Não é propriamente um Alberto Caeiro ou um Ricardo Reis mas Hans Nurlufts é um homem com mundo. Entre Espanha, Bélgica, Alemanha, São Tomé e Príncipe e Angola, Nurlufts tem uma especial aptidão para a literatura erótica particularmente gráfica, ao mesmo tempo que trata de temas geo-políticos e denuncia a corrupção. Hans Nurlufts, contudo, nada seria sem a imaginação do seu criador: João Soares, novo ministro da Cultura com a tutela da comunicação social.

Após a sua derrota eleitoral enquanto presidente da Câmara de Lisboa frente ao challenger Santana Lopes, nas autárquicas de 16 de dezembro de 2001, João Soares virou-se para escrita como uma forma de terapia pela imensa desilusão que sentiu com o resultado. Além de publicar um livro que reunia vários artigos publicados no Diário de Notícias, Soares editou duas obras em espanhol e em inglês, assinadas por Hans Nurlufts e John Sowinds — o segundo heterónimo, que assinou uma obra publicada na Nova Zelândia intitulada Vidigueira, dedicada à terra alentejana conhecida pelo seu vinho

Os próprios nomes dos heterónimos não escondem a ligação ao autor. O primeiro é uma junção de Hans/Johan, o equivalente a João, com Nur (só/somente) Lufts (ares) – João Só Ares, portanto. O mesmo nome que podemos aplicar a John Sowinds.

Concentremo-nos em Hans Nurlufts. Para que não restassem dúvidas sobre quem era o autor do livro, João Soares fez mesmo questão de publicar uma fotomontagem na contracapa do livro El Síndrome de la Hormiga (O Síndrome da Formiga) (Cicon Ediciones, Granada), obra assinada por Nurlufts.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

el síndrome de la hormiga, hans nurlufts,

A biografia de Nurlufts

Hans Nurlufts tem uma biografia com fortes ligações políticas. João Soares criou Nurlufts como um alemão nascido no final dos anos 40 numa pequena cidade do Estado Bade-Wurttemberg (cuja capital é Estugarda), integrando-o num ambiente real e a interagir com personagens históricas dos movimentos estudantis de extrema-esquerda que tiveram uma grande influência na Alemanha nos anos 60 e 70. Nurlufts estudou em Iserlohn — perto de Dortmund –, licenciou-se em engenharia electrotécnica e, desde muito jovem, desenvolveu atividade política nos movimentos estudantis de esquerda, tendo feito parte da direção nacional do SDS – Sozialistische Deutsche Studentenbund (Associação de Estudantes Socialistas) liderado por Rudy Dutchke. No ambiente político alemão bastante radicalizado, em que os jovens defendiam revoluções marxistas numa sociedade capitalista em grande crescimento económico, Nurlufts não seguiu as tentações do terrorismo seguido por “antigos companheiros” como Ulrlike Meinhof, um dos líderes do Rote Armée Fraktion (Fração do Exército Vermelho). Acabou por fixar residência em Sagres, Algarve, depois de começar a viajar pelo sul da Europa (Grécia, Espanha e Portugal) com o objetivo de participar em “numerosas missões de solidariedade internacionalista, especialmente de apoio a jovens que se organizavam para devolver a liberdade aos seus países”.

Quem foi Rudi Dutschke?

Mostrar Esconder

Líder estudantil marxista na República Federal Alemã no final dos anos 60. Nascido na República Democrática Alemã, emigrou para Berlim Oeste, onde defendia um caminho para o socialismo. Foi um dirigente estudantil influente, tendo sido alvo de uma tentativa de homicídio em 1968. Atingido a tiro duas vezes na cabeça, sobreviveu por milagre. Morreu na Dinamarca em 1980, vítima de sequelas desse atentado.

El Síndrome de la Hormiga, publicado em 2002 na cidade espanhola de Granada (com impressão em Badajoz) e que teve honras de recensão na revista Actual do semanário Expresso no inicio da década passada, tem sempre presente a luta contra as ditaduras — vermelha ou preta, de esquerda ou de direita. São cinco contos marcados pelo amor à liberdade e pelos horrores da Alemanha de Hitler, da Espanha de Franco e da União Soviética de Estaline ou do nepotismo do regime de José Eduardo dos Santos em Angola. João Soares tudo denuncia, quase sempre com as mulheres como protagonistas.

el síndrome de la hormiga, hans nurlufts,

Dos cinco contos há três que se destacam:

  1. “Café de Lieja”

Recorrendo ao foco narrativo na primeira pessoa — e escrevendo num castelhano que em certas partes mais parece ‘portunhol’, a negação quase ideológica da principal língua espanhola –, o heterónimo de João Soares assume ele próprio diferentes papéis. Neste conto, é um historiador que investiga a deportação de espanhóis republicanos derrotados durante a Guerra Civil de Espanha para os campos de concentração da Alemanha nazi e que se apaixona pela catalã Nuria na cidade belga de Liege (Lieja, em castelhano). Nascida na vila de St. Feliu de Guixols, Nuria é licenciada em Ciências da Comunicação, jovem intérprete de uma empresa privada que trabalha com a Generalitat (o governo regional da Catalunha) e é neta de um conhecido militante anarco-sindicalista catalão morto durante a Guerra Civil de Espanha.

O romance entre o narrador e Nuria, que partilham uma grande admiração pelo intelectual espanhol Jorge Semprún, é intenso e descrito com pormenores eróticos muito em voga na literatura atual de grande sucesso comercial, de que o título As 50 Sombras de Grey é o melhor exemplo. É este romance, mais concretamente um encontro entre os dois amantes no Hotel Arts, na renovada Barcelona pós-Jogos Olímpicos de 1992, que acaba por marcar o conto de Soares/Nurlufts. [Leia as páginas deste conto nas duas imagens seguintes; para as ampliar, só precisa de carregar por cima das fotos.]

el síndrome de la hormiga, hans nurlufts,

el síndrome de la hormiga, hans nurlufts,

Também as instituições políticas catalãs foram alvo da atenção de Nurlufts. “Os catalães movimentam-se de forma eficaz nas diversas instituições da União Europeia. E onde está disponível um euro, ali estão eles fazendo o seu lobby, movendo as suas influências”, lê-se em El Síndrome de la Hormiga. No tempo narrativo do “Café Lieja”, a Câmara de Barcelona era liderada pelo socialista Pasqual Maragall (alcaide entre 1982 e 1997), que também viria a ser o presidente da Generalitat entre 2003 e 2006.

Não falta igualmente uma referência a Fernando Pessoa e a Lisboa, a propósito de uma exposição no Centro de Cultura Contemporânea de Barcelona dedicada ao escritor português.

2. “Carta a La Muerte”

O Partido, a Fundação e o suicídio de Pepe com duas armas, uma em cada mão, são a base da trama do segundo conto, que tem Madrid e a Galiza como palco. E a carta deixada por este antigo militante comunista, que se suicidou na sede da Fundação onde trabalhava, o fio condutor para ficarmos a conhecer o passado de Pepe. Na missiva, deixada aos responsáveis pela Fundação liderada por um alemão, é recordada a antiga amizade do falecido com um diretor de um dos principais jornais de Madrid e Barcelona, o Despacho, conhecido por divulgar escândalos das principais figuras políticas espanholas. Tudo para Pepe deixar uma ameaça velada de que seria enviado para o Despacho um dossiê comprometedor para o Partido, a propósito do financiamento ilícito que era feito através da Fundação, se o seu nome fosse atacado na imprensa ou a sua mulher não recebesse uma indemnização da Fundação.

Claro que todo fue saldado de inmediato. Y lo más probable sería que aquella amenaza, de hecho sin ningún fundamento, no pasara apenas de eso. Sin embargo, cumplió su objetivo. Sobre el asunto colocaron una pesada piedra. Las noticias em la prensa no pasaron de las tres o cuatro líneas com que suelen ser resueltos, por la comunicación social, los más insignificantes fait divers del área del crimen. Y a pesar de la biografia del suicida, de sus conocidas relaciones con diversas figuras políticas y de sus amplios conocimientos sobre los asuntos del Partido que controlaba la Fundación, donde habia ocorido el suicidio, las cosas quedaron realmente ahí. Curioso, por lo menos, curioso“, escreve Nurlufts.

A partir do suicídio, o narrador conta a história de Pepe — que conheceu em criança num colégio interno da família, em Vigo. “Una esculea conocida y respetada no sólo en Galicia sino también en toda España. Una institución por donde habían pasado muchos demócratas y republicanos a lo largo de los tiempos más negros y dificiles de la dictadura”. Ainda na Galiza, entre o bacharelato e a universidade, Pepe aderiu no início dos anos 60 à luta clandestina contra a ditadura de Franco, criando o Grupo Socialista de Ação Antifascista — uma organização que defendia os valores da social-democracia nórdica com uma particularidade pouco nórdica: a defesa da luta armada para promover a queda de Franco.

O primeiro e último ataque terrorista da organização de Pepe foi à central telefónica da polícia. A inépcia e o amadorismo dos latinos mais nórdicos de Espanha não provocou mais do que algumas manchas de fumo.

Pepe deixou a luta armada e, após a sua prisão, juntou-se ao mais organizado e disciplinado Partido Comunista. Após a transição democrática liderada pelos moderados de Alfonso Suarez, Pepe ficou funcionário politico do PC quando a maioria dos seus amigos pertenciam ao Partido Socialista. Anos mais tarde, e com a ajuda da sua mulher Luísa, Pepe rompeu com o PC.

La ruptura empezó a dar sus primeros pasos y señales en el momento de las eleciones del 86. Entonces, junto con otros compañeros, expresó algunas diferencias tácticas respecto de las posiciones oficiales hacia la candidatura socialista, en aquella confrontación tan importante para la iziquierda. E inmediatamente después de la victoria decidió su ruptura com la estructura del Partido Comunista.”

A explicação oficial de Pepe para a saída, contudo, teve pouco de política. Alegou problemas afetivos e financeiros que não conseguia resolver. Foi o narrador que lhe arranjou trabalho na Fundação — uma organização aparentemente de fachada que “servia exclusivamente para assegurar a recepção de alguns, poucos, apoios externos para o Partido”. Aqui começou a praticar pequenos desvios financeiros para acudir a necessidades da sua vida. Foram essas “pequenas irregularidades” que o motivaram a fazer um balanço da sua vida e a decidir-se pelo suicídio — classificado pelo narrador como “um ato de amor” para consigo próprio e “un último ajustar de cuentas para con la amistad y sus caminos sinuosos y repletos de cambios de sentido”.

3. “La antigua colonia portuguesa”

É a história politicamente mais sensível a partir do momento em que João Soares se tornou ministro da Cultura do XXI Governo Constitucional. O conto tem a ver com Angola e um dos personagens chama-se Zedu — o petit nom de José Eduardo dos Santos, presidente da República de Angola. João Soares sempre apoiou a UNITA de Jonas Savimbi, sendo que esteve às portas da morte precisamente por causa da sua militância pró-Savimbi. Em setembro de 1989, no regresso de um Congresso da UNITA, uma avioneta Cessna que transportava João Soares, Rui Gomes da Silva (PSD) e Nogueira de Brito (CDS) despenhou-se na África do Sul. Soares foi o passageiro que sofreu ferimentos mais graves por encontrar-se no cockpit na altura do acidente. Ao contrário do seu pai, o agora ministro da Cultura nunca abrandou as suas críticas ao regime do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e ao que classifica ser uma “cleptocracia”. Como demonstra este conto.

Um diplomata britânico, um oficial da marinha ao serviço da secreta militar portuguesa e uma bela portuguesa que tem um caso com a eminência parda do regime africano chamado Zedu — são as personagens. E a trama? “Como es frecuente en estos casos, está compuesta de amor, dinero, deseo y, sobre todo, celos [cíume] e envidia [inveja]. Muchos celos y mucha envidia”.

Hans Nurlufts, numa espécie de reminiscência de Graham Greene, assume aqui o papel de um diplomata britânico que é colocado na embaixada do Reino Unido em São Tomé e Príncipe. O tempo da narrativa não é claro mas varia entre o final dos anos 80 e o início dos anos 90 — altura em que a Guerra Civil de Angola estava ao rubro, com o MPLA de José Eduardo dos Santos de um lado e a UNITA de Jonas Savimbi do outro. O conflito era um espelho da Guerra Fria, em que os Estados Unidos (e a África do Sul) apoiavam a UNITA e a União Soviética (e Cuba) suportavam e financiavam o regime do MPLA. São Tomé e Príncipe era um arquipélago que também vivia a ditadura do partido único e tinha (e tem) uma longa ligação económica com Angola.

A história: um diplomata britânico, em trânsito de Bangkok para o Golfo da Guiné, encontra-se com um diplomata português em Londres, no Reform Club — o clube de cavalheiros que ficou conhecido no romance de Júlio Verne A Volta ao Mundo em 80 dias por ter sido aqui que Phileas Fogg fez a sua famosa aposta.

(…) A lo largo de esa noche de deliciosa conversación alrededor de una mesa llena de platos exóticos y de sabores refinados, me contó una historia fascinante. La de una grande operación en curso en el Africa subsahariana, para poner fin a la más extensa y mortífera guerra civil del continente africano: la guerra de Angola. Y de cómo el pequeño estado independiente instalado en las islas del archipiélago de Santo Tomé y Príncipe jugaba un papel en ese conflicto que, en aquel momento, se pensaba podía ser determinante. La guerra de Angola era una larguissíma guerra civil, com una clara base regional y étnica, pero que, en ocasión, se travestia em los ropajes de un conflito entre los dos bloques del Este y Oeste. La ideia que los portugueses intentaban transmitir a los americanos en esa época era que sería possible, a partir de un ejemplo exitoso ocurrido en Santo Tomé – con quien Angola mantenía vínculos tan amplios y sólidos que configuraban para el pequeño archipiélago un estatuto de casi absoluta dependencia económica -, convencer a la nomenclatura del poder de Luanda de que era posible abrir el sistema político, hacer una cosmética democrática y mantener el poder, después de una legitimación sui generis a través del voto

Para alcançar esse objetivo, entra em cena Anabela Simões. “La señora Anabela Simões”, uma bela portuguesa a meio dos seus trinta, que se encontrava em São Tomé após uma separação que a tinha marcado duramente — o marido, ilustre professor de Coimbra, trocou-a por um homem.

Anabela era (…) una mujer más que llamativa. A su alrededor se despertaban los más imprudentes apetitos. Apetitos que, enseguida, ella misma se encargaba de transformar en garantias de futuro, tan seguras como podía ser posible en aquel complejo contexto ecuatorial”

A femme fatale acabou por ser recrutada pelo capitão de fragata A. Homem, no bar do Hotel de Telinger — um sul-africano que detinha o único hotel digno desse nome em São Tomé depois de ter feito fortuna em Luanda nos primeiros anos de independência. A. Homem pertencia à secreta militar portuguesa e sabia que Anabela tinha um caso com o secretário do partido único são tomense e chefe das “reduzidas” forças armadas locais. Era uma espécie de “eminência parda” que ia frequentemente ao Palácio Futungo de Belas, o célebre palácio presidencial angolano, onde era considerado um amigo especial. Nome? Zedu.

Depois de Anabela seduzir Zedu numa festa na Embaixada de Itália, ficou combinada uma viagem a Nice, na Côte d’Azur.

(…) donde el personaje de Futungo tenía una imponente mansión a la que se trasladaría para una prolongada estancia de reposo. El impresionante Boeing 707 del angoleño haria una escala técnica en Santo Tomé para llevarse consigo, en sus refinados aposentos aéreos, a aquellos dos ilustres y fraternos invitados. (…) Tres semanas después, cuando la aeroave de matrícula angoleña aterrizó para efectuar la escala técnica en Santo Tomé y el guardaespaldas de Alemania Oriental abrió la puerta de la cabina y deparó las honras de bienvenida a los dos convivientes, ellos ya habian sido reconocidos públicamente como amantes. Habían sido vistos juntos muchas veces, incluso entrando o salilendo del Hotel de Telinger a horas improprias para todo lo que no fueran juegos de cama. El viaje en avión de Zedu y su compañia fueron pintorescos y divertidos, a pesar de los guardaespaldas cavernícolas, casi todos provenientes del bloque del Este. El aparato era un modelo igual al que Mobutu utilizaba en sus buenos tiempos, y que continúa todavía abandonado en el aeropuerto de Lisboa. Muy modernizado, aunque sin las exuberancias del lujo exhibicionista del léon del Zaire en sus mejores momentos, era muy seguro e confortable (…) (los hombres y las respectivas cortes se mueven a un ritmo que, probablemente, tiene como inspiración los movimientos patrimoniales y el de las respectivas cuentas bancarias diseminadas por los paraísos fiscales del mundo por donde giran a velocidades meteóricas. En estos casos, la tropa fandanga no se detiene y siempre encuentra un pretexto oficial para decidir un viaje más).”

Pelo meio, e enquanto os personagens não aterram na Riviera francesa, Hans Nurlufts faz ainda referência a outra viagem, a do então primeiro-ministro português a São Tomé. Tempo da narrativa: final dos anos 80. Primeiro-ministro real na época: Aníbal Cavaco Silva.

Mucha gente volvió a pasar por Santo Tomé em esos finales de los años ochenta. El primer ministro portugués de la época, um hombre de apariencia un tanto severa y apesadumbrada, sobresalió de forma notable en las islas del archipiélago por sus muy fotografiadas escaladas a los cocoteros y casi siempre acompañado de los responsables políticos y técnicos de las campañas electorales del partido que le sustentaba en Portugal

Voltamos a Nice, para onde o casal amoroso da história de Soares/Nurlufts se dirigia. Eis a descrição da viagem:

(…) el menos complicado de todos seguia siendo el viejo Zedu, amante de viola y cinéfilo, muy avezado en los viejos clássicos del cine. Gustador de mujeres bonitas, preferentemente jóvenes, evitaba los contactos com el exterior e imponía su voluntad por medio de esbirros y secundones, pasando de la dulce apariencia a la práctica férrea y sin posibilidad de contradicciones. Durante el viaje, Anabela se dio cuenta que él la observaba como a un trozo de carne jugosa que queria concederse a sí mismo más tarde o más temprano”.

Já na Riviera francesa:

En Niza [Nice, França], durante la semana en que estuvieron todos juntos a su costa y bajo su mando, él se la arregló de una forma discreta para pasar con ella unas horitas. Encontró una excusa a propósito de una ida a Cannes para un encuentro en el Majestic (el hotel del festival de cine) con um dos los muchos banqueros franceses con quien mantenía vinculaciones. Y el, una pequeña eminencia parda de un pequeño pais pardo en el escenario internacional, le pusieron literalmente en los brazos dos deslumbrantes putas francesas de gran lujo. Volvió con la tendencia a disculparse por el tiempo que había estado fuera, en lugar de pedir explicaciones. Anabela, después de aquella horita y media, quedó con la entrada asegurada en el palacio Futungo y con una insistente invitación para ir muy pronto a Luanda”.

De regresso a São Tomé, e um mês depois, Anabela e o capitão de fragata A. Homem conseguem atingir o seu objetivo, sob o olhar atento de Hans Nurlufts:

Un mes después de vendida a la cúpula dirigente de Santo Tomé la idea de la apertura y de las elecciones, fue ella quien, en Luanda, arrancó al Futungo el acuerdo e la garantia de un apoyo substancial y sin defecciones. Incluso trajo consigo una maleta cargada de cheques de quinientos francos franceses para las primeras necesidades. Era una pequeña parte de una entrega de la ELF para Zedu que él, generosamente, remitía a sus amigos de la isla del golfo de la Guinea. Anabela, que ofició de transporte, tendía sus parámetros personales a considerar como valiosas las fodas que protagonizara en Luanda. Entretanto, Zedu, que pensó en el asunto en el mismo instante, y certero como era en materia de contabilidades políticas, hasta llegó a creer que la fiesta le había salido barata!”

(Contextualizando: a ELF era a principal petrolífera francesa até se ver envolvida num escândalo de corrupção e branqueamento de capitais que envolveu diversos políticos franceses mas também membros de outros governos europeus e africanos. Por exemplo, Roland Dumas, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros de François Mitterrand e presidente do Conselho Constitucional de França, foi uma das figuras políticas caídas em desgraça com o caso ELF. Posteriormente, a ELF foi adquirida pela Total).

A chegada “del señor Trovoada” (o primeiro Presidente de São Tomé e Príncipe eleito num escrutínio livre e democrático, em 1991) acelerou o processo e facilitou o objetivo final da dupla Anabela/Homem: a democratização do regime. Zedu, a eminência parda, fugiu como “un pollo mojado por la lluvia”. Anabela Simões? Esgotados os recursos financeiros providenciados por Zedu, passou uns dias numa suite do Le Meridien, em Luanda.

(…) decidió irse deprisa de allí. Le digustaba mucho el hecho de comer quesos franceses y beber champaña de reconocidas marcas, envuelta em el aire acondicionado del hotel o en las escapadas eróticas por la zona privada de Futungo y ver en la calle, junto a las alcantarillas del hotel, centenares de niños recogiendo restos de comida para el dia. Guardó las joyas que le habían regalado, anunció que tenia que ir a Coimbra a visitar a sua madre enferma, se metió en el avión e nunca más volvió por aquellos lugares”

The End.

Ou melhor: Fin.