Jacob e Evie Frye são os gémeos que nas últimas semanas têm vindo gradualmente a tomar conta do submundo londrino. Tendo iniciado a sua conquista no bairro de Whitechapel, gradualmente estendem o seu manto por toda a metrópole do Império Britânico. Simplesmente conhecidos como “The Rooks”, o gangue liderado pelos Frye controla todos os campos do mundo criminoso, desde agiotagem a assaltos, contrabando a assassinatos. O nome dos Frye tem sido o pior pesadelo dos “Blighters”, que até agora controlavam o território e têm vindo a ser eliminados ou assimilados nas hostes destes novos senhores do crime londrino.

Seria assim que começaria um artigo num folhetim de 1868 em Londres, se o enredo de Assassin’s Creed Syndicate fosse real. A nona e mais recente iteração da conhecida série de jogos do estúdio Ubisoft foi lançada no passado dia 23 de outubro para consolas e será disponível para PC dia 19 de novembro. A nova aventura tem recebido boas críticas da imprensa, classificado como a redenção do fracasso que foi “Unity”, o oitavo jogo da série. Contudo, eu não posso olhar para Syndicate como uma redenção, não posso olhar para ele como algo que melhora ou piora a série, tenho a fenomenal e ingrata tarefa de analisar este jogo com isenção, pois é o primeiro que jogo de todos os Assassin’s Creed.

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Este género de jogos nunca me interessou muito e, tirando uma breve passagem de alguns minutos no primeiro título em 2008, jamais tinha tocado num. Isto constitui uma vantagem e uma desvantagem, pois enquanto por um lado vejo o jogo como algo novo, sem comparar com várias repetições de fórmula e criticas que lhe são apontados todos os anos, por outro existem aspetos da história, pormenores que me vejo obrigado a deixar de lado, pois não tenho a base do enredo para me ajudar. E dito isso, vamos falar de Assassin’s Creed pelos olhos de quem nunca o viu.

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Prefiro retirar do caminho os maus aspetos primeiro, pois não encontro muitos. Além da já mencionada dificuldade em entender singularidades do enredo que são relativos à série existem obviamente pequenas falhas técnicas ocasionais, como um dos meus personagens ser espancado por uma barra de energia flutuante sem personagem adversária correspondente, que apesar de frustrantes não foram frequentes até agora. E quase não é necessário referir que, como em toda a indústria atual, vem pejado de conteúdos exclusivos e bónus, mas prefiro não entrar nesse campo.

Existem vários aspetos em Syndicate que merecem destaque, sendo a primeira a reprodução de Londres na época Vitoriana. Seja dos livros de Dickens (que é um personagem no jogo) ou das suas adaptações cinematográficas, Sherlock Holmes ou até os Penny Dreadful como Sweeney Todd ou a própria série de TV Penny Dreadful, temos no imaginário uma imagem de Londres entre 1800 e 1900. Essa imagem está perfeitamente reproduzida em Syndicate. As ruas, os prédios, as crianças, os polícias, as carruagens, centenas de barcos no rio Tamisa numa enchente estão de um pormenor tal, que para mais realismo só falta cheirar o fumo e poluição do carvão que constantemente ardia em toda a cidade.

Grande parte do meu interesse neste jogo vem do facto de simplesmente gostar de passear pelas ruas ou telhados, sem rumo sem objetivo, como se tivesse uma oportunidade de viajar virtualmente no tempo e conhecer uma das cidades mais empolgantes da história. Numa nota de curiosidade para dar a entender o nível de pormenor a que se dedicaram, o estúdio da Ubisoft em Singapura esteve dedicado apenas à reprodução do rio Tamisa no jogo para que fosse o mais fiel possível.

Mas não é só de belos cenários que vive um jogo e, sem querer estragar o enredo, Syndicate tem uma fórmula interessante. Tomamos controlo de Jacob e Evie Frye, criados num clã de assassinos, cada um com o seu leque de habilidades particulares e com duas personalidades muito distintas tentam assumir o controlo do crime em Londres enquanto atacam membros de um grupo conhecido como os “Templars”. Ambos são personagens interessantes os diálogos entre eles são típicos de irmãos. Enquanto Evie é uma assassina pura que prefere fazer o trabalho de forma furtiva, Jacob é um arruaceiro que não destoa minimamente do ambiente dos gangues londrinos. Estas diferenças vão mais além das personalidades deles, estendem-se até às habilidades exclusivas de cada um: as de Jacob são focadas para o combate corpo-a-corpo e as de Evie centradas no subterfúgio.

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Os criadores conseguiram criar dois jogos num só, e com as particularidades individuais de cada um dos personagens multiplicam-se as possibilidades em cada momento que passamos com estes dois. A não ser em alguns casos específicos em que, obrigatoriamente, não existe escolha, há uma possibilidade de opção nos personagens e em como enfrentar as missões. A parte principal do jogo foca-se em assassinar os membros principais dos “Templars” até chegar ao chefe do grupo em Londres. A outra parte do jogo, passa-se nas ruas onde zonas e bairros vão sendo conquistados através de pequenas missões, que vão desde libertar crianças forçadas a trabalhar em fábricas, capturar criminosos para a polícia ou conquistar um quartel-general do gangue rival.

E é aqui, mas não só, que a potencial variedade é mais evidente, porque da mesma maneira que um quartel-general pode ser conquistado através de força bruta com Jacob e alguns membros do gangue, também o pode ser por Evie, eliminando silenciosamente os seus membros, um a um. Mais cedo ou mais tarde somos obrigados a cair nas missões principais, mas é nas pequenas tarefas que encontro o grande prazer em Syndicate, nas conquistas de território, sabotagens a rivais, roubos de mercadorias e contrabando, corridas ilegais de carruagens e clubes de combate são um buraco negro de tempo livre cujo maior efeito para mim tem sido um sorriso nos lábios.

Aliado a isso a vasta variedade de armas que podemos escolher desde punhais a soqueiras, bengalas espada a pistolas e a evolução e especialização do gangue permite ao jogador adaptar o jogo ao seu estilo favorito.

Pelo ambiente que cria, personagens que me apaixonaram, e uma jogabilidade variada Assassin’s Creed Syndicate conquistou-me como fã. Um fã que vai agora passar algum tempo a rever toda a série enquanto pensa porque a deixou de lado todos estes anos.

João Machado, Rubber Chicken