O órgão que tutela o futebol mundial tem vivido tempos conturbados nos últimos meses. Um escândalo de corrupção levou à detenção de 14 dirigentes da FIFA pela Procuradoria-Geral da Suíça, em maio, por ordem do Departamento de Justiça norte-americano. Na altura, o atual presidente do organismo estava ainda de fora das investigações. No entanto, Sepp Blatter, após ser reeleito na presidência da entidade a 29 de maio, demitiu-se quatro dias depois, alegando que a votação não fora “bem aceite pelo mundo do futebol”. Já deveria estar a adivinhar outra coisa, já que, meses volvidos, o suíço viu-se envolvido num escândalo de corrupção que o levou a ser suspenso por 90 dias pela comissão de ética da FIFA. Mas não foi o único. Também o líder da UEFA, Michel Platini, e o secretário-geral da FIFA, Jérôme Valcke, tiveram uma suspensão idêntica. Já o vice-presidente Chung Mong-joon foi banido por seis anos do futebol e multado em 100 mil francos suíços (mais de 90 mil euros).
As eleições para a presidência do organismo, marcadas para 26 de fevereiro do próximo ano, começavam assim a ficar confusas. É que tanto Blatter como Platini tinham manifestado a sua intenção de se candidatarem. O antigo internacional francês chegou a afirmar que mantinha essa intenção, mas perdeu o apoio de algumas federações internacionais, incluindo o da UEFA, organização à qual preside. A elegibilidade destes dirigentes ficou assim postas em causau.
Mas na passada segunda-feira tudo ficou delineado no que a candidatos diz respeito. Terminou o prazo para submeter as candidaturas e há muita variedade de nacionalidades. África do Sul, Jordânia, Trinidad e Tobago, Libéria, Suíça ou Bahrein são exemplos disso mesmo. Para estas eleições, que prometem ser uma das mais interessantes, disputadas e controversas de sempre, perfilam-se até um antigo preso político e dois candidatos reais. Por isso, e para não haver confusão, aqui ficam todos os candidatos que, para já, são elegíveis. Um por um:
Tokyo Sexwale
Este sul-africano de 62 anos tem uma história de vida de protesto e de ativismo. Dedicou vários anos a lutar contra o Apartheid e esteve preso mais de 10 anos, na mesma altura e na mesma prisão que Nelson Mandela. Agora, e se ganhar as eleições de fevereiro, pode tornar-se no primeiro presidente da FIFA africano.
Mas o percurso de Tokyo não se fica por aqui: já esteve envolvido no organismo, quando representou o comité de anti-discriminação e calcula-se que detenha a considerável fortuna de 200 milhões de dólares (mais de 180 milhões de euros) na sua conta bancária. O dinheiro provém, principalmente, do sucesso empresarial nas indústrias do minério e de energia. Em 2013 comprou a sua própria ilha no Oceano Índico por 70 milhões de dólares (mais de 60 milhões de euros).
Jérôme Champagne
O francês ganhou notoriedade na diplomacia política. Mas, nos anos 90, decidiu rumar ao futebol e à FIFA, onde esteve até 2010. Foi conselheiro internacional do presidente (1999-2002), vice-secretário-geral (2002-2005), secretário do presidente para assuntos especiais (2005-2007) e diretor de relações internacionais (2007-2010), sempre durante o mandato do presidente Sepp Blatter. Esteve também envolvido na organização do Mundial de 98 em França.
Há seis anos decidiu então partir para Dakar, no Senegal, para trabalhar no Festival de Artes Negras. Agora parece estar com saudades do organismo, e quer liderá-lo. Depois de anunciar a sua candidatura, Champagne escreveu uma carta às associações que fazem parte da FIFA onde dizia, entre outras coisas, que era tempo de “salvar a FIFA e o seu papel de governação e redistribuição, que está em perigo na altura em que são mais precisas.”
Príncipe Ali bin al-Hussein
É a realeza no meio da FIFA. O terceiro filho do rei Hussein da Jordânia, já se tinha candidatado contra Blatter no congresso de maio. E foi o único. Mas perdeu. Depois da demissão de Sepp, e da marcação de novas eleições, o príncipe volta a declarar a intenção de substituir o suíço na cadeira do poder do futebol mundial. Ali bin al-Hussein foi o vice-presidente da FIFA para a Confederação Asiática desde 2011.
David Nakhid
O antigo capitão da Trinidade e Tobago voltou da Líbia, onde liderava uma academia de futebol, para liderar a FIFA. O antigo médio quer que o seu país seja verdadeiramente representado no futebol internacional.
Depois do anúncio da candidatura, Nakhid afirmou à agência Reuters que “esta região tem estado subdesenvolvida devido à inépcia da liderança desta parte do mundo”. Para além disto o antigo jogador acusou Jack Warner, e vice-presidente da FIFA que foi suspenso depois do escândalo de corrupção, de “nunca ter representado verdadeiramente esta região.”
Gianni Infantino
É o candidato de última hora. Depois de a UEFA ter retirado o seu apoio a Michel Platini, na sequência da suspensão do francês pela comissão de ética da FIFA, o organismo que tutela do futebol europeu decidiu levar Infantino para as eleições de fevereiro.
O antigo braço direito de Platini na UEFA, e advogado de formação, liderou a criação do famoso Fair Play Financeiro, que obriga os clubes europeus a manter as contas em dia para poderem disputar as competições europeias. A Federação Portuguesa de Futebol já manifestou o apoio à candidatura de Gianni Infantino que é o secretário-geral da UEFA desde 2009 e é visto, atualmente, como um dos principais favoritos à vitória final.
Sheik Salman bin Ebrahim al-Khalifa
O presidente da Confederação Asiática de Futebol, (CFA) pertence à família real do Bahrein e esteve no centro da polémica quando, alegadamente, foi cúmplice na detenção ilegal e na tortura de alguns atletas que participaram numa manifestação pró-democracia no país em 2011. Desmentiu todas as acusações e, em 2013, afirmou que “sempre estive comprometido em gerir, controlar e desenvolver o nosso desporto independentemente e autonomamente sem qualquer tipo de interferências externas.”
No congresso de maio, al-Khalifa apoiou Blatter, tendo sido apoiado pelo suíço nas eleições para a presidência da Confederação em 2013.