Já toda a gente sabe que as modelos não pisam a passerelle com as novas propostas dos criadores nacionais sem antes passarem pelos cabelos e maquilhagem. É um ritual mandatório que, em conjunto com os coordenados, vai ajudar a contar a história de uma coleção. O que muita gente não sabe é que são as mãos de Vasco Freitas, o novo fashion stylist da Redken, que estão há 11 anos nos bastidores do Portugal Fashion a pentear aquela madeixa teimosa que saiu do sítio segundos antes das luzes se apagarem e o desfile começar.
Hoje (e mais de uma década depois), o portuense não só representa a marca patrocinadora oficial do Portugal Fashion como ainda lidera uma equipa responsável pelos penteados das manequins. “Assim não está bom o suficiente, tem de ter um aspeto mais molhado”, indica a um dos membros que começa a preparar os cabelos para o desfile de Hugo Costa. “Sou uma pessoa insatisfeita por natureza e, para mim, nunca nada está perfeito”, justifica ao Observador no meio da confusão do backstage. “E acredito que aquilo que fiz ontem já é o mínimo do que posso fazer hoje.”
Mas o Vasco Freitas que hoje viaja para Paris, Milão e Nova Iorque para trabalhar com Candice Swanepoel e Sara Sampaio não é o mesmo Vasco Freitas que, em adolescente, fugia do cabeleireiro do pai a sete pés.
“Eu odiava o cheiro, odiava as mulheres histéricas e achava que elas saiam de lá mais feias do que entravam”, diz em tom de brincadeira. “Costumava dizer ao meu pai que preferia ir para trolha do que ser cabeleireiro.”
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Mal ele sabia que as experiências com a máquina zero que tinha em casa iriam despoletar a paixão pelo mundo dos penteados. Aos 15 anos, inscreveu-se na escola de Isabel Queiroz do Vale e tudo mudou. “Quando vi que ainda havia muito por fazer pela área e que a vida de cabeleireiro não se resumia à vida do meu pai foi quando percebi que ia lutar por isto”, conta Vasco Freitas. Seguiram-se anos com malas às costas e dias sem descanso até receber o convite de Nuno Baltazar para trabalhar com ele na ModaLisboa.
Nesse dia, liguei para casa a chorar porque senti que todo o esforço valeu a pena”, confessa já com as lágrimas nos olhos. “O Nuno e a Isabel foram as primeiras pessoas a acreditar em mim quando eu próprio não acreditava.”
Agora tem um cabeleireiro em parceria com o pai, coordena a equipa dos bastidores de cabelo, trabalha com os designers presentes no Portugal Fashion e foi eleito, em 2016, o novo Redken fashion stylist para representar a marca. Enquanto profissional só tem três indispensáveis: Mariacarla Boscono como musa de inspiração, Paris como uma segunda casa e o sérum Argain Oil para ter um cabelo digno de uma modelo que acaba de pisar uma passerelle.
O futuro, esse, passa pela abertura de um novo espaço Vasco Freitas (muito) em breve. Na lista de sonhos por concretizar fica o título de diretor artístico internacional. “A melhor sensação que posso ter como profissional é acordar e ser útil para alguém”, explica o mãos de ouro de famosas como Raquel Strada e Diana Pereira. Uma futura conquista que, para uma pessoa insatisfeita que se preze, será certamente só o início.