É “amigo do amigo”, daquelas pessoas “sempre dispostas a ajudar”, e só assim deixaria boa impressão em alguém que o conhece e com ele já jogou à bola. Quando ainda corria no campo em vez de mandar do banco como é que os outros devem correr era “um gajo porreiro no balneário”. Fora dele não é que não o pareça, mas os berros que o fazem rouco em todas as partidas e os discursos quase sempre com ar de quem está chateado não ajudam. Leva o que faz muito a sério, tem “uma mentalidade ganhadora” à brava e por vezes até se deixa levar com tanta emoção que leva para os jogos. Sérgio Conceição é assim.
Ou melhor, é-o aos olhos de Vieirinha, que o conhece de Salónica, onde o hoje treinador do Vitória de Guimarães passou os últimos dois anos de jogador. O recém-lateral direito e ex-extremo também disse na entrevista ao Expresso que Sérgio Conceição “conhece os cantos à casa” do FC Porto e disse-o porque, durante a semana, tudo quanto era jornal desportivo o deu como o homem que os dragões querem para o lugar que Rui Barros está a aquecer desde a saída de Julen Lopetegui. Mas o técnico não gostou — leu e ouviu dizer que podia prejudicar a atual equipa para favorecer a que toda a gente (menos ele) diz ser a sua próxima. Admitiu que este “foi um tema falado no balneário” e a conversa teve muitos ecos no relvado.
Não porque os vimaranenses tiveram a bola durante mais tempo, trocaram mais passes ou inventaram mais jogadas em que alguém ficou em situação de rematar à baliza. Não. Foram é quase sempre mais agressivos nos momentos em que a bola estava indecisa se preferia o branco ou o azul-e-branco, tiveram mais raça nas alturas em que se devia pressionar o adversário e, sobretudo, foram mais organizados a fechar os espaços em torno da própria baliza. E acreditaram, como Bouba Saré acreditou, que alguma coisa ainda podia acontecer à bola que Cafú rematou à entrada da área contra a cabeça de Pedrão e ressaltou, como um balão, para junto da baliza. Acreditou que um guarda-redes que já ganhou tudo e mais alguma coisa podia errar e pôs-se a jeito para aproveitar o erro que Iker Casillas cometeu ao tentar agarrar uma bola que era para desviar por cima da barra.
Essa bola escorregou-lhe, caiu na relva e no remate do médio costa-marfinense, que logo aos 4’ dava o 1-0 que o FC Porto não conseguiu virar. Porque à medida que Sérgio ia berrando ordens e mantendo os jogadores na linha do que tinham falado, os dragões parecia impor a regra de que se começavam a atacar de um lado tinham de chegar à baliza por esse lado. Até ao intervalo não faziam a bola rolar da direita para a esquerda e as jogadas que abundaram para Corona e Maxi escassearam para Layún e Brahimi, argelino que se fartou de recuar até à linha do meio para conseguir tocar na bola. O melhor a inventar coisas com bola não a tocava sequer perto da área.
Os portistas não faziam mexer os adversários e só aos 16’ é que Corona e André André viram como João Miguel era um guarda-redes dos bons. Cafú e Bouba Saré, sem bola, eram trincos que não deixavam o FC Porto jogar pelo meio e, com ela, eram rápidos a cumprir ordens e a inventar passes para as costas dos defesas portistas ou para as corridas de Ricardo Valente e Tyler Boyd. Mas o que acontecia sempre até ao intervalo deixou de acontecer na segunda parte. O Vitória queria a primeira vitória caseira contra os dragões em 14 anos e fechou-se a defender para raramente se abrir a atacar. E mesmo que tenha sido “complicado trabalhar sobre as notícias” que colocavam o nome do treinador e do FC Porto na mesma frase, os vimaranenses tiveram tino.
Mesmo com Herrera e Danilo a perceberem que a bola tinha de passar uns segundos de um lado e puxar as atenções dos adversários para, depois, ser virada rápido para o outro, o Vitória portou-se como Sérgio Conceição queria. O FC Porto lá conseguiu que os 70% de posse de bola que foi tendo dessem, às tantas, que Brahimi rematasse na área ou que Silvestre Varela disparasse duas bolas à baliza. Os laterais já pareciam extremos, as tabelas rápidas sucediam-se, mas as oportunidades não foram mais porque os vimaranenses sobrepovoavam a área e obrigavam os dragões a arriscar e falhar muito — e porque Aboubakar, aos 60’, falhou na bola que Layún lhe cruzou, rasteira, para o pé esquerdo.
“Os meus jogadores são uns guerreiros, gente de grande caráter. Falar de mim, desta semana. Toda a gnete conhece o meu eprcuros, a minha vida. Os meus pais eram analfanetos, mas passaram-me princípios fantásticos. Têm a ver com a dignidade, seriedade e e honestidade. E esta semana sofri com isso tudo. Sou pai de cinco filhos, tenho irmãos e tenho famíla. É só isto que quero dizer.”
Não houve um ataque que o Vitória conseguiu levar até à baliza de Casillas na segunda parte. Mas a equipa foi agressiva, organizada e consciente do que não valia a pena tentar fazer, se queria ficar com a terceira vitória em casa neste campeonato (contra as quatro que têm fora dela). Foi assim que lutou pela “dignidade, seriedade e honestidade”, os valores que Sérgio Conceição viu serem postos em causa durante a semana e pelos quais terá distribuído os abraços que deu aos jogadores. Porque o “gajo muito porreiro” admitiu, após o jogo e quase em lágrimas, que “sofreu” com o quão afetados sentiu “os princípios fantásticos” que os “pais analfabetos” lhe passaram.
E viu os jogadores que treina darem tudo a defender e a fechar espaços por ele contra os jogadores que os rumores dizem ser os próximos que vai treinar. As palavras que disse e as lágrimas que quase não segurou a dizê-las são os únicos sinais, até ao momento, que fazem duvidar que Sérgio Conceição pode em breve regressar à casa onde conhece bem os cantos. Mesmo que regresse — dizia-se que Rui Barros apenas ficaria a tomar conta dos dragões até à partida em Guimarães –, encontrará uma equipa que, em janeiro, sofreu duas derrotas no campeonato e passou de líder a terceira classificada.