Hugo Chávez, antigo presidente venezuelano — falecido em março de 2013 –, tem uma praça com o seu nome em Alfragide, no concelho da Amadora. A aprovação desta homenagem foi votada favoravelmente por todos os partidos políticos, com a abstenção do CDS, quando se deu a morte do venezuelano e a placa foi descerrada esta terça-feira, dia 12. Apesar de a iniciativa estar a gerar críticas no Facebook devido à natureza do regime venezuelano, o antigo autarca socialista Joaquim Raposo, defende que a homenagem é mais à cooperação com a Venezuela e não tanto à figura em si.
Mas qual é a ligação entre a Venezuela e a Amadora? No início dos anos 2000, a Amadora adotou o projeto Orquestra Geração, inspirada no Sistema de Orquestras Infantis e Juvenis da Venezuela. O bairro da Boba foi mesmo um projeto-piloto em Portugal que tentou criar maior sucesso escolar e responsabilidade junto de crianças carenciadas através da música. O projeto cresceu e conta agora com a coordenação da Gulbenkian e com o envolvimento de vários municípios em todo o país. “Temos agora três orquestras e uma delas é a orquestra municipal. Os miúdos estão empenhados na música e através deste programa adquiriram responsabilidade, disciplina e os resultados escolares melhoraram”, afirma ao Observador o antigo autarca do município, Joaquim Raposo, actual presidente da Assembleia Municipal.
O autarca socialista defende mesmo que a Venezuela é um exemplo no combate ao absentismo e sucesso escolar. “Tomara todos os países terem estes resultados, com 800 ou 900 mil crianças a tocar música”, refere. Assim, aquando a morte do antigo presidente Hugo Chávez, a autarquia aprovou um voto de pesar que já previa a atribuição de uma placa toponímica. Este voto foi aprovado por todas as forças políticas e contou apenas com a abstenção do CDS. Agora, passados três anos da morte do antigo presidente e já com uma nova presidente da Câmara, a autarquia descerrou a placa com o nome de Hugo Chávez na presença do embaixador da Venezuela em Portugal, o general en jefe Lucas Rincón Romero. Segundo Raposo, que esteve presente nesta homenagem, todas as forças políticas estiveram representadas.
No entanto, as críticas começaram a surgir nas redes sociais quando a Câmara Municipal da Amadora publicou as fotografias do evento na sua página do Facebook. Muitos comentários questionam o porquê da homenagem. “É preciso ter lata para dar tal nome a uma praça. É um desrespeito pelos venezuelanos e pela maioria dos portugueses que se envergonham de ter uma praça com este nome. Ridículo, insultuoso, assustador!”, pode ler-se num dos comentários. Confrontado com o facto de o regime venezuelano ser considerado internacionalmente como autoritário e com repressão da liberdade de expressão, Joaquim Raposo referiu que esse facto “é outra questão diferente”. “O reconhecimento é para o Sistema de Orquestras Infantis e Juvenis da Venezuela e não para Hugo Chávez em si“, declarou.
Fonte social-democrata da Amadora revela que a colocação da placa numa praça em Alfragide visa, de alguma forma, “afrontar” a Junta de Freguesia que é do PSD e afirma que o anterior executivo mantinha uma atitude “absolutamente arrogante” face à oposição minoritária. O PSD, por norma, não vota contra votos de pesar, pelo que acabou, inadvertidamente, por aprovar a criação do nome da praça.