Escrever sem experiência de causa não é aconselhável, embora neste caso também não seja nada fácil tê-la. Escalar até ao topo do Monte Evereste implica pensar em temperaturas negativas, em ar rarefeito e, logo, em menos oxigénio a chegar aos pulmões, em vestir camadas de roupa que acrescentam uns quilos ao nosso peso, em privação de sono devido à altitude. Mas há mais, por isso continuemos nisto, porque escalar 8.848 metros também implicar uma pessoa preparar-se para enfrentar enjoo de altitude (sim, acontece, como no mar), em ter partes do corpo congeladas (pontas dos dedos) ou até perdas de visão repentinas. Vale a pena tentar chegar ao cume de uma montanha com quilómetros de altura depois de saber tudo isto?
Fica ao critério de cada um. A verdade é que, em 2015, não houve vivalma que tenha escalado até ao topo da montanha mais alta do mundo. Ninguém o fez durante a primavera e o outono e poucos serão os que o tentarão fazer agora, no inverno — e não haver ninguém a ir espetar a bandeira do orgulho no cume do Evereste é algo que já não acontece desde 1974. Mas isso não se deve necessariamente apenas aos mil e um problemas que os aventureiros podem encontrar para chegarem ao topo, como escreve o El País. O próprio planeta deu, em abril, uma das razões.
O sismo que abanou o Nepal, de 7.9 na escala de Richter e causou a morte a mais de 8 mil pessoas afetou os Himalaias. A terra tremeu e vários trilhos de escalada resultaram danificados. Durante algum tempo não foram registadas quaisquer tentativas de chegar ao cume e a mais recente, aliás, foi em outubro. Mas Nobukazu Kuriki, um japonês, não conseguiu chegar ao topo da montanha do Evereste.
Este ano, portanto, não podia contrastar mais com o de 2013, em que se atingiu o recorde de pessoas que alcançaram o cume: 658. Nem o ano seguinte, quando o governo do Nepal decidiu reduzir o custo da licença obrigatória para qualquer alpinista tentar a sorte no Evereste (dos cerca de 23 mil euros para perto dos 10 mil), conseguiu levar mais gente a cumprir esta missão. Outro aspeto que poderá explicar a redução do número de alpinistas que alcançam o cume do Evereste é o reforço do lado turístico da montanha.
Existem éne empresas de turismo que vendem pacotes para subidas organizadas à Montanha do Evereste. Quem hoje for rico o suficiente (sim, porque a palavra é mesmo esta), pode pagar para um helicóptero o levar até à Base 1, a primeira paragem para atacar a montanha. Se tiver mais dinheiro para gastar até consegue ter lá uma tenda aquecida, com camas, e até um médico e várias pessoas para carregar material, à espera. Palavra de quem é uma das mais de quatro mil pessoas que já escalou até ao topo. Nenhuma o fez este ano, mas isso já tínhamos escrito.