Francisco Pinto Balsemão foi esta quinta-feira distinguido como “personalidade do ano” do jornal regional “O Mirante”. No discurso de agradecimento, lido durante a cerimónia desta tarde no Cine-Teatro de Almeirim, o presidente do Grupo Impresa e do conselho de administração da SIC, teceu duras críticas aos “novos tempos de inovação tecnológica” que estão a chocar com o “jornalismo de qualidade”. “Nesta sanha persecutória é legítimo interrogarmo-nos sobre se o verdadeiro e último objetivo não é impedir, inviabilizar a existência de jornalismo de qualidade, profissional e independente do poder político”, diz.

“São alucinantes estes tempos que vivemos de inovação tecnológica a proporcionar novas formas de produzir e distribuir conteúdos, de conquistar novos leitores, de procurar novos modelos de negócio, de encontrar novas narrativas e novas formas de comunicar com o leitor que é cada vez mais soberano na escolha da informação que quer, quando quer e como quer”, começou por dizer o ex-primeiro-ministro e militante número um do PSD.

O problema dos novos tempo é, segundo Balsemão, o perigo de se confundir a “informação propriamente dita”, produzida por jornalistas com carteira profissional, sujeitos aos códigos éticos e a sanções, se for caso disso, com o “grande ruído e confusão” que surge na internet e nas redes sociais.

Segundo Balsemão, que falou numa plateia onde estava o ministro da Cultura, João Soares, é “pura ilusão” pensar que a comunicação social pode controlar ou monitorizar os conteúdos que correm na internet. “Pura ilusão que nos lançaria na babel promiscua entre jornalismo e propaganda, informação e pseudo-informação, rumores, insultos, ataques, devassa da vida privada. E tudo, ou quase tudo, à sombra do anonimato da internet. Onde iria parar o direito de resposta e retificação? Como poderia o cidadão defender-se e salvar a sua honra?”, questiona o empresário do setor dos media.

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Os desafios dos media são muitos, sobretudo porque a tendência é de crescimento do consumo de conteúdos móveis, e Balsemão sublinha que o importante agora é saber como devem os tradicionais meios de comunicação social dar resposta a eles. Numa altura em que os media estão “enfraquecidos”, quer pelas quebras acentuadas do investimento publicitário, quer ao mesmo tempo “pelo puritanismo popularucho de se considerar a publicidade como a mãe de todos os males e a culpada de todos os excessos”.

Num discurso escrito, Balsemão criticou a “sanha persecutória contra as empresas de comunicação”, dando como exemplos disso mesmo a legislação “cada vez mais apertada” sobre a transparência da propriedade dos media, assim como a “impunidade” com que as emissões televisivas estrangeiras entram no espaço televisivo português (tratando-se de concorrência desleal, na sua opinião, por não estarem sujeitas à mesma legislação), ou ainda o “apoio à pirataria” que diz estar a ocorrer.

“Eu sou o primeiro a querer transparência quanto à propriedade dos media, mas não me obriguem a cumprir obrigações que não consigo cumprir – como, por exemplo, quem é o verdadeiro e último proprietário de um fundo estrangeiro que compra, na Bolsa de Lisboa, ações da Impresa. E, sobretudo, não me apliquem coimas de dezenas de milhar de euros, porque não tenho meios nem vocação para partir para as ilhas Cayman, ou outros paraísos fiscais, à descoberta do último dono dessas ações”, disse.

Perante tudo isto, Francisco Pinto Balsemão defende que o tempo atual “exige um grande esforço de investimento”, ainda que esse investimento não seja para já recompensado pelas receitas da publicidade ou mesmo pela venda dos conteúdos.

Em última análise, segundo Balsemão, os problemas e obstáculos que se multiplicam em torno das empresas de comunicação social terão como consequência a “perda da liberdade de imprensa”. “É um rude golpe na democracia já de si tão debilitada como o revelam o aparecimento de grupos extremistas de direita ou de esquerda, a xenofobia, o terrorismo, e outros fenómenos ameaçadores da liberdade e da paz”, diz.

“Para sobreviver e se revigorar, a democracia necessita de meios de comunicação social fortes e livres, com redações profissionalizadas”, termina.

Os prémios Personalidade do Ano são atribuídos há onze anos e procuram distinguir pessoas e entidades que se destacam na área de abrangência do jornal regional “O Mirante”, que inclui os 21 concelhos do distrito de Santarém e ainda Vila Franca de Xira e Azambuja, no distrito de Lisboa.