Edgar Silva, de 53 anos, é o candidato presidencial apoiado pelo PCP. Conhecido na Madeira como padre Edgar, é deputado na Assembleia Legislativa da Madeira e nas últimas eleições regionais conseguiu melhorar o resultado do partido. Jerónimo de Sousa anunciou a escolha do candidato presidencial esta quinta-feira na sede do partido.
“Quem, nesta República, tem em conta os direitos fundamentais dos mais desfavorecidos? Quem escuta o clamor dos excluídos deste mundo? Quem responde por milhões de pessoas indefesas face aos “interesses do mercado divinizado, transformado em regra absoluta” (Francisco, “Evangelii gaudium” 24/11/2013)? Quem responde por tanta gente sacrificada pela desenfreada especulação financeira?”, escreveu o madeirense num artigo de opinião publicado na quarta-feira no Diário de Notícias da Madeira.
O madeirense terá agora a difícil missão de fazer melhor do que Carlos Carvalhas em 1991. Nascido no Funchal, em 1962, Edgar Silva mudou-se de malas e bagagens para Lisboa na década de 80 para frequentar o seminário e, depois, o mestrado na área da Teologia.
Voltou para a Madeira em 1987 para dar aulas e trabalhar no Movimento do Apostolado das Crianças, onde denunciou a exploração sexual e o trabalho infantil na região.
Em outubro de 1996, Edgar Silva concorre como candidato independente apoiado pela CDU nas eleições regionais. Era a estreia do padre madeirense na política. E foi uma estreia em cheio: nessas eleições, a CDU conseguiu o melhor resultado de sempre. Alberto João Jardim chegou a chamar-lhe “agitador”.
Menos de um ano depois desse resultado histórico, Edgar Silva comunica ao Bispo do Funchal a desvinculação em relação ao exercício do ministério sacerdotal e inscreve-se no PCP.
“Não renunciei a opções fundamentais, nem a valores assumidos e com os quais me identifico. O desejo de uma nova humanidade persiste como objectivo orientador das opções ao nível pessoal. A actual opção político-partidária relaciona-se com a vontade de contribuir para a edificação da democracia. Agora existe uma mais exigente forma de intervenção”, explicava Edgar Silva, numa entrevista à revista “O Militante”, em 1998.
Ainda assim, a hipótese de o candidato desistir na primeira volta a favor do candidato à esquerda melhor posicionado para vencer não está excluída – não seria a primeira vez na história e o líder comunista já admitiu que o mesmo pode acontecer nestas eleições. O objetivo de Jerónimo é claro: não deixar que a direita vença as presidenciais de 2016.
Para já, esse cenário está afastado, garantiu Jerónimo. Na apresentação da candidatura de Edgar Silva, o líder comunista sublinhou que a candidatura de Edgar Silva à Presidência da República “é para ir a votos” e se existir uma segunda volta, o partido terá de fazer uma nova análise.
“Não está no nosso horizonte desistir. Levaremos esta candidatura até ao fim. Se existir uma segunda volta logo veremos“, disse Jerónimo de Sousa em conferência de imprensa na sede do partido, em Lisboa.
E Edgar Silva pode revelar-se um candidato duro de roer. “A história tem demonstrado que, por maiores que sejam os tigres do poder, por maiores que, aparentemente, se apresentem os senhorios da governação, eles têm pés de barro e cairão”, chegou a dizer o madeirense, de acordo com a agência Lusa.
Em 2011, o Partido Comunista apoiou a candidatura presidencial de Francisco Lopes, que nestas legislativas foi cabeça de lista da CDU por Setúbal.
Cinco anos antes, foi o próprio Jerónimo de Sousa a assumir as despesas da casa e a entrar na corrida para Belém, vencida, na primeira volta, por Aníbal Cavaco Silva.
Em 2001, foi António Abreu, na altura vereador na Câmara Municipal de Lisboa, a ser o escolhido para entrar na corrida presidencial. Nesse ano, a sorte voltou a sorrir a Jorge Sampaio, que venceu na primeira volta com 55,55% dos votos.