Ava Gardner, o mais belo animal do mundo, como a batizou o poeta Jean Cocteau, viveu em Madrid entre 1954 e 1968. Naquele que foi o seu paradeiro durante quinze anos, chegou a ter três casas. Teve um pequeno chalé em La Moraleja e também dois apartamentos no El Viso. E, como não podia deixar de ser, não passou despercebida aos seus vizinhos, muito atentos às festas e noites de diversão, sobretudo no nº11 da Avenida Doctor Arce, conta o ABC.
As visitas à casa de Ava eram constantes, mas pouco apreciadas por quem morava ao seu lado, especialmente pelo antigo presidente da Argentina, Juan Domingo Perón, e pelo líder da direita espanhola, Blas Piñar, que nessa altura também viviam no edifício residencial. Estavam cansados do constante barulho que se ouvia todas as noites, no prédio. O espírito rebelde de Ava não se inseria no da comunidade local, habituada a um ambiente discreto e silencioso.
Perón não terá aguentado durante muito tempo as investidas de Ava Gardner e as suas desconsiderações. A hostilidade entre eles cresceu e as discussões passaram a ser habituais. Eram também constantes as chamadas do presidente argentino para a Guarda Civil, que repudiava o comportamento abusivo de Ava. Perón atingiu o limite e decidiu mesmo mudar-se para outra casa, no bairro Puerta del Hierro, até ao seu regresso à Argentina. Dizia que Ava não o deixava dormir.
A história com Blas Piñar foi mais atribulada. Segundo o ABC, o líder da direita espanhola, notário de profissão, cansado do ruído, apareceu uma vez à porta de Ava Gardner para lhe entregar um documento oficial contra o seu comportamento social, fazendo valer as suas funções de jurista, mas a conversa não terá corrido muito bem. Pinãr ficou realmente alterado e aborrecido com a situação, sendo que várias versões do sucedido revelam que Ava terá recebido o líder direitista completamente nua e embriagada, expulsando-o aos gritos.
O desentendimento entre eles foi marcante para o espanhol da extrema-direita que começou a sentir aversão aos norte-americanos num artigo publicado pelo ABC, intitulado de “Hipócritas”, em que criticava a política externa dos Estados Unidos.
Ava, essa, continuou a ser quem era, igual a si própria, tirando partido da sua enorme beleza.