Luís Fazenda, membro da corrente Esquerda Alternativa do BE e ex-dirigente da UDP, defende, em declarações ao Observador, que o Bloco de Esquerda pode viabilizar um Governo do PS, mas nunca aceitar negociar Governo de coligação.

“A posição do BE é muito clara desde a campanha, tudo faremos para impedir a continuidade do Governo PSD/CDS, que causou um empobrecimento terrível no país. Nada impede o PS de formar Governo, não será pelos partidos à sua esquerda que isso não acontece“, afirma o ex-líder parlamentar do BE, acrescentando: “Resta saber o que o PS está disposto a rever em nome da estabilização da capacidade governativa”.

Questionado sobre a possibilidade de o BE aceitar responsabilidades governativas, como fez quarta-feira o secretário-geral do PCP, Fazenda foi claro: “Não se está a falar de nenhuma coligação de Governo, nem de responsabilidades governativas. Estamos a falar de um governo minoritário de esquerda ou de um governo minoritário de direita”.

A última convenção do Bloco de Esquerda, em novembro, foi dominada precisamente pela questão do poder. A ala de Luís Fazenda, Esquerda Alternativa, tinha uma posição mais dura em relação ao PS e isso deu origem a que apresentasse mesmo uma candidatura alternativa à de Catarina Martins, que foi protagonizada pelo líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares. Em entrevista ao Observador, a coordenadora do BE recorda esse momento como uma das grandes zangas que teve por haver pessoas que, nessa discussão, acharam que estaria a querer dar a mão ao PS.

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“O que esteve em causa na convenção foi uma coligação governativa”, recorda Fazenda para sustentar que não há contradição com o que o BE vai agora fazer, negociações com o PS para viabilizar um Governo liderado por António Costa. A reunião entre Catarina Martins e o líder socialista será na segunda-feira, depois de ter estado inicialmente prevista para esta quinta-feira.

Segundo Fazenda, “as negociações interpartidárias estão em aberto, há uma nova realidade na Assembleia. É essa discussão que deve decorrer”. O ex-líder parlamentar manifesta-se, no entanto, “bastante cético que seja possível obter uma maioria, em relação à posição do PS”. Ou seja, que PS, PCP e BE se consigam entender para aprovar uma moção de rejeição ao programa de Governo no Parlamento. Esse é o primeiro passo. O segundo seria um Governo PS conseguir aprovar com os votos da esquerda o seu Orçamento do Estado para 2016. Sobre isso, Fazenda é evasivo. “Cada coisa a seu tempo, antes é preciso que caia o Governo de direita“.