamento. “Isso poderá significar negociações longas e volatilidade política, sobretudo porque governos minoritários são acontecimentos raros em Portugal e os partidos não estão habituados a este tipo de situação”, receia o Morgan Stanley. O consenso terá, contudo, de existir, porque é dele que dependem as reformas adicionais de que o país necessita. Portugal “ainda tem trabalho a fazer”, caso contrário a recuperação recente não será mais do que cíclica e existe o tal “risco de recaída”.

No cenário otimista, “se as reformas urgentes forem feitas, isso irá melhorar as perspetivas económicas de Portugal ao longo do tempo”, ao mesmo tempo que se acelera a recuperação do rating de qualidade (aos olhos das agências que classificam a dívida pública e empresarial) e se torna mais atrativo o investimento externo em Portugal, nomeadamente no mercado de ações nacionais, “que estão nos níveis baratos” da Europa se assumirmos que as reformas serão feitas e que o crescimento potencial irá acelerar, conclui o Morgan Stanley.