Pelas paredes do Chimera Brewpub escorrem, ocasionalmente, gotas de água. Mas o que podia ser um banalíssimo problema de infiltrações e humidade é apenas charme. Em dialeto imobiliário: cachet. Porque faz parte daquilo que torna o espaço único. Afinal, trata-se de um túnel que, outrora, dava acesso direto às cavalariças do Palácio das Necessidades — serviria, quiçá, para possibilitar fugas reais não planeadas — e que tem como vizinho um simpático lençol de água.

O espaço não será totalmente desconhecido de todos os lisboetas: ali funcionou durante alguns anos o wine bar Retiro de Baco. Mas mesmo conhecendo, é difícil ficar indiferente à imponência da estrutura — repetindo, trata-se de um túnel — e à frescura constante que ali se faz sentir, até nos dias mais quentes. E terão sido esses argumentos, entre outros, que fizeram Thomas Mancini e Adam Heller, os dois chefs responsáveis pelo restaurante Chimera, a transformar o espaço no brewpub que há já algum tempo planeavam abrir.

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A porta que dá acesso ao bar está devidamente ilustrada.
(foto: © Tiago Pais / Observador)

“Uma das coisas em que reparei quando aqui cheguei, há cinco anos, foi como não havia um único brewpub“, recorda Adam, um norte-americano de Chicago que antes de abrir o Chimera andou pelas cozinhas de The Decadente e The Insólito. “Nos Estados Unidos todas as cidades têm as suas próprias micro-cervejeiras, é sempre possível beber cerveja local”, conta. Quando perceberam que Lisboa estava a despertar para esse fenómeno, decidiram produzir cerveja para servir no restaurante. E não é como se Adam ou Thomas tivessem larga experiência nesse campo. Nem muita nem pouca. “Não tínhamos nenhuma”, confessa Thomas. “Comprámos aqueles kits para principiantes e foi com eles que começámos.” Daí até quererem abrir um espaço exclusivamente dedicado à bebida foi um pulinho. Melhor, um golinho.

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Algumas das cervejas produzidas e servidas no Chimera, com rótulos do artista Mozart Fernandes. (foto: © Divulgação)

Neste novo espaço já vão produzir cerveja de forma tradicional, sem recorrer aos ditos kits. Até porque, como dizem, foram evoluindo enquanto cervejeiros, à conta de muitas pestanas queimadas em leitura e investigação. “Além disso, não é assim tão complexo produzir cerveja, há 800 anos que é feito”, atira Adam, meio a brincar meio a sério.

A ideia da dupla passa por ir experimentando receitas e rodando os tipos de cerveja disponíveis, sempre servidos em copos com as medidas britânicas: half pint (28cl) e pint (56cl), a preços generosos: 2,50€ e 4€ respetivamente. “Não queremos ter 20 barris da mesma cerveja, queremos ir variando”, explica Adam. Vão começar com 12 propostas nas torneiras: oito de produção própria — “tentámos abranger o gradiente todo, da pilsener à stout“, diz Thomas –, duas com o selo da Oitava Colina e duas Dois Corvos. A ligação às outras cervejeiras da capital será algo para explorar ainda mais profundamente: “Queremos fazer parte deste mundo, ajudá-los a construir a cena cervejeira de Lisboa”, afiançam.

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Estas serão as primeiras 12 cervejas do menu do Chimera Brewpub.
(foto: © Tiago Pais / Observador)

As criações caseiras não fogem muito, para já, ao expectável, mas num futuro próximo o objetivo será fazer experiências com medronho, por exemplo, ou até usar talhas de barro para fermentar a cerveja, graças a parcerias com a Quinta dos Mochos, em Pegões, ou a Herdade dos Outeiros Altos, em Estremoz. Se a coisa correr bem, podem alargar o número de cervejas à pressão até às 28 e elevar a produção aos 200 litros por dia. Seria bom sinal.

O processo de fabrico acontece no piso inferior (sim, o túnel tem uma cave), que pode também servir de palco a workshops e armazém para futuras aventuras de Thomas e Adam. Isso, garante o norte-americano, também pesou na escolha: “Temos de pensar como restaurauters e perceber qual é que pode ser o próximo passo. Este espaço é bom porque permite ser um ponto de partida para o caso de querermos abrir um quiosque ou ter um food truck“, afirma. E porquê Alcântara? “É preciso descentralizar, sair um bocado daquele eixo Princípe Real – Chiado.”

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Se a procura o exigir, as 12 torneiras disponíveis podem facilmente transformar-se em 28. (foto: © Tiago Pais / Observador)

Apesar de todas essas valências sub subterrâneas, interessará mais aos clientes tudo o que se passar no piso superior. É aí, assim que os bombeiros derem autorização para a abertura do espaço ao público — o que deverá acontecer até ao final do mês –, que vão encontrar quase 70 lugares sentados e, importante, uma televisão de dimensões generosas que deverá estar sempre sintonizada em eventos desportivos. “Queremos que isto tenha ambiente de pub, com futebol e cerveja”, assegura Adam, que revela também estar a fazer esforços para tornar o Chimera Brewpub num bar oficial dos Green Bay Packers, a sua equipa de futebol americano do coração.

A oferta alimentar ambém está pensada e bem pensada, apesar de a cozinha ser descrita como “minimalista”. Palavra aos chefs: “O conceito vai ser algo novo por cá, o chamado pub grub: vamos ter pastrami caseiro, sanduíches próprias de um deli nova-iorquino, como a Reuben, e vamos também ter tramezzini, além de tábuas de queijos e enchidos.” Também a acompanhar, haverá música: mas em vez do fado que ali se ouviu durante anos, o palco agora será do jazz. E da cerveja, claro, mas sem esquecer o restaurante da Rua do Salitre, onde tudo começou: “É a nossa alma, continuamos a estar muito envolvidos nele.”

Nome: Chimera Brewpub
Data de Abertura: Até ao final do mês de maio
Morada: Rua Prior do Crato, 6 (Alcântara), Lisboa
Telefone: 91 871 7050
Horário: De terça a sábado, das 17h30 à 00h (se houver clientes manterão as portas abertas, já que têm licença até às 04h)
Site: facebook.com/chimerabrewpub