O Museu da Misericórdia do Porto adquiriu, na noite desta quinta-feira, a pintura de Josefa de Óbidos A Sagrada Família com São João Batista, Santa Isabel e Anjos, num leilão da Sotheby’s, em Nova Iorque, por 250 mil dólares (228 mil euros).

Presente no leilão, a representar o museu portuense e o provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, António Tavares, esteve o galerista Filipe Mendes, que tinha apelado a vários museus portugueses para a compra desta obra datada de 1678 e que, no ano passado, tinha adquirido um quadro da mesma pintora, para doar ao Museu do Louvre.

“O provedor da Santa Casa foi o único que teve essa coragem, que respondeu aos meus pedidos para que o quadro fosse para Portugal. Escrevi a vários directores [de museus], escrevi ao Ministério [da Cultura] e houve poucas respostas ou respostas negativas. Portugal tem dificuldades económicas. Ele foi o único que foi sensível para a necessidade de defender o património português. Apoiou-me sempre, mesmo a 100%, até ao fim”, declarou Filipe Mendes à agência Lusa, minutos depois de ter adjudicado a obra, e manifestando-se “muito contente” com o resultado.

Filipe Mendes disse ainda que esta não é uma vitória sua, mas “uma vitória do Porto e uma vitória do Museu da Misericórdia do Porto”, insistindo que este foi o único museu que “percebeu a importância de comprar este quadro”.

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O quadro foi à praça com um valor estimado de 200 mil a 300 mil dólares (183 mil a cerca de 274 mil euros) e correspondeu a um dos 61 lotes do leilão “Mestres da pintura”, tendo-se encontrado lado a lado com quadros de Hieronymous Bosch, Lucas Cranach, Giorgio Vasari, van Dyck ou Rubens.

O preço de martelo — valor de adjudicação do quadro, pelo pregoeiro — fixou-se nos 200 mil dólares (183 mil euros), o mais baixo do intervalo estimado, a que acresceu a comissão de 25%, perfazendo um total de 250 mil dólares, um pouco mais de 228 mil euros.

Filipe Mendes reiterou que A Sagrada Família com São João Batista, Santa Isabel e Anjos é a obra que formaria par com Maria Madalena confortada pelos Anjos, que arrematou há quase um ano, também na Sotheby’s, por 269 mil dólares (238.615 euros) e que, “em princípios de Março”, vai entrar no Museu do Louvre.

“Agora vai entrar o meu [quadro de Josefa de Óbidos] no Louvre e, ao mesmo tempo, o Museu da Misericórdia do Porto vai ter o seu par. É um eco fantástico. O Louvre vai dar eco ao quadro da Santa Casa e a Santa Casa vai dar eco ao quadro do Louvre”, afirmou Filipe Mendes, sublinhando que o Museu da Misericórdia do Porto “existe, nem há um ano, e já está a fazer as melhores aquisições do país”.

O emigrante, que tem uma galeria de arte antiga em Paris, tem como “projecto” a abertura de “uma sala de pintura portuguesa no Louvre, a primeira grande sala fora de Portugal, no maior museu do mundo”, mas, para já, vai ter de se contentar com a exposição do quadro que doou ao museu na sala de pintura espanhola, ao lado de uma natureza morta do pai da artista, Baltazar Gomes Figueira (1604-1674), e outra de Domingos Sequeira (1768-1837), Alegoria da fundação da Casa Pia de Belém, que, até agora, não se encontrava exposta.

A pintura adquirida no ano passado pelo emigrante português, Maria Madalena confortada pelos Anjos, esteve patente na exposição do MNAA, de 16 de Maio a 20 de Setembro de 2015, e no Museu da Misericórdia do Porto, até ao passado dia 20 de Janeiro.

Filipe Mendes, de 39 anos, é um apaixonado pela obra de Josefa de Óbidos (1630-1684), a única pintora profissional em Portugal no século XVII, cujo estilo impulsionou o movimento barroco português.

O galerista quer, ainda, mobilizar os emigrantes para a divulgação da arte portuguesa e está a trabalhar na criação de uma “associação para a valorização da arte portuguesa no mundo”, para restaurar e divulgar obras que estejam fora de Portugal.

Emigrado em França desde os 14 anos, onde estudou História da Arte e Direito, Filipe Mendes tem também como “projecto” a preparação de uma exposição sobre pintura portuguesa nas colecções públicas francesas, explicando que “há muitos outros quadros portugueses nos museus franceses”, como O Milagre de Ourique (1793), de Domingos Sequeira (1768-1837), no Musée Louis-Philippe.