Victor Dornellas, Anna Dornellas e Maira Fortunato chegaram há menos de um ano a Portugal. Do Brasil trouxeram entusiasmo, dedicação e motivação e nenhum dos três chegou ainda aos 18 anos. Mas quando entraram para a Escola Secundária de Vila Verde, no distrito de Braga, cujo lema é “uma escola faz-se com todos”, houve desde logo um prenúncio interessante.

“São extremamente motivados, dedicados e mexeram-se para chegar onde era preciso. Ainda estão em adaptação e conseguiram entrar em vários projetos com dedicação extraordinária”, refere José Lago Oliveira, professor de Geografia e assessor da direção e peça integral do projeto.

Foi graças a este entusiasmo que os três alunos decidiram integrar o Apps For Good, um programa educativo tecnológico que desafia estudantes e professores a desenvolverem aplicações para resolverem problemas sociais, focados em 17 objetivos de desenvolvimento sustentável estipulados pela ONU.

“A escola conheceu este projeto há dois anos. Temos um laboratório de aprendizagem e inovação e um clube de inovação cujo objetivo é desenvolver este tipo de projetos”, esclarece ao Observador Lara da Silva Almeida, professora de Matemática, coordenadora do laboratório de aprendizagem e inovação da escola, do clube de inovação, e uma das responsáveis pelo projeto.

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O resultado final, a EcoClass, levou meses de empenho a conseguir, integrada num programa de dez etapas orientado pela Apps For Good, que começa por identificar as ferramentas disponíveis nos dispositivos móveis. O projeto passa depois depois pela identificação de problemas, estudo de mercado, consultoria com experts, verificação de requisitos mínimos, desenvolvimento de protótipo e estrutura de modelo de negócio.

“Os alunos vêm nos tempos livres e este ano o número foi bastante elevado. Mas a quantidade de horas extra que eles os três dedicaram a isto é fenomenal. Pela primeira vez tivemos um grupo mais ambicioso que quis participar no concurso internacional”, diz a coordenadora.

O objetivo da aplicação é ensinar os mais novos a mudar comportamentos através de mudanças no estilo de vida. Depois de descarregar a app – que estará disponível em breve –, através das estratégias gamificadas, os alunos têm acesso a separadores que ensinam comportamentos ecológicos, eco-quizes sobre a temática ecológica, eco-dicas e, por último, eco-frases, com citações para incentivar a agir. Tudo isto pensado como uma competição entre alunos e turmas, à semelhança do que acontecia na saga Harry Potter.

A ideia valeu a Victor, Anna e Maira o primeiro prémio do público na categoria Global Innovators do Apps For Good UK. Em competição estavam 15 equipas finalistas, distribuídas por cinco categorias, de geografias como a Índia, os Estados Unidos ou a Irlanda.

No horizonte para os três jovens e para os coordenadores está ainda um outro projeto, o EcoHouse, fomentado pelo sucesso do primeiro. “O plano é que se mantenha a ideia do EcoClass mas aplicado a casa, ou seja, uma casa inteligente, em que temos dicas sobre consumos consoante a divisão da casa. Se correr bem, pode vir a expandir e a tornar-se acessível a toda família, mantendo a lógica de competição. Por cada gesto, a família ganha pontos”, realça José Lago Oliveira.

O processo é apoiado pela Kingston Technologies que está encarregue de fazer sessões com os alunos para desenvolver produtos. “Estamos a acertar datas e sessões para os alunos poderem desenvolver. Eles vão mesmo tentar. Mas, para já, o foco é a EcoClass.” Para os dois coordenadores, o desafio principal foi superar as restrições impostas pela pandemia o que, para Lara e José, foi ultrapassado com bastante sucesso.

“Temos plataformas educativas na escola que nos permitiram verter toda a escola nessa plataforma. E criámos um espaço virtual em que os alunos apareciam de forma voluntária. Quase como um Zoom mas interna. E os alunos conversavam connosco, traziam ideias, pediam Feedback. Apesar da pandemia, como estes alunos são empreendedores, continuámos perfeitamente no ensino online. Foi um desafio superado”, conta José.

“E com a ajuda, dentro dos vários pedidos que fomos fazendo, conseguimos chegar mais longe. Este projeto representa uma grande união. Queremos que os alunos tenham estas competências e é muito bom ver que voaram e conseguiram, além de ouvir as nossas dicas, torná-las suas. Isso é muito gratificante”, explica Lara Silva Almeida.

Lançado pelo Center of Digital Inclusion Portugal (CDI), o Apps for Good é um programa que pretende atrair jovens entre os 10 e 18 anos, e professores, para a utilização da tecnologia como forma de resolver os seus problemas, propondo um novo modelo educativo mais intuitivo, colaborativo e prático. O objetivo do programa é desenvolver aplicações para smartphones e tablets que possam contribuir para a resolução de problemas relacionados com a sustentabilidade do planeta.