Perante a originalidade do conceito do Rice Me — um novíssimo restaurante/cafetaria cuja oferta alimentar gira, exclusivamente, em volta do arroz –, seria expectável que na sua origem estivesse uma história, no mínimo, inspiradora. “Na verdade, o que aconteceu é bastante simples, tenho que inventar qualquer coisa melhor que a realidade”, brinca Renata Militão, a responsável pelo espaço.
Há sete anos, estava com a minha família em Nova Iorque, de férias, quando vimos um espaço dedicado apenas a rice pudding, [parente muito próximo do arroz doce] que funcionava numa lógica de gelataria, com vários sabores. Pensámos logo que aquilo podia funcionar aqui. Na altura, ainda tentámos saber como é que seria para trazer o negócio para cá, mas como não tínhamos estrutura, nem experiência, a ideia ficou a amadurecer.”
E ficou a amadurecer durante bastante tempo. Renata fez o seu percurso profissional na área da comunicação e publicidade, primeiro, e consultoria, depois. Em 2014, numa altura em que dava aulas na Faculdade de Economia do Porto, decidiu, por incentivo dos pais, recuperar a intenção de avançar com o seu próprio negócio. Voltou a pensar na loja de Nova Iorque, mas a ideia já não soava tão atrativa.
“Nessa altura, percebi que o arroz doce, por ser um complemento à refeição, seria limitativo”, conta Renata. Assim, começou a investigar e a perceber a verdadeira dimensão do mundo do arroz. “Não temos noção da versatilidade do arroz. Quando estava a testar o conceito, as pessoas diziam-me: ‘vai ser preciso gostar muito de arroz’. Mas não demoravam muito a perceber que arroz não é só arroz.”
Se arroz não é só arroz, é o quê?
Para começar, é um cereal. E por ser um cereal tem inúmeras aplicações, todas elas exploradas nas várias ementas do Rice Me. Renata enumera-as: “Usamos a farinha de arroz para os bolos, para os wraps e para o pão, fazemos receitas com massa de arroz, e com vários arrozes, temos saké e gin destilado a partir de arroz. Somos um espaço mono temático mas não somos mono produto”.
Assim, a versatilidade do chamado grão da felicidade — “porque resiste às intempéries e impediu muita gente de morrer à fome”, conta Renata — permite que o Rice Me funcione em horário alargado, com vários propósitos. Ao almoço, por exemplo, com opção de menu executivo (prato e bebida por 9,90€), é possível provar os pratos da semana, que podem ser mais ou menos clássicos: se há arroz de bacalhau (quarta) e cabidela (sexta), também há noodles de arroz com carne de porco caramelizada (terça) ou caril verde com arroz basmati (quinta).
Quem preferir uma refeição mais leve, pode combinar, por exemplo, uma das entradas de influência oriental (gyosas ou dim sum de arroz, ambas a 3,50€) com as sopas, da canja (2€) à sopa do mar com massa de arroz (2,70€).
Se a fome apertar, há outras opções mais substanciais, seja um arroz de pato (8€), que Renata considerava “obrigatório ter”, um arroz nero di seppia com choco (9,90€) ou até várias propostas vegetarianas, como o risotto de cogumelos portobello e espargos (8,60€) ou o vermicelli de arroz em crepe de vegetais com arroz vermelho (7,40€), entre outros.
As sobremesas recuperam, claro, o grande culpado de tudo isto, o arroz-doce, seja na receita clássica (2,70€) ou à moda da casa, com coulis de maçã, frutos vermelhos ou ganache de chocolate (2,95€, cada). E até os profiteroles (3,55€), cuja massa é mais leve que o habitual (culpa da farinha de arroz) são recheados com chantili de arroz doce.
Os pequenos-almoços arrancam apenas no início de março mas já é possível, por exemplo, beber um galão (com leite de arroz) e comer um bolo de arroz (1,20€) de fabrico próprio (com direito ao embrulho clássico) a meio da tarde. E quem diz um bolo de arroz diz crepes, panquecas ou scones, servidos com geleia de — quem adivinha? — arroz.
Segundo os responsáveis, o take-away é possível em quase todos os pratos, exceto naqueles que envolvem massa de arroz. Mas o espaço, justiça lhe seja feita, convida a ficar. Apesar da aparente simplicidade, em tons claros e linhas simples, não foi um parto fácil. “Queria uma coisa leve, despretensiosa e orgânica, mas tive de mudar três vezes de arquiteto até chegar a este resultado”, recorda Renata, que conclui: “A grande dificuldade estava em fazer uma coisa diferente de tudo o resto”. Nesse aspeto, missão cumprida. Com arroz e distinção.
Nome: Rice Me
Morada: Rua Carlos Testa, 18A (São Sebastião), Lisboa
Telefone: 91 477 0741
Horário: De segunda a sábado, das 12h às 00h. A partir de março, com o início dos pequenos-almoços, o horário estende-se: das 07h30 às 00h.
Site: riceme.pt