Jantelagen. O termo, criado pelo autor Aksel Sandemose, é utilizado nos países nórdicos para dizer que, se uma pessoa mostrar o seu sucesso muito ostensivamente, deve ser desprezada e rejeitada. Com esta palavra, a revista New Yorker define o compositor Max Martin, que colocou a sua marca em 21 canções no topo das listas americanas, um número superado na história da música apenas por Paul McCartney (32) e John Lennon (26). Apesar de ser desconhecido pelo grande público e de fugir dos media, passaram pelas suas mãos algumas das músicas mais populares das duas últimas décadas.
A sua última conquista, “Can’t Feel My Face”, do cantor The Weeknd, ocupou durante quatro semanas não consecutivas o número 1 da lista da Billboard e, até ao momento, já vendeu 1,802 milhões de cópias apenas nos Estados Unidos. O triunfo aconteceu 16 anos depois de ter conseguido chegar ao topo pela primeira vez com a canção “…Baby One More Time”, de Britney Spears.
Entre as duas canções, há um repertório que inclui “I Kissed a Girl” e “Dark Horse” (Katy Perry), “I Want It That Way” e “Everybody [Backstreet’s Back]” (Backstreet Boys), “Oops!…I Did It Again” (Britney Spears), “Since U Been Gone” (Kelly Clarkson), “Problem” (Ariana Grande e Iggy Azalea), “Bang Bang” (Jessie J, Ariana Grande e Nicki Minaj), “Blank Space” e “Bad Blood” (Taylor Swift) e “Love Me Like You Do” (Ellie Goulding).
E como está Martin a desafiar John Lennon e Paul McCartney como o compositor mais popular da história da música sem nunca ter lançado um disco em nome próprio? O sueco, nascido Martin Karl Sandberg em Stenhamra, subúrbio de Estocolmo, deu os seus primeiros passos na música na escola, através do programa de educação musical promovido pelo governo do país. Na adolescência, fez parte de diversos grupos, entre eles o “It’s Alive”, no qual adoptou o nome de Martin White. Em 1991, a formação lançou o seu primeiro disco, que obteve um sucesso moderado na Suécia, mas que lhe proporcionou trabalhar com o produtor Denniz PoP, que posteriormente o convidou para produtor e compositor na discográfica Cheiron Records.
Em 1995, Martin deixou o “It’s Alive” para se dedicar unicamente à composição. Os seus primeiros trabalhos incluem canções para artistas suecos, como o grupo Ace of Base e a cantora Robyn. No entanto, foi com o seu trabalho no primeiro disco dos Backstreet Boys, em canções como “Quit Playing Games (With My Heart)” e “As Long As You Love Me”, que Martin ganhou notoriedade.
Numa das raras entrevistas que concedeu, Martin explicou que não percebeu o sucesso que estava a conquistar até alcançar o topo das listas americanas dos mais vendidos com “Baby One More Time”. “Acho que não entendíamos realmente o que estávamos a fazer. Lembro-me apenas deste momento específico. Lembro-me de estar sentado num estúdio quando me ligaram a dizer que a minha canção era número 1 nos Estados Unidos. E foi incrível, mas lembro-me também que tinha tantas coisas a acontecer naquele momento que não entendi verdadeiramente o que aquilo significava”, contou em 2008 no documentário “The Cheiron Saga”.
Como se faz um sucesso
Apesar de Martin não acreditar que exista uma fórmula perfeita para compor uma canção de sucesso, a revista New Yorker aponta duas razões principais para a sucessão de triunfos do compositor nas duas últimas décadas. A começar pela melodia, “uma mistura dos acordes e texturas das músicas dos ABBA, a estrutura e a dinâmica das canções de Denniz PoP, os refrões típicos do rock de arena dos anos 80 e os grooves de R&B do início dos anos 90″. Como resultado, Martin consegue escrever “canções felizes que soam tristes e canções tristes que soam felizes, o que serve para uma variedade de humores”, explica a publicação.
A outra razão para o seu sucesso é a metodologia de trabalho. Martin utiliza um modelo de colaboração com outros compositores, no qual cada um é responsável por compor partes diferentes da canção. Refrães podem ser extraídos de uma canção para serem testados noutra e tudo pode trocar de ordem. “As suas canções são escritas como se fossem séries de televisão, por equipas de compositores que estão dispostos a partilhar o crédito pelo trabalho”, conta a New Yorker.
Da mesma maneira que Denniz PoP foi o mentor de Martin e lhe ensinou como compor e produzir canções, o sueco também já tem uma equipa à qual transmite o seu conhecimento. Entre os seus aprendizes está Dr. Luke, responsável por canções de Rihanna, Nicki Minaj, Kesha, Miley Cyrus, Jessie J, Shakira e Pitbull.
Três fases de uma carreira
A revista Billboard divide a carreira de Martin em três fases. Num primeiro momento, as suas composições eram destinadas a boysband e cantoras pop no fim da década de 90, ajudando a trazer o género de volta às listas de êxito.
Em seguida, o sucesso em 2005 de “Since U Been Gone”, de Kelly Clarkson, primeira vencedora do programa de talentos American Idol, mostrou um novo lado do compositor sueco: melodias pop construídas em linhas de guitarra. A partir deste ponto, o seu catálogo de clientes passou a incluir Maroon 5, Pink, Avril Lavigne e Katy Perry.
Nos últimos anos, Martin ajudou a consolidar a carreira de uma nova vaga de cantoras pop, como Ariana Grande, Jessie J e Ellie Goulding, e ser responsável pela transição de Taylor Swift da música country para as rádios de todo o mundo. No entanto, foi com o The Weeknd que o compositor sueco redefiniu o seu som a partir do R&B americano de Michael Jackson e Prince.
A Billboard fez as contas: até o momento, Max Martin já colocou 58 canções no top 10 dos Estados Unidos e a lista ainda está a crescer. “Wildest Dreams”, de Taylor Swift, ocupa esta semana o número 8 da lista de vendas no país. Será a 22º conquista do sueco?