O governo russo usava alguns métodos para tornar mais de 300 testes de doping positivos em negativos, e aqueles foram tornados públicos nesta segunda-feira, após o pedido de exclusão da Rússia dos Jogos que se realizam no Rio de Janeiro, no Brasil. O esquema foi utilizado entre 2011 e 2015 e Travis Tygart, presidente da agencia anti-doping dos EUA, conta-o ao El País. Qualifica-o de um “nível alucinante de corrupção”, pedindo a exclusão da Rússia dos Jogos Olímpicos 2016.
O sistema de dopagem utilizado visava fazer desaparecer os resultados positivos dos atletas junto das agências e federações internacionais, sendo que foram detetados 312 casos que sofreram alterações em duas dezenas de modalidades.
As amostras eram submetidas a controlos fora da competição e chegavam a um laboratório em Moscovo. O diretor deste laboratório, Grigory Rodchenkov, analisava os testes e, quando encontrava algum com um resultado positivo, contactava a agência de antidopagem russa para saber a quem correspondia a amostra. Depois, contactava o vice-ministro russo do Desporto, Yuri Nagornykh, para informar que determinado atleta tinha testes positivos de doping. Este apenas transmitia uma de duas possíveis palavras de código: salvo ou quarentena. Se respondesse “salvo”, o diretor do laboratório reportava a amostra como negativa ao sistema informativo e tinha de falsificar o relatório do laboratório. Caso dissesse “quarentena”, o caso seguia em frente e não era feita qualquer alteração do processo.
O número de “salvos” foi de 577, sendo que 312 casos eram referentes aos melhores atletas russos, que poderiam ambicionar uma medalha. Praticamente todos os desportos olímpicos de verão foram afetados. No atletismo foram descobertos 139 casos e 117 no halterofilismo. O futebol teve 18 casos e o ciclismo 27.
Durante os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, em Sóchi, Rússia, o Serviço Federal de Segurança russo construiu um edifício muito próximo do laboratório onde eram feitas as análise de doping. Foi então criada uma ligação entre os dois edifícios que permitia trocar os frascos com a urina dos jogadores dopados, substituir as amostras e torná-las negativas. Rodchenkov sabia a quem pertenciam as amostras porque os atletas fotografavam os frascos e enviavam-lhe as fotografias. Quinze atletas russos foram medalhados nesta edição.