David Duke, antigo grão-mestre do grupo extremista defensor da chamada “supremacia branca”, Ku Klux Klan, veio a público, pela segunda vez em menos de um ano, revelar a sua inclinação eleitoral em relação a Donald Trump apelando a todos os seus seguidores a votarem no empresário norte-americano e Donald Trump não condenou o grupo, originando um chuva de críticas e abrindo o flanco a ataques dos seus mais direitos opositores.

Na última quinta-feira, no seu programa de radio, Duke afirmou, citado pelo BuzzFeed, que “votar contra Donald Trump, neste ponto, é realmente uma traição contra a vossa herança”. Depois explicou o fundamento para este apoio: “Não estou a dizer que subscrevo tudo sobre Trump, na verdade eu não o apoiei formalmente. Mas eu apoio a sua candidatura, e apoio o voto nele como uma ação estratégica. Espero que ele faça tudo o que nós queremos que ele faça”.

Quem é David Duke?

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Considerando-se um “realista racial”, David Duke fundou em 1974 o grupo “Knights of the Klu Kulx Klan” (KKKK) tornando-se no grão-mestre da organização de extrema direita e que luta pela “supremacia direita” e contra a imigração.

Em 1980 deixou o KKK criando outro grupo nacionalista. A partir daqui abraçou a vida política ativa, tendo conseguindo cumprir um mandato na Câmara dos Representantes americano, pelo estado do Louisiana e através do Partido Republicano. No entanto, candidatou-se à nomeação democrata para as presidenciais em 1988 e para a nomeação republicana em 1992, tendo sido derrotado nas duas ocasiões.

Duke destacou-se pela denúncia do alegado controlo judaico do Banco de Reserva Federal americano, do Governo Federal e da própria comunicação social do país. Para além disso distinguiu-se por defender valores como a preservação da cultura ocidental e a segregação racial. Anti-comunista confesso, Duke foi ainda acusado de rejeitar a existência do Holocausto.

Já em agosto do ano passado, o antigo líder do KKK, já tinha explicado, também citado pelo BuzzFeed, que o multimilionário do imobiliário era “o melhor do lote” entre os candidatos a ocupar a Casa Branca.

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Mas a última declaração foi a que fez estalar a polémica e levou o assunto para a primeira linha da atualidade nos Estados Unidos. É que confrontado com este apoio, Trump, em entrevista à CNN, afirmou que nem sabe quem é David Duke:

Só para que se perceba, eu não sei nada sobre David Duke, ok?”

Mas o jornalista da CNN não ficou satisfeito com a resposta e perguntou três vezes se o candidato à nomeação republicana se distanciava do Ku Klux Klan, no entanto as respostas foram semelhantes: “Eu não sei nada sobre o que está a falar, sobre a supremacia branca ou supremacistas brancos”.

Horas depois da conversa, o republicano ainda tentou voltar atrás com a palavra e publicou, no Twitter, um vídeo de uma conferência de imprensa, em que afirma “eu não sabia do apoio de David Duke. Eu repudio ok?”

Apesar de tudo o estrago estava feito e, a dois dias do chamado “Super Tuesday”, dia em que 11 estados americanos vão a votos para as primárias republicanas, as respostas dadas por Trump foram alvo de várias críticas e ataques. O primeiro foi o senador Marco Rubio, em campanha na Virgínia, onde garantiu, citado pela Associated Press, que “não podemos ser um partido que se recusa a condenar os supremacistas brancos e o Ku Klux Klan”. Mas Rubio foi ainda mais longe:

Não só é mau, como o torna inelegível. Como é que vamos fazer crescer o partido e nomeamos alguém que não repudia o KuKluxKlan?”

Já Ted Cruz, outro dos grandes rivais do empresário, considerou as respostas “realmente tristes”, acrescentando que “todos deveríamos estar de acordo que o racismo é mau e que o KKK é abominável”.

Também do lado democrata, nomeadamente de Bernie Sanders utilizou o Twitter para criticar a posição de Donald Trump: “O primeiro presidente americano negro não e não vai ser sucedido por um agitador que recusa condenar o KKK”.

Ora, no seguimento de todas estas críticas, David Duke detalhou a sua declaração inicial. Utilizando igualmente as redes sociais, no caso através do Facebook, afirmou que existe, neste momento, uma campanha da comunicação social contra si, defendeu que Trump “merece um olhar mais atento por parte daqueles que acreditam que a era do politicamente correto tem de chegar ao fim”.

Manifestação do KKK acaba com 3 esfaqueamentos e 13 detidos

A polémica em torno das declarações de Donald Trump surge na mesma altura em que o grupo racista volta a ser notícia, como é habitual, pelos piores motivos. No domingo, numa manifestação ligada ao KKK em Anaheim, no Estado da Califórnia, três pessoas foram esfaqueadas e outras 13 foram detidas.

Tudo começou quando um pequeno grupo representante do grupo anteriormente liderado por David Duke se juntou num parque anunciando a manifestação. O problema é que várias dezenas de pessoas aglomeraram-se, na mesma zona, para protestar contra estes elementos.

A police officer investigates the scene near Pearson Park in Anaheim, California, February 27, 2016, after three counter-protesters were stabbed while clashing with Ku Klux Klan members staging a rally. Thirteen people were arrested. / AFP / RINGO CHIU (Photo credit should read RINGO CHIU/AFP/Getty Images)

(RINGO CHIU/AFP/Getty Images)

A tensão aumentou uma hora depois, quando alguns membros vestidos de preto, com bandeiras da Confederação estampadas, chegaram numa carrinha. Assim que estes elementos também ligados ao KKK saíram do veículo, deram-se início aos confrontos com o outro grupo de protestantes presentes no mesmo local.

No meio dos distúrbios, três pessoas foram esfaqueadas e outras 13 foram detidas – seis elementos do grupo defensor da “supremacia branca”, e sob suspeitas de ligação aos esfaqueamentos, e outros sete protestantes.

As autoridades informaram ainda que as vítimas estão estáveis e a recuperar.