The Queen is Dead faz hoje 30 anos, mas é um álbum que não se esgota. É essa a marca de um clássico e este álbum certamente marcou a música do século passado. O terceiro disco do grupo britânico surgiu numa altura em que havia algumas tensões entre os membros da banda. Morrissey despediu o baixista Andy Rourke devido à sua dependência de heroína, mas Rourke foi readmitido duas semanas depois pelo guitarrista Johnny Marr. Tinham também em braços um processo que corria contra a editora, o que atrasou o lançamento do disco.
Talvez o processo sinuoso de produção tenha moldado o produto final. Ou talvez não. Mas uma coisa é inegável: 30 anos depois, The Queen is Dead sobrevive à marca do tempo, como evidenciou (por exemplo) a NME ao tê-lo selecionado como o melhor álbum de todos os tempos (em 2013, numa lista de 500 discos). Fizemos uma viagem pelos dez temas que constroem um álbum que é hoje considerado um clássico.
The Queen is Dead
O disco começa com Morrissey, o vocalista responsável pelas letras dos Smith a anunciar a morte da rainha, numa crítica à família real britânica – uma instituição profundamente odiada por Moz. O vocalista atira farpas ao príncipe Carlos e fantasia com a decapitação da rainha, uma das muitas razões pela qual Morrissey provavelmente nunca receberá o título de “Sir”.
Johnny Marr, o mítico guitarrista da banda, responsável por compor todas as músicas dos Smith, afirma que a base desta música foi a sua forma de recriar o som dos Velvet Underground e dos The Stooges.
https://www.youtube.com/watch?v=1tb8Xmq0k7w
Frankly, Mr Shankly
“Frankly, Mr Shankly” é uma provocação ao dono da Rough Trade Records – a editora dos The Smiths – Geoff Travis que obrigava a banda a cumprir um acordo que era muito do desagrado do líder do grupo.
https://www.youtube.com/watch?v=2ownZDWNIRs
I Know It’s Over
O tema retrata de forma tão real a dor de um desgosto amoroso e chegou mesmo a ser votada como uma das canções mais deprimentes de sempre. Inicialmente, a música devia incluir um trompete, que conseguia transmitir a tristeza da letra, mas Morrissey vetou a ideia. O produtor Stephen Street acredita que na altura o vocalista não estava pronto para aceitar que um membro exterior à banda participasse no tema.
https://www.youtube.com/watch?v=bAJ_74tDZzU
Never Had no One Ever
A canção aborda a solidão que Morrissey sentia durante a juventude. Neste tema, Johnny Marr tentou canalizar a escuridão do álbum “Raw Power” dos The Stooges de Iggy Pop.
https://www.youtube.com/watch?v=H888yfanNr8
Cemetry Gates
“Cemetry Gates” (sim, falta mesmo um “e” em “cemetery”) é uma canção que tem um contraste interessante entre a leveza da música e a seriedade da letra. Ao longo da letra é possível distinguir um típico jogo de palavras do cantor e letrista da banda britânica.
Nesta canção, Morrissey recorda os tempos passados no cemitério de Manchester, acompanhado de dois poetas românticos britânicos: Keats e Yeats.
https://www.youtube.com/watch?v=IOMwu6OoGo4
Bigmouth Strikes Again
Foi o primeiro single do álbum e a letra provocatória parece ser uma descrição perfeita do vocalista e compositor da banda. Johnny Marr queria que o tema desse também o título ao álbum, mas Morrissey insistiu em “The Queen is Dead”.
https://www.youtube.com/watch?v=FgxEJOi6GtA
The Boy With The Thorn In His Side
Outro grande clássico dos The Smiths. Este é provavelmente o tema do álbum que mais destaque dá às qualidades vocais de Morrissey e daquelas notas altas que a idade vai retirando.
https://www.youtube.com/watch?v=DYp2LGKOF_M
Vicar in a Tutu
Uma lufada de ar fresco no meio de um álbum pesado. Foi precisamente essa a intenção da banda, que se deu ao luxo de ter um tema que todos admitem ser mais fraco no meio de tantas canções pesadas. É uma canção com um caráter mais cómico que só coube no álbum pela grandeza de todos os outros temas.
https://www.youtube.com/watch?v=iuScm5aqL6c
There is a Light that Never Goes Out
Um dos exemplos mais perfeitos do “ultra-romantismo” característico de Morrissey que deixa no refrão o seu elogio ao amor fatal: “E se um autocarro de dois andares/ Embater contra nós/ Morrer ao teu lado/ Seria uma maneira tão celestial de ir”.
A canção entra no seu fade out a repetir, constantemente “There is a light that never goes out” (“Há uma luz que nunca se apaga”), uma ideia que mostra a fascinação do narrador pelo seu interesse amoroso.
https://www.youtube.com/watch?v=n-cD4oLk_D0
Some Girls are Bigger the Others
Assim termina o disco. Mais um grande exemplo da dicotomia presente ao longo do álbum entre leveza e tensão. No meio de tantas canções magistrais, é fácil descartar esta canção como menor, mas as nuances ao longo do tema, que começam logo no falso arranque, dão-lhe uma dimensão que transcende o rótulo pop que tantas vezes lhe é atribuído.
https://www.youtube.com/watch?v=zH18_dZIYOE