Um aperto de mão no final do discurso de inauguração do Túnel do Marão, foi tudo o que se viu do encontro entre José Sócrates e António Costa, na tarde deste sábado, em Trás-os-Montes.
A expectativa para assistir ao momento em que o antigo e atual primeiro ministro do Partido Socialista (PS) se reencontravam era grande mas tudo foi feito para evitar que esse contacto fosse público. O encontro aconteceu num autocarro de vidros fumados, longe dos jornalistas e das câmaras de televisão.
O antigo primeiro-ministro foi o primeiro a chegar, pouco depois das três da tarde, à entrada poente do Túnel do Marão. Sorridente, José Sócrates conversou com os jornalistas, explicou por que aceitou o convite para estar presente e criticou quem não veio.
Sócrates, tal como os restantes convidados, foi de imediato encaminhado para o interior do autocarro que haveria de fazer a viagem inaugural e aí esperou meia hora pela chegada de Costa.
Neste autocarro, de vidros escurecidos, só os membros do Governo e alguns convidados puderam entrar, deixando de fora os repórteres de imagem, ao contrário do que estava planeado, sem que se pudesse assistir ao encontro entre os dois.
Os jornalistas foram todos enviados para um segundo autocarro que, por sinal, avariou – não chegou sequer a arrancar – tendo sido depois distribuídos pelos carros do Governo, enquanto o autocarro onde seguia o primeiro-ministro fazia um compasso de espera para reagrupar a caravana.
Tanto à chegada como à saída, António Costa recusou prestar declarações aos jornalistas, mas José Sócrates, que assistiu à cerimónia na primeira fila, nunca se escusou a responder uma e outra vez às mesmas perguntas. No entanto, António Costa fez questão de mencionar José Sócrates no seu discurso. “Quero, na pessoa do engenheiro José Sócrates, cumprimentar e saudar todos aqueles que de 2007 até hoje contribuíram, nos sucessivos governos, para que esta obra tenha sido concluída”, afirmou.
Se a cerimónia de inauguração do Túnel do Marão fosse um casamento, poderia dizer-se que um dos convidados apareceu de branco para ofuscar a noiva, estragando a festa.
Em alguns momentos, ouviu-se “Viva o Sócrates!” e elogios rasgados como o que lhe deixou um transmontano: “O senhor desbravou Trás-os-Montes”. E Sócrates bebeu deste frenesim mediático que António Costa não foi capaz de gerar.
“Sou eu próprio que decido quando saio da política, não outros”, atirou o antigo primeiro-ministro, quando questionado sobre um eventual regresso à vida política.
A última vez que Sócrates e Costa estiveram juntos foi a 31 de dezembro de 2014 quando o líder do PS foi visitar o antigo governante à prisão de Évora. Estiveram juntos durante cerca de uma hora nesta “visita pessoal” e à saída António Costa pouco mais disso além de expressar o desejo de ver a “justiça funcionar com normalidade”. Não voltou a visitá-lo.
Costa sempre se recusou a comentar o processo judicial de Sócrates, que o manteve detido durante dez meses. E se a princípio se voluntariou a enfrentar sozinho o que considera ser uma “processo político”, Sócrates reconheceu mais tarde, em entrevista à TVI, em dezembro de 2015, que “ao fim de seis meses, esperava que o PS dissesse: ‘desculpem, não será o momento de apresentar as provas?’ A atuação do Ministério Público serviu para prejudicar o PS”, concluiu.
Finalmente, em abril deste ano, José Sócrates confessou que nunca faria o que Costa fez, de se propor a formar Governo sem que tivesse vencido as eleições. “Eu nunca teria sido primeiro-ministro sem ter ganho as eleições, mas esse é um problema meu, agora reconheço toda a legitimidade a este Governo e a António Costa”, criticou o antigo primeiro-ministro socialista, em entrevista à Antena 1.