“António Guterres e eu, no meio de grandes refregas político-partidárias, chegávamos a estar no mesmo hotel em vários pontos da Europa e conseguíamos, sem que os jornalistas soubessem, encontrarmo-nos às tantas da noite ou no quarto dele ou no meu quarto para discutirmos o que era bom para o país”. Marcelo Rebelo de Sousa fez de professor e reviu a matéria dada por ele e António Guterres, quando um era líder da oposição e outro primeiro-ministro num governo de maioria relativa. O almoço de empresários organizado pela Câmara de Comércio e Indústria Luso-Espanhola serviu de pretexto. O hotel InterContinental, em Lisboa, de sala de aula.

Numa altura em que todas as sondagens parecem apontar para um governo de maioria relativa, Marcelo Rebelo de Sousa dava assim o exemplo de como ele e António Guterres conseguiram (entre 1996 e 1999) segurar um governo minoritário e encontrar “consensos de regime sobre política externa, de Defesa, europeia e educativa, financeira” e até em matéria Orçamental e reforma da Segurança Social, referindo-se ao livro branco da Segurança Social, desenhado pelo governo socialista”.

Mais: até a posição final portuguesa portuguesa sobre o tratado de Amesterdão, não foi decida sem que Marcelo e Guterres não tenham “falado telefonicamente”, como fez questão de lembrar. E como nesta coisa de acordos de regime a aparência vale de pouco, o professor deixava o conselho batam-se, mas não se aleijem. “Os portugueses não precisavam de saber dia a dia [que ele e Guterres desenhavam acordos]. Provavelmente o meu partido dizia coisas terríveis do Governo e o partido do Governo dizia coisas terríveis do líder da oposição e, no entanto, o essencial estava acautelado“, sublinhou.

Daí para cá, denunciou o comentador, assistiu-se “a um regresso de clivagens em parte ideológicas e doutrinárias, por outra parte estratégicas e táticas”, que não existia desde do tempo imediato “à revolução”, muito diferente do clima que se vive na maioria dos países da Europa “em que não se discute todos os dias a Constituição, não se discute todos os dias o essencial do regime”. Para Marcelo Rebelo de Sousa, “é preciso refazer este espírito [de compromisso], porque se perdeu. E perder este espírito é perder o essencial”.

aula já ia longa, mas nem assim o professor perdia a oportunidade para deixar um apelo ao “bom-senso” dos “responsáveis políticos e institucionais envolvidos no ato eleitoral”.  Até porque, terminava Marcelo Rebelo de Sousa, os portugueses “vão exigir que as pessoas não falem demais. Que não rompam demais. Que não cortem cedo demais. Não se comprometam cedo demais. Que façam um esforço para regressar àquela memória que evoquei“.

O PSD de Marcelo viabilizou três Orçamentos do Estado invocando a necessidade de Portugal cumprir as metas europeias de modo a que Portugal pudesse aderir à moeda única.

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