A Associação de Socorros Mútuos dos Artistas de Bragança (ASMAB) foi premiada com 35.750 euros por um projeto destinado a combater a violência doméstica sobre idosos no distrito transmontano.
Bragança é o sexto distrito com maior prevalência de denúncias de violência contra idosos em Portugal, uma realidade agravada pelo isolamento e pela solidão e que levou a associação a avançar com o projeto para ir até junto dos idosos nos casos denunciados e desenvolver ações preventivas em parceria com várias entidades.
O projeto conquistou o primeiro lugar do Prémio BPI Seniores e irá imediatamente para o terreno, começando pelo estabelecimento de contactos com parceiros locais, como disse à Lusa a técnica responsável pela iniciativa, Teresa Fernandes, que apontou os maus tratos a idosos como “a mais atroz violência doméstica”.
A ASMAB irá intervir nos 12 concelhos do distrito de Bragança, encaminhando as situações de risco para o Núcleo de Atendimento às Vítimas de Violência Doméstica, que funciona desde 2006 naquela associação, com uma equipa multidisciplinar, em parceria com 10 entidades externas.
Uma técnica irá deslocar-se ao local para atendimento em caso de denúncia, quer chegue por via institucional ou por outra, e estão também previstas ações de sensibilização e distribuição de informação aos idosos.
No ano de 2014, o núcleo acompanhou 35 situações. Teresa Fernandes referiu que as denúncias de violência doméstica sobre idosos são “um fenómeno que tem vindo a crescer, ainda que de forma pouco significativa, comparando com a faixa etária dos 35, 45 anos”.
A psicóloga ressalvou, porém, que “só recentemente é que foi valorizada esta questão dos maus tratos aos idosos, com medidas para qualificar profissionais, receber as vítimas, sensibilizar as entidades”.
Recente também é a lei que criminaliza o abandono de idosos.
O propósito do projeto que vai ser desenvolvido no distrito de Bragança é “chegar a tempo, responder em tempo útil”, atendendo às especificidades desta região, com um população dispersa, envelhecida e com dificuldades de mobilidade e acesso aos serviços.
Os casos que têm sido detetados apresentam dois padrões: “a violência conjugal que se arrasta ao longo dos anos e a de descendentes diretos, bem como outros familiares que cuidam dos idosos”.
“Se é difícil denunciar um cônjuge, mais difícil é denunciar um filho”, constatou a técnica, observando que se trata de “uma violência mais atroz do que em qualquer outra faixa etária” pelas circunstâncias associadas à terceira idade, como a perda de capacidades ou a fragilidade causada pelo luto pelos que vão falecendo à sua frente.
Em vez do carinho e afetos que esperariam dos seus familiares, os idosos “são vistos como fonte de rendimentos e a reforma e património usados como fonte de sustento dos agregados familiares”, descreveu.
De acordo com a técnica, estas situações tornam-se mais evidentes com fenómenos como o regresso a casa dos pais de algumas famílias com dificuldades financeiras ou a retirada dos idosos dos lares para cortar despesa.
Teresa Fernandes sublinhou ainda que a violência sobre idosos “tem uma dimensão significativa que resulta em casos de suicídios e demência”.
O projeto da ASMAB venceu o primeiro prémio BPI Seniores em ex-aequo com a Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa.
A empresa distinguiu ainda outras 30 instituições privadas num total de 32 prémios, no valor de 700 mil euros, para projetos que apoiam os mais velhos.