Foi no passado dia 12 de dezembro que o Clube de Vela do Barreiro (CVB) organizou uma regata com o intuito de juntar 18 praticantes de várias idades. A interação entre os dois grupos serviu para que os menos experientes entrassem no espírito de competição a que os mais velhos já estão habituados.

Em entrevista ao Observador, Duarte Romão, presidente da direção, refere que “estas regatas internas têm o objetivo de criar sinergias entre as classes menos experientes (7-12 anos) e as classes mais experientes (12-14 anos). Os mais velhos acabam por ser uma espécie de ídolos da modalidade, uma vez que são eles que transmitem a sua experiência aos que agora começam”, refere.

Manuel Ramos tem 13 anos e olhos da cor do mar. Pratica vela há cinco por influência do irmão mais velho que já era praticante da modalidade. “Vim, experimentei e fiquei”, diz-nos. Está no 8º ano e aproveita os dias da semana para estudar. “Ao fim de semana tenho menos tempo pois venho treinar”. Consegue conciliar o estudo com a prática da vela de forma equilibrada até porque “tem boas notas”. Manuel leva a vela muito a sério, contando já com títulos de “campeão nacional de infantis, campeão ibérico e vice-campeão nacional”. A escola e a vela têm de andar a lado a lado.

Manuel Ramos, com 13 anos, é praticante de vela

Manuel Ramos, com 13 anos, é praticante de vela / OBSERVADOR

Duarte Romão refere que “somos um pouco exigentes e todos eles têm de ter boas notas e comunicar-nos os resultados escolares. É importante que percebam que a vela é um complemento do estudo e essa gestão é essencial”, assegura.

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Conforme vão evoluindo, tornam-se mais exigentes. O medo faz parte ainda que Manuel não o sinta. “Estou a fazer o que gosto e sinto adrenalina”. É com agrado que participa na regata com os mais novos. “Também fui ajudado quando comecei e esta é uma forma de retribuir e tentar ajudá-los”, afirma. Tranquiliza os pais que têm receio da modalidade. “Estamos em segurança. Há sempre um barco de apoio para o caso de acontecer alguma coisa”.

Tiago Wanzeller, de 9 anos, pratica vela há dois. “Gosto muito de vela e de andar no mar”, explica. De sorriso cativante e expressão traquina, responde que sente algum medo sobretudo quando está muito vento.

Tiago Wanzeller tem 9 anos e pratica vela há dois

Tiago Wanzeller tem 9 anos e pratica vela há dois / OBSERVADOR

Perguntamos-lhe como reage quando isso acontece. “Folgo a vela, a proa ao vento e fico ali… Aponto para a direção do vento, o barco começa a parar e espero que o treinador venha ter comigo”, responde com a tranquilidade natural da idade. Tem boas notas mas não gosta muito de português. Prefere matemática. Sabe que tem de se aplicar na escola para conciliar com o desporto. “Quando trago trabalhos de casa ao fim de semana, costumo fazê-los antes da vela porque depois dos treinos volto muito cansado”. E desengane-se quem pensa que só os rapazes é que praticam vela. No CVB também há raparigas, embora em menor número.

Desenvolvimento de competências

Os treinos acontecem aos sábados e aos domingos. “Aqui no Barreiro temos o problema das marés, acabamos sempre por definir os horários de acordo com as mesmas. Quando está vazia, não dá para treinar”, salienta Duarte Romão.

E quais são, afinal, as vantagens da prática de vela para estas crianças e jovens? “O Optimist é um barco de iniciação, onde se começa a trabalhar muito cedo. Os miúdos estão dentro de água, num meio diferente daquele a que estão habituados, estão sozinhos, têm de perceber de onde vem o vento e conciliar uma série de situações difíceis”, acrescenta.

Os níveis de concentração são fundamentais, assim como a tomada de decisões. “A vela é o motor do barco, o que implica que tenham de estar sempre concentrados. Têm de pensar a nível de estratégia, são obrigados a tomar decisões e a estar atentos relativamente a uma série de fatores, dentro e fora do barco”. A estas vantagens, acresce o facto de terem de estar preparados para qualquer eventualidade. “Os treinadores não podem falar com eles a meio de uma prova”. Desenvolvem-se assim uma série de competências “essenciais para o seu crescimento e determinantes no futuro”.

A preparação para uma regata é feita por todos

A preparação para uma regata é feita por todos / OBSERVADOR

Estas regatas servem essencialmente para preparar os alunos para provas futuras. “É uma forma de ajudá-los a criar uma rotina e a prepará-los para uma competição”, sublinha o presidente, acrescentando ainda que “todos os finais de meses são organizadas experiências para quem quiser experimentar a vela, sem compromisso”.

Que critérios são precisos para praticar vela? Duarte Romão garante que apenas é preciso saber nadar. O facto de muitas vezes os filhos estarem horas seguidas ao vento e ao frio, faz os pais hesitarem na decisão de os deixar praticar o desporto. “Tem de se gostar bastante. Costumo dizer que quem aguenta o inverno não desiste”. A escola de Vela tem barcos, velas, coletes e fatos próprios. “Os barcos fazem a diferença mas quanto mais treinarem, melhor preparados ficam”.

E além de entrarem na água, trabalham coletivamente. São eles que preparam os barcos e tratam de toda a logística antes dos treinos. Ajudam-se todos em terra, mas dentro de água correm individualmente, promovendo-se uma competição saudável, em que só um chega à frente e ganha”, explica Duarte Romão.

Portugal recebe Mundial de Optimist

Esta é uma modalidade “cara” que requer algum investimento financeiro. Para fazer face às despesas, o CVB conta com alguns apoios particulares e coletivos. “Uma vela de competição custa aproximadamente 500 a 600 euros e é normal que se troque todos os anos. Por vezes, chegam a trocar de vela duas vezes por ano, ao contrário das escolas que não têm a mesma necessidade.

A EDP tem uma parceria com a Fundação Portuguesa de Vela

A EDP tem uma parceria com a Fundação Portuguesa de Vela / OBSERVADOR

A EDP dá-nos esse patrocínio através de uma parceria com a Federação Portuguesa de Vela”, refere o responsável. A empresa entrega mais de 400 velas a 47 escolas – onde se inclui o CVB – e ao Desporto Escolar, apoiando ainda a realização de campeonatos nacionais de infantis / juvenis, incentivando novas gerações a praticar desporto, em particular, as modalidades ligadas ao mar. “Este material é uma grande ajuda. É igual para todos os praticantes e tem uma grande durabilidade”, sustenta Duarte Romão.

O ano de 2016 vai ser marcante para a modalidade. O Mundial de Optimist vai realizar-se no mês de julho no Clube Internacional da Marina de Vilamoura. Portugal foi o escolhido entre cinco países que concorrem à organização da prova que decorreu na Argentina no ano passado.

Para mais informações, consulte o site optimistportugal.org.