Licenciou-se em Gestão, trabalhou na Google, e entrou no escritório da tecnológica em Dublin com uma certeza: queria despedir-se para lançar um projeto seu. Passaram cinco anos. De Dublin, foi para Londres. De Londres, regressou a Braga. De Braga para Lisboa. E, pelo caminho, sempre a mesma dúvida: como é que as pessoas vão consumir informação daqui a 10 anos? Daniel Araújo tem 28 anos e o irmão Pedro tem 30. São eles as mentes responsáveis pelo Attentive, uma espécie de “big brother” da informação para equipas de vendas. O amigo Luís Braga juntou-se mais tarde.

“Quando fui para a faculdade, já sabia que queria ter os meus próprios projetos. Na altura, não se falava de startups, mas falava-se de tecnologia e de criar empresas. Foi por isso que depois fui tirar um mestrado em Paris”, conta Daniel ao Observador.

Do mestrado em Paris, para a Google, em Dublin. Primeiro, para ajudar a ligar as grandes comunidades de produtos da marca. Depois, como consultor em marketing digital para os clientes da tecnológica, como a Coca-Cola ou o exército inglês, já em Londres.

Enquanto aprendia com os mestres da tecnologia, testava ideias com o irmão aos fins de semana. Foram várias. Mas viciado em informação como era – de livros a jornais e a podcasts -, Daniel questionava: como é que a tecnologia pode ajudar a que todo o processo de gestão da informação seja melhor? O irmão, Pedro Araújo, era formado em Ciências de Computação e era ele quem desenvolvia os protótipos das várias ideias que iam tendo. Até que um dia puseram mãos à obra, que é como quem diz, à programação.

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Quando Daniel decidiu despedir-se da Google para voltar a Portugal, trazia na bagagem duas lições para a vida: a forma como a multinacional recrutava e geria os recursos humanos e a própria cultura da empresa. “Quando entrei na Google, já sabia que queria sair para criar um projeto meu. E estava lá para sugar todo o conhecimento possível e imaginário, para ir às formações todas. E fui”, conta. Não era segredo que Daniel queria lançar um projeto seu. Os superiores sabiam-no e ajudavam-no. A ele e a todos os colaboradores que o manifestassem. É assim que se constrói o ADN da Google, conta.

“Quando contei ao meu último chefe que queria lançar o meu próprio projeto, ele disse-me que tinha aberto uma posição no Google Campus, onde podia dedicar 20% do meu horário de trabalho [a trabalhar no projeto]. E ele fez isto, mesmo sabendo que isso acabaria por acelerar a minha saída da empresa”, conta Daniel.

Seis meses depois, fez as malas e para desenvolver o Attentive com o irmão, em Portugal. Sabia que queria aliar tecnologia à informação, mas não sabia como. Depois de ter investigado qual “era o estado da arte” nessa área, percebeu que falava algo para que houvesse “uma revolução” na forma como as pessoas consomem a informação: contexto.

“Até agora, as pessoas consumiam o que aparecia nos jornais, por exemplo. Entretanto, passámos a ter informação infinita, impossível de consumir, até aquela que é útil para nós. Mesmo filtrando essa informação, ela é tendencialmente infinita”, explica Daniel.

E seguiu-se a próxima pergunta: porque não tirar proveito de todos estes dados, no contexto em que ocorrem, e desenvolver uma espécie de assistente pessoal de informação? Bateram à porta de várias empresas e perceberam que era disto que os departamentos comerciais precisavam.

“As equipas de vendas têm um fluxo de informação que é impossível de consumir. Percebemos que se houvesse uma tecnologia que a filtrasse e dissesse algo do género ‘é segunda-feira de manhã, tens de ligar para este cliente, porque ele acabou de receber investimento da empresa x e acabou de entrar neste novo mercado. Queres falar com ele agora?’, facilitava o trabalho da equipa”, afirmou.

Com o Attentive, as equipas de CRM (gestão de relação com o cliente) recebem alertas sempre que há informação de contexto sobre os seus clientes que vale a pena saberem. E não têm de procurar. O software – desenvolvido por Pedro Araújo – encarrega-se de fazer tudo sozinho.

“As nossas dúvidas eram sabermos se íamos conseguir agregar tanta informação, desenvolver o motor. E será que esse motor ia ficar pesadíssimo e impossível de escalar? Começámos a testar, identificámos mil e um problemas, mas fomos resolvendo problema a problema. E o motor ficou sólido”, conta Daniel.

A Daniel e a Pedro, juntou-se Luís Braga, o terceiro cofundador da Attentive. Participaram no programa de aceleração da Beta-i, o Lisbon Challenge, em setembro de 2015, e ganharam o prémio final: 100 mil euros, da Caixa Capital. Entretanto, já foram contactados por várias empresas, de oito países, para testar o software. Estão a negociar contratos com 20 clientes, mas esperam terminar 2016 com 400 contas fechadas. O modelo de negócio passa pelo pagamento de uma mensalidade por utilizador, ou seja, se uma empresa tiver 10 pessoas que precisam de recorrer a esta tecnologia, paga 10 mensalidades.

Os planos de Daniel, Pedro e Luís passam, agora, pelo mercado que é o foco estratégico da empresa, Estados Unidos, para onde querem ir no curto prazo. O segundo será o Reino Unido. “São os mercados mais sofisticados em termos de tecnologia para equipas de vendas”, diz. E quando tiverem as métricas do produto bem definidas, como a taxa de conversão dos utilizadores, querem avançar para uma nova ronda de investimento: entre 500 mil e um milhão de euros.

“Se fizermos um software que funciona muito bem para as equipas de vendas, então também vai funcionar muito bem nas equipas de marketing, nas de recursos humanos, etc. Se pensarmos em todos ‘os trabalhadores do conhecimento’, percebemos que todos eles têm de consumir informação para trabalhar e que não há nenhum software que ajude a fazer isso de forma eficiente”, concluiu Daniel.

*Tive uma ideia! é uma rubrica do Observador destinada a novos negócios com ADN português.