O grupo chinês Fosun, que já detém a seguradora Fidelidade e a Luz Saúde (Hospital da Luz), está disponível para comprar 16,7% do BCP através de um aumento de capital, informou o Millennium através de um comunicado enviado à CMVM este sábado. A realizar-se, a entrada no capital do banco português será feita diretamente pela Fosun, sem qualquer participação da seguradora Fidelidade, disse ao Observador uma fonte do grupo chinês.
Segundo o texto, a Fosun está a considerar adquirir entre 20% a 30% do banco. No entanto, impõe várias condições para concretizar o negócio: a não oposição do supervisor bancário, que neste caso é o Banco Central Europeu, e a conclusão das discussões com a Comissão Europeia a propósito da ajuda pública que o BCP recebeu e que ainda não reembolsou na totalidade.
Esta proposta insere-se na estratégia da Fosun, de “investir a longo prazo” em Portugal, diz ao Observador uma fonte da Fosun. “E só faz sentido se todos os acionistas estiverem de acordo”, acrescenta. A intenção do grupo chinês será manter os acionistas que já estão no banco, e entrar no capital sem que isso implique a saída de qualquer um deles.
A Fosun quer ainda garantias sobre as contribuições futuras que o BCP terá de fazer para o Fundo de Resolução. Exige que não seja cobrado nenhuma contribuição extraordinária, que pode ser pedida para cobrir eventuais perdas na venda do Novo Banco. E quer que o BCP reconheça já nas contas as contribuições regulares futuras para o Fundo de Resolução.
As outras condições são: a concretização do processo de reverse stock split já aprovado em assembleia geral, uma participação até 30% e um aumento de capital reservado à subscrição da Fosun a um preço até 0,02 euros, já depois de registada a redução do número de ações. Esta proposta, a concretizar-se, fará do grupo chinês o maior acionista do BCP, ultrapassando a angolana Sonangol.
A Fosun tinha apresentado uma proposta para o Novo Banco no ano passado, mas este ano não fez qualquer oferta. Apesar do interesse passado no setor financeiro português, a proposta feita pelo grupo chinês para o BCP não deixa de ser algo inesperada, sobretudo depois de a Fosun ter anunciado há cerca de um ano que ia travar a política agressiva de expansão por aquisições que conduziu nos anos recentes, para consolidar as operações adquiririas. Alguns destes negócios foram realizados através dos recursos da Fidelidade.
O desaparecimento do fundador da Fosun no final do ano passado — soube-se depois que foi interrogado pelas autoridades chinesas numa campanha interna contra a corrupção — colocou também interrogações sobre a estratégia futura do grupo chinês que foi um dos maiores investidores estrangeiros em Portugal em 2013 e 2014.
A proposta do grupo chinês surge num período de forte pressão bolsista sobre o BCP cujo valor em bolsa tem sofrido uma acentuada desvalorização por causa dos receios dos investidores quanto à necessidade de um aumento de capital.
Esta sexta-feira, o banco voltou a apresentar prejuízos, 197,3 milhões de euros no primeiro semestre devido sobretudo a imparidades de crédito, tendo também anunciado resultados positivos nos testes de stress.